"O soave fanciulla" da ópera de Giacomo Puccini, " La Bohéme", nas vozes de Anna Netrebko e Rolando Villazon, em 2006, num concerto na Alemanha, em Berlim. Num Domingo estival, os sons eufónicos desta universal melodia podem amenizar a força agreste de um dia que nasce quente.
"A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento" Platão
domingo, 31 de julho de 2011
sábado, 30 de julho de 2011
Lisboa em Festival
O Festival do Oceanos está de regresso a Lisboa, entre 30 de Julho e 13 de Agosto, para uma edição, que promete refrescar o Verão da capital, com diversos eventos de acesso gratuito.
Concertos, espectáculos de rua, museus abertos à noite, exposições, animação de rua e diversas actividades interactivas, dirigidas a públicos de todas as idades, fazem parte da programação desta iniciativa do Turismo de Lisboa que, durante duas semanas, anima o Eixo Ribeirinho da capital portuguesa.
A temática deste ano aborda conceitos como a Universalidade, a Sustentabilidade e o Entretenimento.
Esta é uma iniciativa reconhecida nacional e internacionalmente, que se insere no calendário anual de eventos culturais em Lisboa. O Festival dos Oceanos é já uma marca da cidade, atraindo uma média de 350 mil pessoas em cada edição, cumprindo, assim, o objectivo de combater a sazonalidade e aumentar o fluxo de turistas em Lisboa, durante o mês de Agosto.(in site do Festival)
Saiba mais em :Festival dos Oceanos
Concertos, espectáculos de rua, museus abertos à noite, exposições, animação de rua e diversas actividades interactivas, dirigidas a públicos de todas as idades, fazem parte da programação desta iniciativa do Turismo de Lisboa que, durante duas semanas, anima o Eixo Ribeirinho da capital portuguesa.
A temática deste ano aborda conceitos como a Universalidade, a Sustentabilidade e o Entretenimento.
Esta é uma iniciativa reconhecida nacional e internacionalmente, que se insere no calendário anual de eventos culturais em Lisboa. O Festival dos Oceanos é já uma marca da cidade, atraindo uma média de 350 mil pessoas em cada edição, cumprindo, assim, o objectivo de combater a sazonalidade e aumentar o fluxo de turistas em Lisboa, durante o mês de Agosto.(in site do Festival)
Saiba mais em :Festival dos Oceanos
sexta-feira, 29 de julho de 2011
A Primavera em Marte
Enquanto o Algarve torra sob um sol intenso e estival , pelas veredas desse imenso Universo a Primavera afirma-se em planetas longínquos que na mira das investigações científicas se nos vão revelando. Hoje , aportaremos em Marte.
Primavera no Pólo Sul de Marte
A nave da ESA Mars Express celebra oito anos no espaço com uma nova imagem de gelo na região do pólo sul marciano. Os pólos estão directamente relacionados com o clima do planeta e mudam com as estações. Estudá-los é um importante objectivo científico da missão.
A nave da ESA Mars Express celebra oito anos no espaço com uma nova imagem de gelo na região do pólo sul marciano. Os pólos estão directamente relacionados com o clima do planeta e mudam com as estações. Estudá-los é um importante objectivo científico da missão.
Ulyxis Rupes em contexto |
Neste local, a mais de 1000 km do próprio Pólo Sul, o gelo é relativamente fino: dados de radar indicam que tem apenas cerca de 500 metros de espessura, enquanto próximo do Pólo Sul pode atingir mais de 3,7 km.
No entanto, nas falésias viradas para norte as camadas de gelo e pó são distinguíveis. Fazem parte dos depósitos polares distribuídos em camadas. As falésias são com frequência encurvadas, o que pode querer dizer que são modeladas por crateras de impacto que estão por baixo.
Mais para norte da camada de gelo, a meio da imagem, há grandes depósitos de gelo cobertos por dunas, formadas pelos ventos predominantes nesta região. A orientação das dunas faz pensar que o vento deve vir predominantemente de noroeste.
Estruturas em destaque em Ulyxis Rupes
elevação nesta região diminui marcadamente do sul para o norte, descendo em degraus cerca de 1500 m no total, da esquerda para a direita a longo da imagem.
