domingo, 27 de março de 2016

Ao Domingo Há música

It's Time to Be Clear

Os que falam de mim dizem que sou pobre
Existo à maneira de uma árvore
Tenho diante e atrás de mim a noite eterna
Vacilo, duvido, resvalo
E sei: a maior parte das vezes o amor nasce do erro
transcreve-se a azul ou a negro
sobre passagens, casas inacabadas, alturas remotas
(...)
José Tolentino Mendonça, in Estação central, Ed. Assírio&Alvim, 2012 

Tentar . Arriscar. Ousar. Apostar. Aprender. Dar. Amar. Celebrar.  Acções que contrariam a inércia  e impedem  que   a vida seja , apenas,    o sopro que nos mantém, transcrito numa cor parda, indefinida.  
Páscoa , Domingo , dia de celebração da vida  que renasce após o erro e se deve  transcrever radiosa , engalanada de várias e  intensas cores.
Para o festejar , os sons chegam na arte de Alison Balsom, uma popular trompetista de música clássica. Ao longo dos anos, tem apresentado um repertório diverso que abrange várias épocas e seus mais representativos compositores. Da gloriosa era do Barroco, escolheu   as árias onde o trompete pode ser  o herói. George Frideric Handel (1685-1759) e Henry Purcell (1658 ou 1659-1695) foram  alvo do seu trabalho . Coadjuvada pelo Maestro  Trevor Pinnock , um especialista nesta área, agregou também as vozes do   countertenor, Iestyn Davies e da soprano Lucy Crowe para adaptação e interpretação de algumas peças.
Sound the trumpet de Henry Purcell , na voz do countertenor Iestyn Davies, em contenda com o virtuosismo de Alison Balsom no trompete e a orquestra English Concert, regida pelo seu fundador, o Maestro Trevor Pinnock.


George Frideric Handel (1685-1759) em   Eternal Source of Light Divine, num extraordinário  dueto entre  o countertenor Iestyn Davies e Alison Balsom no trompete,  acompanhado pela orquestra English Concert, regida pelo Maestro Trevor Pinnock.

"Não há muito repertório para um trompetista porque, até ao século XIX, o trompete não tinha pistões. É a partir daqui que estes músicos passam a tocar notas às quais não conseguiam chegar.
Talvez por isso não haja concertos de Beethoven ou Mozart escritos para trompete. Alison Balsom ultrapassa esta barreira transcrevendo peças que foram compostas para outros instrumentos.
Para a trompetista o desafio é que não foram escritos para o trompete “e não quero deixar de fora nada do original. Adoro as peças que transcrevo são obras-primas e não o faço por fazer, quero que o meu trabalho tenha algum valor”, acrescenta. “Adoro o período barroco por causa da sua resplandecência, um tipo de perfeição limpa em tudo. A maior parte está, perfeitamente, estruturada mas, mesmo assim, pode tocar profundamente as emoções”, diz Balsom."

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