ARTE POÉTICA
Vai pois,
poema, procura
a voz literal
que desocultamente fala
sob tanta literatura.
a voz literal
que desocultamente fala
sob tanta literatura.
Se a
escutares, porém, tapa os ouvidos,
porque pela primeira vez estás sozinho.
Regressa então, se puderes, pelo caminho
das interpretações e dos sentidos.
porque pela primeira vez estás sozinho.
Regressa então, se puderes, pelo caminho
das interpretações e dos sentidos.
Mas não olhes
para trás, não olhes para trás,
ou jamais te perderás;
e teu canto, insensato, será feito
só de melancolia e de despeito.
ou jamais te perderás;
e teu canto, insensato, será feito
só de melancolia e de despeito.
E de
discórdia. E todavia
sob tanto
passado insepulto
o que encontraste senão tumulto,
senão de novo ressentimento e ironia?
o que encontraste senão tumulto,
senão de novo ressentimento e ironia?
Manuel
António Pina, in “Poesia,
Saudade da Prosa - uma antologia pessoal”, Assírio & Alvim, 2011
"Morreu esta
sexta-feira à tarde, no Porto, o escritor e jornalista Manuel António Pina.
Galardoado em 2011 com o Prémio Camões, o mais importante da Língua Portuguesa,
tem uma vasta obra de poesia e literatura infantil, sendo também autor de
inúmeras peças de teatro e de livros de ficção e de crónica. O corpo do
escritor estará em câmara ardente a partir das 16 horas deste sábado na Igreja
do Foco, onde às 9.30 horas de domingo é celebrada missa pelo bispo das Forças
Armadas. O corpo seguirá depois para o cemitério do Prado do Repouso.
Manuel
António Pina, jornalista, poeta e escritor tinha 68 anos, nasceu no Sabugal,
licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Vivia no Porto e foi
jornalista do "Jornal de Notícias" durante três décadas, sendo
repórter, redator, editor e chefe de Redação, mantendo até há poucos meses, na
última página do JN, a crónica "Por
outras palavras" e foi ainda cronista da "Notícias Magazine".
Foi
galardoado em 2011 com o importante Prémio
Camões, e a sua vasta obra é fundamentalmente constituída por poesia e
literatura infantil, sendo também autor de inúmeras peças de teatro e de livros
de ficção e de crónica. Algumas dessas obras foram adaptadas ao cinema e televisão
e editadas também em disco.
Na área da
literatura, destacam-se os livros "O país das pessoas de pernas para o
ar", "O têpluquê", "Gigões & anantes",
"História com reis, rainhas, bobos, bombeiros e galinhas", e "O
tesouro", enquanto que na poesia, sobressaem os títulos "Nenhum
sítio", "Um sítio onde pousar a cabeça", "Cuidados
intensivos", "Nenhuma palavra, nenhuma lembrança", "Os
livros" e "Como se desenha uma casa" .
Prémio Camões que lhe foi atribuído em 2011, Manuel António
Pina foi distinguido ao longo da sua longa carreira literária e jornalística
com inúmeros prémios, nomeadamente o Prémio de Poesia da Casa da Imprensa (1978)
; Prémio Gulbenkian (1987); Prémio Nacional de Crónica Press Club/ Clube de
Jornalistas (1993); Prémio da Crítica, da Secção Portuguesa da Associação
Internacional de Críticos Literários" (2002); Prémio de poesia Luís Miguel
Nava (2003) e Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de
Escritores/CTT (2005).A sua obra está traduzida em França (francês e corso),
Estados Unidos, Espanha (espanhol, galego e catalão), Dinamarca, Alemanha,
Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária.
Numa das suas
últimas entrevistas que concedeu ao JN e questionado concretamente sobre as
múltiplas homenagens de que tinha sido alvo, nos últimos tempos, Manuel António
Pina disse reagir " Com desconforto e com gratidão. Também sou leitor,
embora bissexto, daquilo que designa por minha "obra" e, sem
pretender representar a rábula da modéstia, sou lúcido q.b. em relação a ela
para aceitar iniciativas do género sem cepticismo".
Nessa mesma
entrevista e pronunciando-se especificamente sobre situação de crise que o país
vive, afirmou o seguinte: " Diz-se que os povos felizes não têm história.
Não é fácil (nem bonito) dizê-lo, mas às vezes, a infelicidade de um povo é a
felicidade dessa espécie de historiadores do presente que os cronistas
(sobretudo aqueles que, como eu, praticam sobretudo a crónica como género
jornalístico e não literário) são". Agostinho Santos in JN
...Morreu Manuel António Pina! Do seu estado de saúde, ultimamente, não se esperava outro desfecho, infelizmente!...
ResponderEliminarMorreu o poeta, o escritor, o homem atento a tudo quanto se passava à sua volta, ao redor de todos nós, morreu um dos nossos!
Morreu um pouco de todos nós!...
Ele era uma voz livre, uma das poucas vozes livres em Portugal!