Ulyxis Rupes em alta resolução |
À medida que aumenta a distância relativamente ao pólo sul, o gelo vai ficando confinado às crateras de impacto maiores, tais como a que está na parte superior direita da imagem. As crateras acabam por apresentar uma melhor protecção. O gelo está ligeiramente inclinado para norte, porque com a luz do sol a vir do norte, as paredes a sul da cratera aquecem mais, derretendo o gelo. Ulyxis Rupes é uma grande falésia e é a única estrutura com nome nesta imagem (‘rupes’ é a palavra latina para falésia). Com um comprimento de 390 km e uma altura até 1 km, é visível na parte superior direita da imagem, onde atinge a superfície esquerda da cratera.
Ulyxis Rupes em perspectiva |
A imagem foi tirada em Janeiro de 2011, durante a primavera no sul de Marte. Agora é verão nesta região, mas quando o inverno começar, em Março de 2012, as temperaturas irão descer novamente e irá acumular-se mais gelo. A Mars Express estará à espera.In "ESA Portal-Portugal"
Ulyxis Rupes em 3D
Saiba mais sobre o espaço : ESA Portal - Portugal - A galáxia Andrómeda em vários tons
Saiba mais sobre o espaço : ESA Portal - Portugal - A galáxia Andrómeda em vários tons
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Man Booker Prize 2011
São treze os candidatos que constam da Lista para o Man Booker Prize 2011, entre os quais está um que já venceu o galardão, o britânico Alan Hollinghurst.
O popular escritor Julian Barnes é candidato pela quarta vez ao prémio literário mais importante do Reino Unido, mas nunca o conquistou. O autor terá a sua quarta oportunidade com a obra "The Sense of an Ending". O já galardoado Alan Hollinghurst é apontado como um dos favoritos por alguma imprensa britânica com o seu romance "The Stranger's Child", segundo a lista de candidatos divulgada.
A lista prossegue com o irlandês Sebastian Barry, com a obra "On Canaan's Side", autor que já tinha sido apontado para o prémio de 2010.
Carol Birch, com "Jamrach's Menagerie", Patrick deWitt, com a obra "The Sister Brothers", Esi Edugyan, com "Half Blood Blues", e Ywette Edwards, com "A Cupboard Full of Coats", continuam a lista. Entre os possíveis vencedores estão ainda Stephen Kelman (Pigeon English), Patrick McGuiness (The Last Hundred Days), A.D. Miller (Snowdrops), Alison Pick (Far To Go), Jane Rogers (The Testamente of Jessie Lamb) e D.J. Taylor (Derby Day).
No dia 6 de Outubro, a lista de candidatos será reduzida para seis autores e o prémio será entregue no dia 18 de Outubro, em Londres.
O vencedor do Man Booker Prize recebe cerca de 57 mil euros. Este prémio está aberto a escritores de ficção de Inglaterra,da Irlanda e da Commonwealth.Notícia divulgada pela Agência Lusa
Carol Birch, com "Jamrach's Menagerie", Patrick deWitt, com a obra "The Sister Brothers", Esi Edugyan, com "Half Blood Blues", e Ywette Edwards, com "A Cupboard Full of Coats", continuam a lista. Entre os possíveis vencedores estão ainda Stephen Kelman (Pigeon English), Patrick McGuiness (The Last Hundred Days), A.D. Miller (Snowdrops), Alison Pick (Far To Go), Jane Rogers (The Testamente of Jessie Lamb) e D.J. Taylor (Derby Day).
No dia 6 de Outubro, a lista de candidatos será reduzida para seis autores e o prémio será entregue no dia 18 de Outubro, em Londres.
O vencedor do Man Booker Prize recebe cerca de 57 mil euros. Este prémio está aberto a escritores de ficção de Inglaterra,da Irlanda e da Commonwealth.Notícia divulgada pela Agência Lusa
Susana Baca, a nova Ministra da Cultura do Peru
A nova ministra já tem o objectivo traçado: democratizar a cultura. É a primeira ministra de raça negra no Peru desde a independência de Espanha, em 1821.
"Trabalharei para que a cultura não seja algo que apenas seja desfrutado pelas pessoas com meios, mas que seja democrática. Que chegue a todos e seja abrangente", afirmou.
Susana Baca fundou em 1995, juntamente com o marido, o Centro Experimental de Música Negrocontínuo, em Santa Bárbara.
Depois de décadas a resgatar a tradição musical afro-peruana, a cantautora Susana Baca prepara-se agora para novos desafios. A vencedora de um Grammy Latino pelo álbum "Lamento Negro", em 2002, vai assumir a pasta da Cultura no Governo de Ollanta Humala que toma posse hoje, 28 de Julho." in DN
"Trabalharei para que a cultura não seja algo que apenas seja desfrutado pelas pessoas com meios, mas que seja democrática. Que chegue a todos e seja abrangente", afirmou.
