domingo, 17 de janeiro de 2010

Miguel Torga morreu há 15 anos


Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia Rocha, (São Martinho de Anta, Vila Real, 12 de Agosto de 1907 — Coimbra, 17 de Janeiro de 1995), morreu há quinze anos.
Recordá-lo através da sua poesia é sempre um pretexto para um novo reencontro com a arte da palavra.

UM POEMA
Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...

Miguel Torga, in "Diário XIII", 7/10/79

AMEAÇA DE MORTE

Não basta ter-me dado nos meus versos:
pedem a carne e a pele, os inimigos.
Os olhos, dois postigos
de olhar o mundo sem ninguém me ver,
querem-nos entaipados;
e quebrados
os braços, que eram ramos a crescer.

Luto, digo que não, peço socorro,
mas saiu-me ao caminho uma alcateia.
Lobos da liberdade alheia
que me seguem os passos hora a hora,
sem que eu possa sequer adivinhar,
na paisagem de medo tumular,
qual deles salta primeiro e me devora.

Miguel Torga , in "Orpheu Rebelde " 1958

1 comentário:

  1. Miguel Torga será sempre um grande da nossa Literatura. Nunca é demais recordá-lo. Cada poema é um hino.

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