sábado, 6 de agosto de 2011

Assim vai o Mundo

Todos os dias são relatados casos que nos espantam pela indignidade e desumanidade que encerram.No mundo, morrem todos os dias pessoas diversas. Muitas delas são vítimas de doença . E a  doença nunca é solitária. Além de ter nome e devastação, arrasta uma série de marcadores onde o mais visível  é a vulnerabilidade.
Se tivessemos conhecimento desta realidade  apenas pelos Media  seria porque nunca teríamos entrado num Centro de Saúde ou num Hospital.
Há dois dias, entrei no Serviço de Urgência de um Hospital público português para acompanhar um doente com uma crise renal. A sala de espera estava sobrelotada. Desde gente em macas a pessoas gemendo, algumas  sentadas , outras de pé porque já  não havia  cadeiras, o desamparo estava generalizado  e  era avassalador. Acabava de entrar noutro mundo. O choque que  me provoca esta realidade é sempre  violento . Eram 7 horas da tarde. Aos poucos  fiquei a saber que estavam doentes nesta sala desde as 9 horas da manhã à espera de serem atendidos, sem que fossem informados da demora  ou fossem minimamente aliviados das dores que os acometiam. Dois funcionários no balcão da recepção diziam-se alheios a esta situação e sem conhecimento para prestarem explicações. Gradualmente as queixas foram aumentando até que surgiu alguém, pressupostamente uma  responsável pelos Serviços, para apenas proferir que quem não quisesse esperar mais que se fosse embora. E como se isso não bastasse, abandonou, de imediato, a sala, sem mais acrescentar. Em surdina, algumas pessoas reclamavam, mas  o espanto e a resignação venceram.  Eram os sintomas da vulnerabilidade  que debilita tanto quanto a doença. E é nesse reino de (in)sensível (in)sanidade que acorrem os doentes na busca de cura ou de lenitivo para um mal que deles se apoderou.
O doente com crise renal foi atendido perto das 2 horas da manhã.
Entretanto, nos Estados Unidos da América há quem se faça prender para poder ser atendido num Hospital porque o acesso aos serviços de Saúde  não é universal. Será que lá a par dessa incompreensível e injusta  fatalidade também se sofre o rude e longo desespero na hora do atendimento? 
O insólito de uma  notícia propalada pelos orgãos de comunicação social  leva-nos a transcrevê-la. Aqui fica para vós.


"Um norte-americano de 59 anos tentou roubar um dólar na caixa de uma agência bancária para poder ser detido e enviado para a prisão. O objectivo era ser tratado no hospital prisional a uma doença que necessitava de cuidados urgentes.
James Varone, 59 anos, sem seguro de saúde, necessitava de ser internado urgentemente para tratar uma hérnia discal. Então,planeou um assalto a uma agência do Banco RCB, no estado da Carolina do Norte, nos EUA.
Para tanto, escreveu numa folha: "Isto é um assalto, por favor quero um dólar". Entrou na referida agência bancária, entregou ao caixa e esperou, calmamente, o aparecimento da polícia. O agente não se fez tardar. Apareceu, tomou conta da ocorrência e deteve o homem.
Às autoridades, Varone disse a verdade: estava desempregado e precisava de um tratamento gratuito urgente na cadeia.
O homem garante que está a ser bem tratado na prisão e que conta, ainda, receber dinheiro da segurança social, o que o ajudará a arrendar uma casa.
Reconhece que o seu plano só falhou numa coisa: roubou pouco dinheiro, e, por isso, foi acusado de pequeno delito. Ou seja, vai ter uma estadia na cadeia mais curta do que pretendia."in JN

1 comentário:

  1. Desloquei-me ao mesmo Hospital que a foto mostra no dia 1 de Janeiro de 2011, pelas 17h para acompanhar uma senhora de 83 anos, que nesse dia tinha caído em casa e feito uma pequena ferida na fonte, além de ter muita dificuldade em andar. Porque quatro meses antes tinha sido operada à anca, havia necessidade de averiguar se a prótese então colocada não se teria deslocado. Para começar, na triagem colocaram no pulso a fita verde e, como a urgência estava apinhada de utentes, nove horas volvidas ainda não tinha sido assistida. Em vão reclamei, invoquei a idade da senhora, o facto de não ter ainda jantado. Tudo em vão ! Obtive como resposta que "a idade não confere prioridade. Todos são iguais dos 13 aos 99 anos". Apurei que talvez pelas 7h do dia seguinte talvez fosse atendida. Pedi o livro de reclamações e relatei os factos. Seis meses volvidos recebi uma carta do Hospital, com um texto de cerca de 3 linhas que praticamente nada diz. Entendo que em pleno sec. XXI, num País membro da UE uma situação destas é inadmissível.

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