Susana Baca fundou em 1995, juntamente com o marido, o Centro Experimental de Música Negrocontínuo, em Santa Bárbara.
Depois de décadas a resgatar a tradição musical afro-peruana, a cantautora Susana Baca prepara-se agora para novos desafios. A vencedora de um Grammy Latino pelo álbum "Lamento Negro", em 2002, vai assumir a pasta da Cultura no Governo de Ollanta Humala que toma posse hoje, 28 de Julho." in DN
"PARA ESCRIBIR TODAS LAS PLAYAS CON TU NOMBRE AMOR MÍO", a voz de Susana Baca interpretando o poema de Alejandro Romualdo "Si me quitaran totalmente todo".
SI ME QUITARAN TOTALMENTE TODO
Si me quitaran totalmente todo
Si por ejemplo me quitaran el saludo de los pájaros
O los buenos días del sol sobre la tierra
Me quedaría aún una palabra
Aún me quedaría una palabra
Donde apoyar la voz
Si me quitaran las palabras o la lengua
Hablaría con el corazón
Si me quitaran una pierna bailaría en un pie
Si me quitaran un ojo lloraría en un ojo
Si me quitaran un brazo
me quedaría el otro
para abrazar a mis hermanos
Para sembrar los surcos de la tierra
Para escribir todas las playas
con tu nombre
amor mío.
Alejandro Romualdo
quarta-feira, 27 de julho de 2011
Quando o Brasil entrou na Faculdade de Letras de Lisboa
Maria Lúcia Lepecki morreu no Domingo. Foi minha professora de Literatura Brasileira quando iniciava a sua carreira académica em Portugal. No final da década de sessenta e princípio da década de setenta, a Faculdade de Letras de Lisboa, apesar de ter sido palco de manifestações e greves contra o regime ditador vigente, respirava ainda um ambiente fortemente tradicional e muito formalizado nas relações e saudações entre alunos e professores. A revolução efectiva chegou com a jovem professora Maria Lúcia Lepecki ao dirigir-se, num rasgado sorriso, a uma plateia estudantil cortesmente alinhada para a primeira aula prática de Literatura Brasileira através de uma simples saudação: "Bom dia pessoal."
Era a voz de um Brasil distante que nos entrava pelos ouvidos e de tão inusitada e inesperada surpreendia-nos totalmente, espantando a soturnidade reinante. A vacuidade impessoal do "Bom dia" era, então, a fórmula banalizada e generalizada para qualquer início de aula, pelo que jamais qualquer professor nos tinha assim cumprimentado. Do imprevisto ficou-nos a curiosidade aguçada de escutar aquela voz cadenciada num português musicado, menos agreste e quase melódico, a desvendar-nos os caminhos literários do Brasil. Foi um imenso prazer e uma intensa descoberta. A disciplina de Literatura Brasileira regida por Vitorino Nemésio com a assistência de Lúcia Lepecki atingiu a excelência.
Era a voz de um Brasil distante que nos entrava pelos ouvidos e de tão inusitada e inesperada surpreendia-nos totalmente, espantando a soturnidade reinante. A vacuidade impessoal do "Bom dia" era, então, a fórmula banalizada e generalizada para qualquer início de aula, pelo que jamais qualquer professor nos tinha assim cumprimentado. Do imprevisto ficou-nos a curiosidade aguçada de escutar aquela voz cadenciada num português musicado, menos agreste e quase melódico, a desvendar-nos os caminhos literários do Brasil. Foi um imenso prazer e uma intensa descoberta. A disciplina de Literatura Brasileira regida por Vitorino Nemésio com a assistência de Lúcia Lepecki atingiu a excelência.
À Professora, à ensaísta, à investigadora, à crítica literária e à mulher defensora e promotora de grandes causas , apresento a minha homenagem no dia em que se realiza o seu funeral.
Foram publicados vários artigos noticiosos sobre esta grande professora que recordam alguns aspectos da sua vida.Transcrevemos o seguinte:
"Morreu Maria Lúcia Lepecki, a escritora que tinha uma “delícia” pela língua portuguesa.
A escritora, crítica literária e ensaísta brasileira Maria Lúcia Lepecki morreu este Domingo aos 71 anos em Lisboa, vítima de cancro.Maria Lúcia Lepecki nasceu em Axará, no estado de Minas Gerais, no Brasil, mas estava radicada há várias décadas em Portugal, sendo uma profunda conhecedora da literatura portuguesa, que leccionou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde foi professora catedrática.
