quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A MARGEM DO PÂNTANO




Para Jorge de Sena


Tudo me dói como se fora medo
ou ânsia de ficar aquém da morte
brincando na ilusão de estar vivendo
medos perdidos, pélagos selados.
Sonhos não chegam para tamanha sorte
ou chegam, mas são fúria lá no centro
de um mundo onde não vivo, iluminado
por mão intemerata já sem norte.
Acaso quebro lages, desço fundo,
laços desfaço de invisível corda.
Ao centro que me foge e que não quero
logo deslizo como quem se avilta
no lixo temporal muro fechado.
Enquanto o dia não chega a febre aumenta.
Vozes insistem pela madrugada.
Lanço de mim o grito inesperado:
eu vivo, sou, e sonho, ou desespero!
realidade és medo, a dor é nada!

RUY CINATTI, in "Conversa de Rotina ", 1973

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