sábado, 14 de abril de 2018

Sabedoria

Portalegre, 3 de Maio de 1966
"Pedem-me uma definição de Poesia para um pequeno jornal cujos leitores são de muita modesta cultura!
Não consigo senão isto: 
«Limitar-me-ei aqui  a dizer que Poesia é o que há  de mais íntimo, secreto, misterioso, em todas as coisas,  - ou o sentimento que nós temos de isso. Pelo que há de mais íntimo, secreto, misterioso em todas as coisas,  se estabelecem entre elas relações que os Poetas captam, e procuram exprimir por meio da palavra."
José Régio, in "Páginas do Diário Íntimo", Círculo de Leitores", 1994,
p 397

SABEDORIA

Desde que tudo  me cansa,
Comecei eu a viver.
Comecei a viver sem esperança...
E venha a morte quando Deus quiser.

Dantes, ou muito ou pouco,
Sempre esperara:
às vezes, tanto, que o meu sonho louco
Voava das estrelas à mais rara;
Outras, tão pouco,
Que ninguém mais com tal se conformara.

Hoje , é que nada espero.
Para quê, esperar?
Sei que já nada é meu senão se o não tiver;
Se quero, é só enquanto apenas quero;
Só de longe, e secreto, é que inda posso amar...
E venha a morte quando Deus quiser.

Mas, com isto, que têm as estrelas?
Continuam brilhando, altas e belas.
José Régio, in "A Chaga do Lado", Portugália Editora, pp.67,68

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