Brasileira de nascimento e portuguesa por casamento, era autora de obras como “O romance português contemporâneo na busca da história e da historicidade, “Uma questão de ouvido: ensaios de retórica e interpretação literária” ou “Meridianos do texto”.
Camilo Castelo Branco foi o centro da sua tese de doutoramento, em 1967, que iniciou anos antes na Universidade de Sorbonne, em Paris, e que viria a terminar na Universidade Federal de Minas Gerais, no Brasil. Fora no Brasil que terminara a licenciatura em Filologia Românica.
Começou a aprender latim, inglês e francês com a mãe, a partir dos nove anos. Numa autobiografia publicada em Dezembro de 2006 no Jornal de Letras, a que deu o nome de “Historinha de vida”, lembra ter crescido, no Brasil, numa casa “cheia de livros e de conversas interessantes”. “Era pouco dada a brincadeiras, de modo que a mamãe teve o bom-senso de me ensinar a ler aos cinco anos. Foi um sossego, a partir dali não me faltou diversão. Lia obsessivamente, do Monteiro Lobato ao Viriato Correia ou o Francisco Marins, e mais o que escarafunchava nas estantes do pai. Dickens, Scott, Dumas e até um livro de capa azul, ‘O Primo Bazílio’. Devorei-o, às escondidas, aos dez anos. Não entendi da missa a metade. Confidenciei o mal-feito ao meu pai, ia eu na casa dos quarenta. E ele: ‘Não te fez mal nenhum, filha’. Teve razão”.
No mesmo texto, recorda que lhe perguntavam com frequência se tinha tido dificuldade em adaptar-se a Portugal. “Na verdade, não”, escreve, para depois acrescentar: “Talvez por causa do meu pai, que, muito conhecedor de História e de Literatura portuguesas, trazia sempre à baila, a propósito ou talvez não, coisas tão diferentes como a “Crónica de Dom João I”, o Eça ou o Marquês de Pombal. Isto para não falar dos três exemplares de “Os Lusíadas”, esparramados estrategicamente pela casa: um no escritório, outro na mesinha da saleta e o terceiro na mesa de cabeceira do pai. Portugal integrava o imaginário da nossa casa. Isto seguramente me facilitou a vida”.
Colaborava em várias revistas e jornais portugueses e estrangeiros, sobretudo na área da literatura, como a Colóquio/Letras e o suplemento literário do Estado de São Paulo.
Em 2004, recebeu o prémio de ensaio literário da Associação Portuguesa de Escritores.
Em 2008, por ocasião do encontro literário Correntes d´Escritas, na Póvoa de Varzim, manifestou-se publicamente contra o novo acordo ortográfico. “"Eu sempre achei que o acordo ortográfico não é preciso: um brasileiro lê perfeitamente a ortografia portuguesa e um português lê perfeitamente a ortografia brasileira”, sustentou na altura.
O escritor Baptista-Bastos, que à Lusa confirmou a morte da ensaísta, referiu-se a Maria Lúcia Lepecki como uma “ensaísta notabilíssima e uma defensora da cultura portuguesa”.
Helena Roseta – que a conheceu no final dos anos 1990 quando organizava o espólio de Natália Correia e de quem Lepecki foi apoiante na candidatura à Câmara de Lisboa, em 2007 – recorda-a pelo “sentido físico muito forte” na forma como comunicava.
A graça que tinha “em pôr as coisas”, diz, traduzia “a delícia pela língua portuguesa” que a acompanhavam na soltura e no riso que lhe vinham de uma “grande vontade de viver”. Força que, recorda Roseta, deixava notar até numa certa sobranceria perante a doença. “Lembro-me, há uns anos, de me ter dito que tinha vencido um ‘cancrito’”.in Jornal Público
Brasileira de nascimento e portuguesa por casamento, era autora de obras como “O romance português contemporâneo na busca da história e da historicidade, “Uma questão de ouvido: ensaios de retórica e interpretação literária” ou “Meridianos do texto”.
Camilo Castelo Branco foi o centro da sua tese de doutoramento, em 1967, que iniciou anos antes na Universidade de Sorbonne, em Paris, e que viria a terminar na Universidade Federal de Minas Gerais, no Brasil. Fora no Brasil que terminara a licenciatura em Filologia Românica.
