terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Autobiografia

Autobiografia
 
Uma vida escreve-se devagar,
embora se viva muito depressa:
mal se partiu, já se está a chegar,
mesmo que, no meio, muito aconteça!
 
Escrevê-la é moroso e complicado:
a memória guarda mas também esquece
e, se parte fica resguardado,
o resto, ingloriamente, fenece!
 
Escreve-se a vida, pra vencer a morte,
para dar à vida uma outra vida,
fechando-a, enfim, num cofre forte.
 
No cofre guardada e não esquecida,
pensa quem escreve, mal sabendo
quanto tudo o tempo vai roendo!
                                  08.12.2022
Eugénio Lisboa
 

Duzentos Anos de Amor

Um dia de manhã, cheguei à porta
da casa da Senhora de Rênal.
Temeroso e de alma semimorta,
deparei com seu rosto angelical.

O seu modo e a sua doçura
de tal modo me apaziguaram,
naquela inesperada conjuntura,
que os meus temores se dissiparam.

De acalmado e grato que eu estava,
depressa me apercebi que ela
era um tesouro que encontrava!

Há duzentos anos, numa novela,
encontrei-a e descobri o amor
vestido de fervor e de pudor!
                  11.12. 2022
Eugénio Lisboa

A Senhora de Rênal é, como todos sabem, a admirável protagonista do romance de Stendhal, LE ROUGE ET LE NOIR. Como se deduz do meu soneto, sempre considerei o protagonista Julien Sorel indigno dela e apressei-me a ocupar o lugar dele no grande romance de Stendhal, porque é óbvio que, de mim, é que ela gostava e não dele.

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