terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O 4 de Fevereiro em Angola


CRIAR

criar criar
criar no espírito criar no músculo criar no nervo
criar no homem criar na massa
criar
criar com os olhos secos

Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a fortaleza impúdica do chicote
criar sobre o perfume dos troncos serrados
criar
criar com os olhos secos

Criar criar
gargalhadas sobre o escárnio da palmatória
coragem nas pontas das botas do roceiro
força no esfrangalhado das portas violentadas
firmeza no vermelho sangue da insegurança
criar
criar com os olhos secos

Criar criar
estrelas sobre o camartelo guerreiro
paz sobre o choro das crianças
paz sobre o suor sobre a lágrima do contrato
paz sobre o ódio
criar
criar paz com os olhos secos

Criar criar
criar liberdade nas estradas escravas
algemas de amor nos caminhos paganizados do amor
sons festivos sobre o balanceio dos corpos em forcas simuladas
criar
criar amor com os olhos secos.
Agostinho Neto, in " Poesia de Angola", publicado pela República Popular de Angola, 1976
Angola celebra , hoje, uma data importante da sua história. Conferimos alguns órgãos noticiosos angolanos e retirámos a seguinte informação:
"O 4 de Fevereiro é considerado um marco importante da luta africana contra o colonialismo
Na madrugada de 4 de Fevereiro de 1961, um grupo de homens e mulheres, munidos de paus, catanas e outras armas brancas, atacou a casa de reclusão e a cadeia de São Paulo, em Luanda, para libertar presos políticos ameaçados de morte.
Em resposta ao ataque, o regime colonial-fascista reagiu brutalmente com uma acção de repressão em todo o país, com assassinatos, torturas e detenções arbitrárias.
Essas prisões e assassinatos de pessoas indefesas levou alguns nacionalistas a organizarem-se para a luta de libertação.
Os preparativos da acção tiveram início em 1958, em Luanda, com a criação de dois grupos clandestinos, um abrangendo os subúrbios e outro a zona urbana, coordenados por Paiva Domingos da Silva, Imperial Santana, Virgílio Sotto Mayor e Neves Bendinha (já falecidos).
A acção inseriu-se também nos anseios da população e na necessidade de se passar a formas de luta que correspondessem à rigidez da administração colonial. Para tal, valeu a colaboração de Cónego Manuel das Neves e outros combatentes.
O 4 de Fevereiro de 1961 é considerado um marco importante da luta africana contra o colonialismo, numa tradição de resistência contra a ocupação que vinha desde os povos de Kassanje, do Ndongo e do Planalto Central.
Os primeiros relatos de realce de resistência à ocupação colonial datam dos séculos XVI e XVII (1559-1600 e 1625-1656), conduzidos por Ngola Kiluanje e Njinga Mbandi.
Os acontecimentos de Fevereiro de 1961 traduziram-se assim numa sublime expressão de nacionalismo, demonstrada pelos angolanos.
A província do Uíge acolhe o acto central do 53º aniversário do 4 de Fevereiro com actividades diversas, sob o lema “Com o espírito de Fevereiro, trabalhemos para a estabilidade, crescimento e emprego”. Angop

1 comentário:

  1. vivia lá por perto, da 7ª esquadra, puto ainda, 12 anos, mas lembro-me das ressonâncias...o colonialismo questionado, atacado, a reacção feroz...o medo.
    o inicio da criação duma "Angola renovada" (isto comecei a perceber um pouco mais tarde...na onda curta da Rádio Portugal Livre...nas conversas com os amigos-colegas dos ultimos anos do LIceu e os primeiros dos EGUA...aquilo é que eram tempos...

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