Começou a aprender latim, inglês e francês com a mãe, a partir dos nove anos. Numa autobiografia publicada em Dezembro de 2006 no Jornal de Letras, a que deu o nome de “Historinha de vida”, lembra ter crescido, no Brasil, numa casa “cheia de livros e de conversas interessantes”. “Era pouco dada a brincadeiras, de modo que a mamãe teve o bom-senso de me ensinar a ler aos cinco anos. Foi um sossego, a partir dali não me faltou diversão. Lia obsessivamente, do Monteiro Lobato ao Viriato Correia ou o Francisco Marins, e mais o que escarafunchava nas estantes do pai. Dickens, Scott, Dumas e até um livro de capa azul, ‘O Primo Bazílio’. Devorei-o, às escondidas, aos dez anos. Não entendi da missa a metade. Confidenciei o mal-feito ao meu pai, ia eu na casa dos quarenta. E ele: ‘Não te fez mal nenhum, filha’. Teve razão”.
No mesmo texto, recorda que lhe perguntavam com frequência se tinha tido dificuldade em adaptar-se a Portugal. “Na verdade, não”, escreve, para depois acrescentar: “Talvez por causa do meu pai, que, muito conhecedor de História e de Literatura portuguesas, trazia sempre à baila, a propósito ou talvez não, coisas tão diferentes como a “Crónica de Dom João I”, o Eça ou o Marquês de Pombal. Isto para não falar dos três exemplares de “Os Lusíadas”, esparramados estrategicamente pela casa: um no escritório, outro na mesinha da saleta e o terceiro na mesa de cabeceira do pai. Portugal integrava o imaginário da nossa casa. Isto seguramente me facilitou a vida”.
Colaborava em várias revistas e jornais portugueses e estrangeiros, sobretudo na área da literatura, como a Colóquio/Letras e o suplemento literário do Estado de São Paulo.
Em 2004, recebeu o prémio de ensaio literário da Associação Portuguesa de Escritores.
Em 2008, por ocasião do encontro literário Correntes d´Escritas, na Póvoa de Varzim, manifestou-se publicamente contra o novo acordo ortográfico. “"Eu sempre achei que o acordo ortográfico não é preciso: um brasileiro lê perfeitamente a ortografia portuguesa e um português lê perfeitamente a ortografia brasileira”, sustentou na altura.
O escritor Baptista-Bastos, que à Lusa confirmou a morte da ensaísta, referiu-se a Maria Lúcia Lepecki como uma “ensaísta notabilíssima e uma defensora da cultura portuguesa”.
Helena Roseta – que a conheceu no final dos anos 1990 quando organizava o espólio de Natália Correia e de quem Lepecki foi apoiante na candidatura à Câmara de Lisboa, em 2007 – recorda-a pelo “sentido físico muito forte” na forma como comunicava.
A graça que tinha “em pôr as coisas”, diz, traduzia “a delícia pela língua portuguesa” que a acompanhavam na soltura e no riso que lhe vinham de uma “grande vontade de viver”. Força que, recorda Roseta, deixava notar até numa certa sobranceria perante a doença. “Lembro-me, há uns anos, de me ter dito que tinha vencido um ‘cancrito’”.in Jornal Público
terça-feira, 26 de julho de 2011
Exposição de fotografia sobre Miguel Torga
"Uma exposição de fotografia sobre Miguel Torga, a partir de imagens captadas nos anos de 1990, é inaugurada quarta-feira em Coimbra pelo fotojornalista Carlos Jorge Monteiro (Cajó), com a participação de António Arnaut, advogado e estudioso do escritor.
A mostra reúne imagens da entrega de dois prémios ao escritor em 1992 e ainda de uma distinção feita em sua casa pelo então presidente da Caixa Geral de Depósitos, Rui Vilar, quando já eram evidentes os sinais avançados da doença que o iria vitimar a 17 de Janeiro de 1995.
As fotografias recordam a atribuição do prémio Vida Literária, entregue em Março de 1992, em Lisboa, pela Associação Portuguesa de Escritores, e o Prémio Écureuil de Literatura Estrangeira do Salão do Livro de Bordéus, França, entregue na Câmara Municipal de Coimbra, em Setembro do mesmo ano.
A mostra reúne imagens da entrega de dois prémios ao escritor em 1992 e ainda de uma distinção feita em sua casa pelo então presidente da Caixa Geral de Depósitos, Rui Vilar, quando já eram evidentes os sinais avançados da doença que o iria vitimar a 17 de Janeiro de 1995.
