
Por entre os mares da vida
Rios da memória inferida
Recordo os dias de Inverno
Em que líquidos eram os sonhos
Espraiando as névoas do desejo.
Imaginava o mundo em brocados
Coloridos por pincéis orvalhados
Numa litania imensa, infindável
Do presente, do futuro, do passado.
Chapinhando ermo me deleitava
Ao som das bátegas gritava
Mais alto o clamor da inocência
Transformar o frio gélido da noite
Em calor ardente, diurno, transparente.
O presente chegou, o passado esvaiu-se
E o futuro nebuloso dirimiu-se
Em histórias, peripécias, devaneios
De brocados partidos, desbotados.
No oceano de mares em fúria,
Afundei o destino da incúria
Que para nós fora marcado
Pela mão da cobiça, do apátrida,
Da assassina ganância humana.
E por ti, meu irmão desconhecido
Que me esperas já encanecido
Eis-me, aqui, do mar aportado
Fraterno e frágil, mas não derrotado!
M.J. Soares de Moura, in "Poesias do Mar e da Terra"
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