Do Trópico de Capricórnio aos Grandes
Lagos
Deste Outono em árvores despidas
que em mil ramículos cruzados o livor enredam
celeste e nevoento de que as águas
tão crespamente se embranquecem frias,
eu não sabia já. Envelhecia
num Verão chuvoso ou num Inverno claro
em que de noutras árvores a folhagem viva
apenas de ser verde persistia.
Agora não. Neste hirto esbracejar de tantos dedos
que o ar sem unhas cortam tão tranquilos,
melhor hei-de saber que o tempo passa
em que sou eu quem passa como tempo
neste ficar do mundo sempre renovado,
com que da nossa vida é feito o tempo alheio.
Deste Outono em árvores despidas
que em mil ramículos cruzados o livor enredam
celeste e nevoento de que as águas
tão crespamente se embranquecem frias,
eu não sabia já. Envelhecia
num Verão chuvoso ou num Inverno claro
em que de noutras árvores a folhagem viva
apenas de ser verde persistia.
Agora não. Neste hirto esbracejar de tantos dedos
que o ar sem unhas cortam tão tranquilos,
melhor hei-de saber que o tempo passa
em que sou eu quem passa como tempo
neste ficar do mundo sempre renovado,
com que da nossa vida é feito o tempo alheio.
4/12/1965
Jorge Sena ,
in “ Peregrinatio ad loca infecta, Poesia III” ,Lisboa, Ed. 70
Pão
Centeio novo do Minho
cresce depressa,
acompanha a vida:
o povo está sozinho
e vai partir.
Levanta-te bem verde.
A serra tem velas
e voa com nuvens
rolando nas velas.
Ergue-te e volta outro:
o povo parte sozinho,
não parte devagarinho.
Centeio novo do Minho
cresce depressa,
acompanha a vida:
o povo está sozinho
e vai partir.
Levanta-te bem verde.
A serra tem velas
e voa com nuvens
rolando nas velas.
Ergue-te e volta outro:
o povo parte sozinho,
não parte devagarinho.
19/4/1942)
Jorge de Sena, in “ Visão Perpétua” Lisboa, Ed. 70, 1989
..."Ergue-te e volta outro"!...
ResponderEliminarA voz autorizada de um Homem maior que o lugar onde nasceu, Jorge de Sena!...