As fotografias recordam a atribuição do prémio Vida Literária, entregue em Março de 1992, em Lisboa, pela Associação Portuguesa de Escritores, e o Prémio Écureuil de Literatura Estrangeira do Salão do Livro de Bordéus, França, entregue na Câmara Municipal de Coimbra, em Setembro do mesmo ano.
Nessas homenagens a Torga, segundo o autor, conhecido nos meios jornalísticos por Cajó, aparecem também retratados, entre outros, o escritor brasileiro Jorge Amado, a poetisa portuguesa Natália Correia, o antigo Presidente da República Mário Soares e o ex-secretário de Estado da Cultura Pedro Santana Lopes.
A exposição ficará patente até 27 de Agosto no Espaço de Arte do Recordatório Rainha Santa Isabel/Alfredo Bastos, em Santa Clara, Coimbra, e a sua inauguração contará com uma intervenção do advogado António Arnaut.
António Arnaut revelou à agência Lusa que na sua intervenção na abertura da exposição irá abordar a faceta cívica de Miguel Torga.
O orador destacou que a inauguração acontece no dia 27 de Julho, data do casamento do escritor com a professora universitária Andrée Crabée Rocha, em 1940, e que ainda se manterá patente na data do seu nascimento, 12 de agosto (1907).
A exposição de fotografia sobre Miguel Torga é comissariada pelo pintor surrealista Santiago Ribeiro." in Jornal I
Quase um Poema de Amor
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
— Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
Miguel Torga, in 'Diário V'
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
— Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
Miguel Torga, in 'Diário V'
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Canção monótona
Monotonia...
Sempre a imagem das cousas que nos pesa...
A mesma cor vermelha de Alegria,
O mesmo claro-escuro da Tristeza...
Sempre, no mesmo corpo, a mesma doença: a vida!
Sempre a mesma elegia, em sílabas de mágoa...
Sempre o mesmo perfil de serra empedernida,
Onde o Inverno, a chorar, desenha espectros de água.
Bocas de tédio a envenenar o mundo...
Uma noite perpétua, emudecida e calma...
Negro pego de lágrima profundo,
Estagnação da Dor, em ermos longes de alma...
A memória em planície estéril e deserta.
Ouvir, durante o dia, o choro de uma fonte...
Sempre a mesma janela, eternamente aberta,
Sobre o mesmo horizonte...
Nos olhos, sempre a mesma indefinida imagem...
Sempre a mesma roseira a florescer por mim...
Sempre o mesmo silêncio, em formas de paisagem;
Ave a cantar, manhã de sol sem fim!
Um perpétuo sorriso, à flor do mesmo rosto...
Num gélido cristal, a mesma face absorta...
Sob um eterno sol-posto,
Eterna planície morta...
Em sons de espuma e névoa, a eterna voz do Mar,
A morrer, a viver nos areais de além...
Um eterno sepulcro, à luz de eterno luar...
A mesma vida, em nós, vivida por ninguém...
Constante calmaria, eterno mar parado...
Este íntimo Alentejo em que se perde a gente...
Em nosso próprio ser, o Tempo desmaiado...
O mesmo, o mesmo, o mesmo, em nós, perpetuamente!
Sempre a imagem das cousas que nos pesa...
A mesma cor vermelha de Alegria,
O mesmo claro-escuro da Tristeza...
Sempre, no mesmo corpo, a mesma doença: a vida!
Sempre a mesma elegia, em sílabas de mágoa...
Sempre o mesmo perfil de serra empedernida,
Onde o Inverno, a chorar, desenha espectros de água.
Bocas de tédio a envenenar o mundo...
Uma noite perpétua, emudecida e calma...
Negro pego de lágrima profundo,
Estagnação da Dor, em ermos longes de alma...
A memória em planície estéril e deserta.
Ouvir, durante o dia, o choro de uma fonte...
Sempre a mesma janela, eternamente aberta,
Sobre o mesmo horizonte...
Nos olhos, sempre a mesma indefinida imagem...
Sempre a mesma roseira a florescer por mim...
Sempre o mesmo silêncio, em formas de paisagem;
Ave a cantar, manhã de sol sem fim!
Um perpétuo sorriso, à flor do mesmo rosto...
Num gélido cristal, a mesma face absorta...
Sob um eterno sol-posto,
Eterna planície morta...
Em sons de espuma e névoa, a eterna voz do Mar,
A morrer, a viver nos areais de além...
Um eterno sepulcro, à luz de eterno luar...
