sexta-feira, 28 de outubro de 2016

As palavras não se rendem

Há dias em que o lápis não tem jeito. É o papel que se tornou áspero, é a mão que não o apanha, é o dia que complica e a luz  que não basta. Esconde-se. E, atordoado, rejeita qualquer uso. 
As palavras, que se encarreiravam já perfiladas para a acção, recolhem-se circunspectas, em abstinência imposta.  A falta que lhes faz um passeio,  em jogos de composição, que um bom lápis sabe arquitectar.
O dia esmorece-lhes sem que tenha despontado. O tempo recua ao silêncio do abandono. Cinzento e pesado, estreita qualquer passagem. Prolonga-se, então, a saudade de  outros dias. 
As palavras não se rendem. Há sempre um outro amanhã num hoje silenciado por um qualquer lápis.

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