terça-feira, 30 de abril de 2013

A crise de confiança dos europeus


Em crise, a Europa funciona sobretudo mal
"Na sua quarta edição, o Europa, o suplemento publicado conjuntamente pelos jornais Gazeta Wyborcza, The Guardian, Le Monde, El País, La Stampa e Süddeutsche Zeitung debruça-se sobre a crise de confiança dos europeus relativamente à União Europeia, que, como revelou o último Eurobarómetro, atingiu um ponto alto. Este eurocepticismo, escreve o diário francês, sob as suas múltiplas formas, populismo, nacionalismo, desconfiança, ressentimento, revolta, propagou-se a toda a Europa. Durante muito tempo, foi apanágio dos britânicos. Agora, está na origem da revolta grega, do caos político italiano, da decepção francesa, da frustração dos alemães, sobre os quais, neste momento, se concentra a hostilidade.
Esse sentimento é partilhado por Mario Calabresi, director do diário La Stampa, segundo o qual estamos em ponto morto, sem uma ideia forte, capaz de nos dar esperança e, sobretudo, mais divididos do que nunca. […] A crise da construção europeia e o facto de as nossas sociedades e o nosso modelo social se encontrarem fechados sobre si mesmos fizeram ressurgir os egoísmos e os velhos rancores. A religião única da austeridade não conquistou as mentes mas tornou frios os corações e afastou os povos.
Segundo a análise dos investigadores Mark Leonard e José Ignacio Torreblanca publicada no jornal El País, a razão da situação actual reside, em grande parte, no facto de,com o pacto orçamental e a exigência do Banco Central Europeu de que se levem a cabo reformas de grande amplitude em todos os países, os eurocratas terem ultrapassado muitas linhas vermelhas em matéria de soberania nacional e invadido domínios que vão muito além das normas de segurança alimentar, passando a controlar as pensões, os impostos, os salários, o mercado de trabalho e os funcionários da Administração Pública. Ou seja, domínios que constituem o núcleo dos Estados-Providência e das identidades nacionais. […] Nesta nova situação, os governos sucedem-se mas as políticas continuam a ser basicamente as mesmas, não podendo ser postas em causa.
Será que esta tendência acabará por prejudicar a União? “Toda a gente espera que, com o regresso do crescimento, o eurocepticismo acabe por refluir”, escrevem Leonard e Torreblanca. No entanto, segundo ambos, o entusiasmo europeísta não renascerá, se a UE não mudar radicalmente a sua forma de se relacionar com os Estados-membros e com os seus cidadãos.
Esse “choque de democracias”, essa oposição Norte-Sul, representa de facto a Europa a duas velocidades, de que se falava, no passado, no que se referia à defesa, à política externa ou à livre circulação, salientadirectora-adjunta do diário espanhol, Berna González-Harbour. Essa Europa a duas velocidades é hoje uma realidade trágica, que nem sequer consegue adoptar a forma mais pacífica de duas [linhas] paralelas, que, apesar de nunca se encontrarem, também não colidem. As direcções são divergentes e as duas avançam, na melhor das hipóteses, para o desencontro.
Entretanto, as seis publicações parceiras apresentam algumas propostas para ajudar a UE a sair do impasse, que são resumidas pelo diário britânico The Guardian. Estas vão da eliminação das duas sedes do Parlamento Europeu à constituição de um exército europeu, passando por uma “Eur-app” para tablets e smartphones e por “uma ideia mestra, que dê aos europeus símbolos e objectivos que suscitem emoções, ligação e solidariedade”. Presseurop, 25 Abril 2013

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