A mesma vida, em nós, vivida por ninguém...
Constante calmaria, eterno mar parado...
Este íntimo Alentejo em que se perde a gente...
Em nosso próprio ser, o Tempo desmaiado...
O mesmo, o mesmo, o mesmo, em nós, perpetuamente!
Teixeira de Pascoaes, in "Poesia de Teixeira de Pascoaes",Lisboa, Círculo de Leitores, 2004
domingo, 24 de julho de 2011
Ao Domingo há música
"Adiemus" do compositor e maestro Karl Jenkins nas vozes de Miriam Stockley e Mary Carewe acompanhadas por um extraordinário coro. "Adiemus" foi um projecto musical desenvolvido por Karl Jenkins onde mistura elementos da música clássica, da ópera com sonoridades da música tribal. Obteve um enorme sucesso que perdura no tempo.
Pela força e a transcendente harmonia que provoca, talvez possa contribuir para que este Domingo se transforme num dia de verdadeiro descanso.
sábado, 23 de julho de 2011
Com que voz
Amália Rodrigues nasceu a 23 de Julho de 1920. Hoje seria o seu 91º Aniversário.
"Com que voz" um soneto de Luis de Camões e música de Alain Oulman ficou imortalizado nesta voz maior do Fado Português.
Até sempre Amália.
Com que voz
Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura paixão me sepultou.
Que mor não seja a dor que me deixou
o tempo, de meu bem desenganado.
Mas chorar não estima neste estado
aonde suspirar nunca aproveitou.
Triste quero viver, poi se mudou
em tisteza a alegria do passado.
Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão duro
que lastima ao pé que a sofre e sente.
De tanto mal, a causa é amor puro,
devido a quem de mim tenho ausente,
por quem a vida e bens dele aventuro.
Luis Camões - Alain Oulman
Exposição ÁLVARO SIZA
A Árvore vai apresentar a exposição ÁLVARO SIZA – Desenhos no Museu de Santa Maria, Açores, de 1 de Agosto a 30 de Setembro de 2011.
Desenhos de Arquitecto
"A maior parte dos meus desenhos obedece a um fim preciso: encontrar a Forma que responda à Função e da função se liberte – e do esforço – abrindo-se a imprevisível destino.
Simultaneamente ou não, “ao lado”, surge outro desenho.
Desenho de prazer, de ausência, de repouso, cruza-se com o outro, pois de nada nos alheamos por inteiro.
Um ou outro podem surgir na mesma folha de papel, aparentemente estranhos, voluntária ou involuntariamente relacionados.
Pode um retrato minucioso ou um risco ao acaso iluminar no instante a paciente pesquisa, percorrendo os corredores da memória, sem que haja apelo ou consciência disso.
Desenho é projecto, desejo, libertação, registo e forma de comunicar, dúvida e descoberta, reflexo e criação, gesto contido e utopia.
Desenho é inconsciente pesquisa e é ciência, revelação do que não se revela ao autor, nem ele revela, do que se explica noutro tempo.
Liberto, o outro desenho conduz ao desenho consciente."Álvaro Siza
Simultaneamente ou não, “ao lado”, surge outro desenho.
Desenho de prazer, de ausência, de repouso, cruza-se com o outro, pois de nada nos alheamos por inteiro.
Um ou outro podem surgir na mesma folha de papel, aparentemente estranhos, voluntária ou involuntariamente relacionados.
Pode um retrato minucioso ou um risco ao acaso iluminar no instante a paciente pesquisa, percorrendo os corredores da memória, sem que haja apelo ou consciência disso.
Desenho é projecto, desejo, libertação, registo e forma de comunicar, dúvida e descoberta, reflexo e criação, gesto contido e utopia.
Desenho é inconsciente pesquisa e é ciência, revelação do que não se revela ao autor, nem ele revela, do que se explica noutro tempo.
Liberto, o outro desenho conduz ao desenho consciente."Álvaro Siza
O desenho são linhas curvas e rectas que se perpetuam no espaço, a linha como objecto único leva-nos a universos inimagináveis.
Não há pontos nem vírgulas no desenho. Em Siza Vieira a espontaneidade das suas linhas fascina quem olha como que hipnotizado pela sequência de curvas e contracurvas que dá forma ao corpo da mulher.
O corpo feminino desdobra-se assim numa miríade de contornos na qual o humano se revê, na sua naturalidade abstracta.
Fugindo à sua vocação a arquitectura Siza Vieira entre por uma outra via, o desenho, onde demonstra a mesma sensibilidade com que desenha um edifício embora de forma mais intimista.
