segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O acordo do nosso desacordo

Professores brasileiros avaliam em Portugal reabertura de discussões sobre Acordo Ortográfico
"A senadora defende assim a reabertura das discussões, entre todas as nações lusófonas, para a criação de um acordo que seja "fruto de um entendimento geral" e consensual para que nenhum dos países se sinta prejudicado.
Dois conceituados professores de língua portuguesa do Brasil reunir-se-ão, em Novembro, em Lisboa, com representantes de Portugal, para avaliar a possibilidade de reabrir as discussões sobre o Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa, disse à Lusa fonte oficial brasileira.
A informação foi adiantada à Lusa pela senadora brasileira Ana Amélia Lemos, responsável pelo projecto de lei que adiou, em Dezembro do ano passado, a entrada em vigor do Acordo Ortográfico no Brasil.
O acordo, assinado em 1990 pelos países de língua portuguesa, foi ratificado pelo Brasil em 2008, pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com previsão de passar por um período de adaptação, até Dezembro de 2012, quando as duas normas seriam aceites, entrando oficialmente em vigor a partir de Janeiro deste ano.
Face à proximidade do fim do período de transição, no entanto, a senadora brasileira, individualmente, e também através da Comissão de Educação do Senado, sugeriu à Presidência uma prorrogação desse limite, tendo em conta a falta de consenso nos restantes países lusófonos.
De acordo com a parlamentar, o próximo passo agora será a reunião entre os professores brasileiros Ernani Pimentel e Pasquale Cipro Neto com representantes portugueses para avaliar se há disposição em reabrir o debate sobre o acordo.
Os dois professores fazem parte do grupo de trabalho criado este mês pela Comissão de Educação do Senado brasileiro para tratar sobre o tema.
Em Portugal, por sua vez, há uma petição na Assembleia da República, pedindo que o país se retire do Acordo. A intenção dos representantes brasileiros é encontrar-se com os membros do parlamento português para mostrar que "há possibilidades de os dois países trabalharem juntos".
De acordo com um dos professores envolvidos, Ernani Pimentel, a visita será feita entre 14 e 28 de Novembro com previsão de encontros com a Comissão de Educação da Assembleia da República portuguesa, bem como grupos de estudantes, jornalistas e professores.
"Prontificamos a nos reunir com grupos de estudantes, jornalistas e professores com a finalidade de trocar de perto experiências, identificar o máximo de divergências e procurar o máximo de convergências", afirmou Ernani Pimentel à Lusa." Jornal I,27/10/2013
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 O Acordo Ortográfico tem sido um dos flagelos  que tem vitimado a Língua Portuguesa, nos últimos anos
À volta de uma unificação que nunca existirá, a expressão ortográfica da nossa língua está já em processo de alteração , o que  faz dela algo que, tal como o país, já não nos é familiar. A identidade de um povo traduz-se em múltiplos traços. E o pior que lhe pode acontecer é sentir-se mutilada , amputada ou violentada. A inutilidade de um acordo ortográfico fez emergir divisões e dissidências  que não existiam. 
Dissertámos, reflectimos e publicámos algumas opiniões sobre este indesejável Acordo. Hoje, a propósito da Notícia do Jornal I , reactivamo-lo e transcrevemos alguns excertos da reflexão  de Eugénio Lisboa, extraídos do  Jl de 13-16 Agosto 2008
A minha opinião sobre o Acordo Ortográfico é simples e transparente: trata-se de um exercício tão monumentalmente fútil quanto dispendioso. Um formidável desperdício que nunca resolverá o problema que ostensivamente visa resolver: a “defesa da unidade essencial da língua portuguesa” (cito João Malaca Casteleiro e faço notar que ele não fala em “unidade ortográfica” mas sim em “unidade essencial da língua portuguesa”).
A minha questão é só uma: como é que a unificação, aliás relativa, da ortografia – que não passa de uma simples convenção de escrita – pode ambiciosamente significar “a unidade essencial da língua portuguesa”, quando a gramática e uma parte substancial do glossário não farão outra coisa que não seja divergirem alegre e abundantemente, entre os sete países da CPLP?
 Divergência, aliás salutar, por significar maior diversidade e riqueza… (….)
“O segundo motivo”, pondera o ilustre campeador do Acordo, “relaciona-se com a política externa do idioma. Do ponto de vista internacional, a escolha entre duas ortografias oficiais pode levantar problemas diplomáticos delicados e mesmo insolúveis.”
E curioso que possa levantar mas que até hoje não tenha levantado.
 (…)Tenhamos a coragem de admitir, de uma vez por todas, que há um português ortónimo – o que se fala e escreve em Portugal – e vários portugueses heterónimos (os que se falam no Brasil, em Moçambique, em Angola, etc.) que se falam e que se escrevem.
Apagar esta heteronímia, tentar fingir que o português é só um, por via de uma tímida e ridícula unificação ortográfica, é querer tapar o sol com uma peneira.
Acham, a sério, que se pode confundir uma uniformização ortográfica com a “unidade essencial da língua”?
Que “E embolaram” é da mesma língua que diz: “E pegaram-se à zaragata”? A sério que acham? Num tá bom da bola! (…)”Eugénio Lisboa , JL de 13-16 Agosto 2008

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