sexta-feira, 25 de maio de 2012

82º aniversário de Eugénio Lisboa

Eugénio Lisboa nasceu a  25 de Maio de 1930, na cidade de Lourenço Marques, actualmente Maputo. Completa, hoje,  82 anos.
Recordar o seu aniversário é homenagear a Literatura Portuguesa. Poesia, Crítica , Ensaio, Crónica são alguns dos géneros literários cultivados por Eugénio Lisboa. Mestre da exigência e da perfeição produziu uma vasta obra que retrata um percurso brilhante e inovador.
Nas palavras da Professora Otília Martins, «do conjunto das actividades do engenheiro, com alma de poeta e defensor de uma cultura humanista e universal, ressalta a impressão de diversidade, totalidade, complexidade, tendo, no domínio da crítica literária, participado mesmo de uma verdadeira ‘inovação’, para não dizer ‘revolução’». A docente da Universidade de Aveiro acrescenta ainda que «de um envolvimento inicial nas diversas “ciências duras” até à paixão pelas ciências humanas, o percurso de Eugénio Lisboa foi profundamente marcado pelo modo como soube conciliar o ‘uno e o diverso’. Enfim, como o descreve Ernesto Rodrigues, Eugénio Lisboa é ‘vário, intrépido e fecundo’».
Palavras que remetem para o livro intitulado «Eugénio Lisboa: Vário, Intrépido e Fecundo – Uma Homenagem», apresentado na Universidade de Aveiro  em sessão aberta ao público, realizada no dia 22 de Outubro de 2011. Sessão que teve como objectivo   prestar  homenagem a Eugénio Lisboa, pela sua excepcional trajectória académica e científica. Eugénio Lisboa "ocupou, entre 1996 e 2002, o lugar de Professor Catedrático Visitante, leccionando, no Departamento de Línguas e Culturas, as disciplinas de Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa que   muito contribuiu para prestigiar a Universidade de Aveiro".
«Como professor, como escritor, como conviva, busquei sempre incitar os meus alunos, os meus leitores, os meus amigos e convivas a ‘não irem nisso`, a pensarem por si, a exercerem o espírito crítico, a não aceitarem a tirania dos ventos que sopram (…), a verificarem por si se, por acaso, o rei não vai nu», afirma Eugénio Lisboa.
Personalidade maior  das nossos Letras, homem sensível e defensor de grandes causas, Eugénio Lisboa é um artífice da palavra. A poesia é-lhe natural quer a nível da crítica, quer a nível da produção. Segundo as suas próprias palavras "Ser poeta é reinventar a frescura duas vezes : no modo como se vê o mundo e no modo como se entrega àquilo que se vê como se fosse a primeira vez."

Estão podres as Palavras
( A Jorge de Sena)


Estão podres as palavras, Jorge.
De passarem por sórdidas mentiras...
Assim o dizes e não pões nem tiras
Ao rio inventário do teu denso alforge
De palavras talhadas em duro corno
A doçura de uma vírgula que pudesse
Iludir a corrupção que aqui comece
Minando de cuspo a pureza em torno.
Mentem os que falam e os que se calam
Mentem os que ficam e os que se vão
Agitam-se os cobardes em fresca encarnação
Da nova coragem com que já abalam.
Que merda de gente ó filho de Camões!
Junto de um seco fero estéril monte
Para onde me retiro, olho e vejo a ponte
Por onde fogem os altos sonoros campeões!
Usá-las puras as palavras—dizes...
Que pureza desta língua envilecida
Por mil flexões de prostituta ardida?
Língua coleante, dupla, rica de matizes...
Possam as palavras ficar enfim erguidas
Um dia como torres entre céu e terra!
Façamos com elas a nossa guerra.
Eugénio Lisboa, in "Cultura e Arte do Jornal Notícias da Beira (página quinzenal de divulgação),  Moçambique,  24 de Janeiro de 1975

É grande o Homem que sabe desafiar o mundo e agitar as mentes através das palavras.Para ele a nossa sempre e honrosa homenagem.
Parabéns.

1 comentário:

  1. Muito oportuno este "lembrete" ou esta abordagem em "livres Pensantes" sobre o engenheiro, escritor, poeta, professor e crítico literário Eugénio Lisboa!... Que podemos dizer, que fuja à banalidade dos comentários usados nestas comemorações, neste caso o 82º aniversário do Eugénio?... Sabem?!... O Eugénio é um caso à parte. Pessoalmente, o Eugénio Lisboa é sempre de uma amabilidade e atenção que deixa "marca", uma "marca" positiva e inolvidável em quem quer que seja. Ninguém o pode negar. É um facto. E mais... É difícil não gostar deste grande Mestre! Sabemos que ele não gosta que o apelidem de "Mestre". Mas, o é, na verdade! Apetece-nos celebrar tudo quanto temos aprendido com o Eugénio, especialmente através do muito que tem escrito, a todas as horas, quase que sobre "toda a gente" das Letras e das Artes... E não falamos já sobre a sua "devoção", essa dedicação ímpar ao José Régio e a toda a obra literária desta grande figura da Cultura Portuguesa. (Ao "nosso" Régio do "não vou por aí!", que depois das suas andanças por Coimbra, deambulou sempre, eternamente, entre Portalegre e Vila do Conde) Eugénio Lisboa não pode ser confundido com qualquer um!... Eugénio é único. Parabéns, Mestre!... Parabéns, sobretudo a essa sabedoria, a esse modo de ensinar, a essa humildade que é exemplo para todos nós!...

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