domingo, 17 de abril de 2016

Ao Domingo Há Música

Foi então que sobreveio o incêndio do Reichstag: o parlamento foi extinto, Göring soltou as suas hordas , de uma penada o Estado de direito foi suprimido na Alemanha. As pessoas, horrorizadas,  ficaram a saber que havia  campos de concentração em pleno período de paz (…)Coisas dessas não podiam durar muito em pleno século XX. (...) O mundo começou a prestar atenção e, de início, recusou acreditar no inacreditável. Mas logo por esses dias tive oportunidade de ver os primeiros refugiados. Tinham atravessado as montanhas de Salzburgo durante a noite e passado a nado o rio que fazia fronteira. Esfomeados esfarrapados, perturbados, fixavam os olhos em nós; eles tinham sido os primeiros a fugir em pânico da desumanidade que se viria a espalhar por todo o globo. 
Stefan Zweig, in "(Incipit Hitler) - O mundo de ontem, recordações de um europeu", Ed. Assírio&Alvim, p.424
                  
Ontem, 16 de Abril, festejou-se o dia mundial  da voz. Há várias formas de dar relevância  a esta celebração . Num tempo em que muitas vozes não têm voz, o  Papa Francisco visitou os refugiados  e  permitiu que se soltassem as vozes de quem já não tem chão e procura tecto. Escutou-os. Oxalá todos os soubessem ouvir. Oxalá todos se juntassem à voz da razão. Oxalá o mundo acordasse. Oxalá! 
E nós que, neste fado português, já nos refugiámos por esse mundo em demanda de novas terras, de novos caminhos, de novos tectos, de outra forma de vida que desse voz a um futuro diferente e digno. Há em nós muitos daqueles rostos que desejam apenas ter voz numa vida que lhes pertence
Hoje, as vozes que chegam são vozes que também  andaram pelo mundo. Levaram sonho, alegria, emoção, prazer , devaneio, esperança a todos aqueles que nunca deixarão de  as aplaudir. São vozes intemporais  que jamais serão  esquecidas. 
Há outras. Escolhi estas. O  tempo  nem sempre dá  espaço  para  que as vozes cantem  num só tempo.


O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
(...)
Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro veleiro
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
(...)
Poema  de José Régio
Música de Alain Oulman


Amália Rodrigues, a voz que sempre celebraremos, num dos fados mais belos da sua discografia: Fado Português . Fado que traz um poema de José Régio, um dos maiores poetas de sempre, e a música de um  estudioso e apaixonado pela canto da Severa , Alain Oulman.

And now, the end is here
And so I face the final curtain
My friend, I'll say it clear
I'll state my case, of which I'm certain
I've lived a life that's full
I traveled each and ev'ry highway
And more, much more than this, I did it my way

Regrets, I've had a few

But then again, too few to mention
I did what I had to do and saw it through without exemption
I planned each charted course, each careful step along the byway
And more, much more than this, I did it my way
Frank Sinatra, The Voice,  que encantou o mundo, em " My way".

Nina Simone , uma voz singular, na magnífica canção " Feeling Good"
Tony Bennett &Aretha Franklin , vozes maiores do mundo,  em How Do You Keep The Music Playing. (C) 2012 Columbia Records

A grandiosa   e imortal voz de Pavarotti, em " Nessun Dorma " da ópera "Turandot" de Giacomo Puccini.
O talento de Zeca Afonso, a voz que marcou um país, na mais famosa canção de resistência : Grândola, Vila Morena.

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