segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Destino

Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?

Quem diz à planta – “Floresce!” -
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?


Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?

Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem…
Ai! não mo disse ninguém.


Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino…
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

Almeida Garrett, in " Folhas Caídas", Porto Editora

2 comentários:

  1. Já repararam quanto há de moderno, de solúvel, de vivacidade, de actual na poesia portuguesa de Garrett, nestes belíssimos versos das suas "Folhas Caídas"?!... E escritos há quase dois séculos!!!... É sublime!

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  2. Admirável e encantadora a maneira como expressa através dos versos o conhecimento inato contido na essência de cada SER em destaque. Achei lindo!

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