quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Portugal, Património Natural

 
 Portugal, Património Natural 

O Reino Lusitano

Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa , toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floreça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora; e lá, na ardente
África, estar quieto o não consente.

Esta é a ditosa Pátria minha amada,
A qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne , com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
esta foi Lusitânia, derivada
De Luso ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela, antam, os íncolas primeiro.
Luís de Camões, in " Os Lusíadas- Canto III ", Emp. Literária Fluminense, LD

PORTUGAL
por Miguel Torga
"Há nações que nascem feitas e nações que se fazem. Portugal é das que se fizeram, contra todos e contra tudo, e nunca teve sossego nas fronteiras que chegaram a situar-se nos cinco continentes. Começou o seu caminho independente nas brumas da pré-história, dolménico, litoral magro, debruado por um mar aberto e convidativo, que navegou desde logo em todas as direcções e transformou mais tarde no palco de uma das maiores façanhas de que a civilização ocidental se pode orgulhar . Microcosmos variegado, ora montanhoso, ora ondulado e plano, de cada miradoiro é inédito e diverso. Árido aqui, verdejante ali, terroso acolá, passeá-lo é conhecer em miniatura as feições aráveis da Terra. Sulcado por rios líricos ou dramáticos , consoante o leito, espelha-se neles ao natural o perfil da paisagem. Um Minho bucólico, uma Estremadura monumental , um Ribatejo toureiro. Invadido sucessivamente por muitos povos , a nenhum se submeteu inteiramente. Antes pelo contrário, resistiu-lhes a conviver . Na essência, permaneceu o mesmo, dono e senhor da sua personalidade profunda, livre , visionário, aventureiro, obstinado. E sempre cordial. Quem percorre o país de norte a sul pode queixar-se de tudo, menos dos panoramas e , ainda menos, das gentes. Austeras em Trás-os Montes, sóbrias nas Beiras, graves no Alentejo, reservadas no Algarve, identifica-as, no entanto, a mesma índole solícita, prestante, disponível. Criaturas simples, chegadas ao húmus, tudo nelas tem ainda o sabor saudável do autêntico e primordial. Na maneira como trabalham, cantam, dançam, rememoram. O observador autêntico pode descobrir os sinais vivazes de uma sã tradição rural, comunitária, o vizinho a dar a mão ao vizinho, o velho a ensinar o novo, o prudente a avisar os incautos(...)"
Miguel Torga, in "Obra completa , Diário XV" , Círculo de Leitores,

Sem comentários:

Enviar um comentário