quarta-feira, 13 de abril de 2016

A propósito do Amor


 
Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação.  E neste espaço o amor só sobrevive graças a algo que se chama fidelidade: a espera do regresso. De alguma forma a gota da chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora.  Morte e ressurreição. Na dialética do amor, a própria dialética divina.  Quem não pode suportar a dor da separação não esta preparado para o amor. Porque amor é algo que não se tem nunca. É o vento de graça.  Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. E quando ele volta, a alegria volta com ele. E sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro.
Rubem Alves, em "Onde mora o Amor", do livro 'Tempus Fugit'. São Paulo: Edições Paulus, 1990. 
Nevoeiro
O amor não é
nem paz nem batalha
nem fogo amealhado
na escura fornalha.

O amor é nevoeiro
a branquidão que esconde
a pedra suspensa
no despenhadeiro.

 E sendo sempre tudo
como o sonho dos mudos
o amor não é nada

diante da morte
do vento que sopra
de madrugada.
Lêdo Ivo, in "Curral de Peixe", 1995, Ed. Topbooks
Renoir
Andávamos sem nos procurar, mas sabendo sempre que andávamos para nos encontrar.
Julio Cortázar, in "O jogo da amarelinha" (Rayuela). São Paulo: Abril Cultural, 1985. — v. 1, p. 19
Almada Negreiros
UM DIA NÃO MUITO LONGE NÃO MUITO PERTO
Às vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim
Um dia não muito longe não muito perto
um dia muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te já que tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer
hás-de dizer que pareço morto
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada pra te dizer
um pouco farto não muito hirto e vagamente absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que hei-de estar morto?
Ruy Belo, in Homem de Palavra[s], 5.ª edição, introdução de Margarida Braga Neves, Junho de 1997, Editorial Presença, p. 83.
       Nous connaitrons la lune et nous ne connaissons pas l'homme. 
                                                    Henry de  Montherlant
Há um tempo em que somos desejados. O ar sufoca sem  a nossa presença.
Há um tempo em que somos indesejáveis. O ar respira-se com a nossa ausência.
Saber aceitar esta verdade exige tempo. Mas todos os tempos chegam a um tempo. O tempo de vencer ou o tempo de perder.
Amo-te muito, meu amor, e tanto

Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.
Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,
um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo
tão quase é coisa ou sucessão que passa...
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.

Jorge de Sena, in  "As evidências,1955,-  Poesia I", Edições 70
"Procurar-te-ei. No Mar que te enfrenta, no ar que te sustém, na luz que te ilumina, na lonjura que te retém.
Procurar-te-ei. No sempre do dia que se faz, na noite que se constrói, nos momentos que passam , nos segundos que não chegam e nas horas que  te prometo.
Procurar-te-ei. Não sei como e nem sei porquê.
Procurar-te-ei. E se mo disseres, ficarei." 
Maria José Soares de Moura, in " Poemas da Terra e do Mar"

(…)faríamos do sonho e do amor
não apenas esta renda serena de espera,
mas um sol sobre dunas e limpo mar, imóvel,
alto, completo, eterno,
e não o pranto humano.” 
Alberto Costa e Silva ( poeta brasileiro)

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