Em jeito de saudação, quero agradecer e aplaudir o Miguel Esteves Cardoso pelo modo desassombrado, escorreito e objectivo com que atacou a falsa gentileza democrática que grassa na verborreia política e governamental, nestes tempos portugueses (ditos) modernos.
Como mulher nunca me senti excluída de um apelo aos portugueses. Se houve exclusão não foi no vocativo. Teve e tem outros imperativos. E esses perpassam pela palavra Liberdade e na semântica que lhe está associada.
"Portuguesas e portugueses" não é
apenas um erro e um pleonasmo: é uma estupidez.
Por Miguel Esteves Cardoso
“Cada vez
que alguém, prestes a dirigir-se à população, arranca com "portuguesas e
portugueses" dou comigo a gritar um grito fininho que me dá cabo dos
ouvidos. Cerro os punhos e rosno quando são machos com aquela condescendência
oiticentista de dizer "portugueses e portuguesas" com a entoação de
quem se orgulha em mostrar que se é moderno ao ponto de não se esquecer das
mulheres. Diz aquele sorriso meio-engatatão, meio-paternal: "Ah pois! Eu
faço questão de incluir o mulherio!" Vamos lá por partes. Somos todos
portugueses. Todos nós, seja de que sexo ou de que sexualidade formos, somos
portugueses. Somos o povo português ou a população ou a nação portuguesa.
Como somos
todos portugueses quando alguém fala em "portugueses e portuguesas"
está a falar duas vezes das mulheres portuguesas. As mulheres estão obviamente
incluidas nos portugueses. Mas, ao falar singularmente das portuguesas, está-se
propositadamente a excluir os homens, como se as mulheres fossem portugueses de
primeiro (ou de segundo, tanto faz) grau. Somos todos seres humanos. As
mulheres não são seres humanas. Quando se fala na língua portuguesa não se está
a pensar apenas na língua que falam as portuguesas. É a língua dos portugueses
e doutros povos menos idiotas.
"Portuguesas
e portugueses" não é apenas um erro e um pleonasmo: é uma estupidez, uma
piroseira e uma redundância que fede a um machismo ignorante e desconfortavelmente
satisfeitinho.
Somos todos
portugueses e basta.”
12/02/2016 -
PÚBLICO
Miguel
Esteves Cardoso
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