Em que momento podemos dizer que estamos perante um Siza Vieira arquitecto e um Siza Vieira artista?
Apenas no manejo do lápis na sensualidade dos seus desenhos e na capacidade de se dar aos outros através desta peculiar forma de expressão.
João Manuel Santos, Director do Museu de Santa Maria – Açores, in "Textualino", Julho 2011
Não há pontos nem vírgulas no desenho. Em Siza Vieira a espontaneidade das suas linhas fascina quem olha como que hipnotizado pela sequência de curvas e contracurvas que dá forma ao corpo da mulher.
O corpo feminino desdobra-se assim numa miríade de contornos na qual o humano se revê, na sua naturalidade abstracta.
Fugindo à sua vocação a arquitectura Siza Vieira entre por uma outra via, o desenho, onde demonstra a mesma sensibilidade com que desenha um edifício embora de forma mais intimista.
Em que momento podemos dizer que estamos perante um Siza Vieira arquitecto e um Siza Vieira artista?
Apenas no manejo do lápis na sensualidade dos seus desenhos e na capacidade de se dar aos outros através desta peculiar forma de expressão.
João Manuel Santos, Director do Museu de Santa Maria – Açores, in "Textualino", Julho 2011
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Assim vai o Mundo
A Falsa Igualdade entre os Homens
“Debaixo de toda a vida contemporânea encontra-se latente uma injustiça profunda e irritante: a falsa suposição da igualdade real entre os homens. Cada passo que damos entre eles mostra-nos tão evidentemente o contrário que cada caso é um tropeção doloroso.”Ortega y Gasset,(1883 // 1955), in “A Desumanização da Arte”
ONU lança "ponte aérea" contra a fome na Somália
O Programa Alimentar Mundial anunciou, esta quinta-feira, o lançamento para os próximos dias de "uma ponte aérea" para fornecer ajuda alimentar, em especial, às crianças de Mogadíscio, capital da Somália
Sonia Zambakides da organização “Salvem as Crianças” disse à BBC que a situação na Somália é chocante. “Falei com mães de crianças que pareciam ter entre nove meses e um ano – as mães disseram que as crianças tinham três ou quatro anos de idade, portanto eram incrivelmente pequenas.” E contou ainda que mães tinham caminhado durante seis dias sem comida à procura de ajuda.
A situação na Somália é crítica", refere um comunicado da directora do Programa Alimentar Mundial (PAM), Josette Sheridan, que se encontra em visita à Somália. "O PAM saúda a declaração dos que controlam as regiões do sul da Somália afirmando que a ajuda humanitária será a partir de agora autorizada nestas zonas do país", acrescenta o comunicado em alusão aos rebeldes islamitas 'shebab' que controlam as zonas mais afectadas pela fome e que disseram estar prontos para aceitar a ajuda de emergência à população.
"Estamos a verificar, no terreno, para ver qual é a melhor maneira de encaminhar o mais rapidamente possível a ajuda que pode salvar os que se encontram no epicentro da fome, no sul", diz ainda o texto.
"As pessoas no sul da Somália estão muito doentes e fracas para ir em busca de comida, portanto devemos levá-la. O PMA está a preparar a abertura de várias rotas novas, por terra e ar, rumo ao centro da área de crise de fome para estabelecer as condições operativas necessárias", acrescentou a responsável do PMA.
Segundo a agência da ONU, actualmente "está a ser dada ajuda a 1,5 milhões de pessoas na Somália e o PAM tenta ajudar mais 2,2 milhões às quais até agora não teve acesso no sul do país".
Todo o nordeste africano, inclusivamente o Quénia e a Etiópia, sofrem há anos com uma grave seca, e a Organização das Nações Unidas disse que duas regiões do sul da Somália estão a passar pela pior onda de fome em 20 anos, ameaçando 3,7 milhões de pessoasA situação é agravada na Somália por 20 anos de guerra civil, após a saída do presidente Mohamed Siad Barre em 1991. Os somalis têm fugido para países vizinhos, como a Etiópia e o Quénia.
Assim vai o nosso Mundo cada vez mais desigual e chocante.
Assim vai o nosso Mundo cada vez mais desigual e chocante.
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Urgente
Urgente é construir serenamente
seja o que for, choupana ou catedral,
é trabalhar a pedra, o barro, a cal,
é regressar às fontes, à nascente.
É não deixar perder-se uma semente,
é arrancar as urtigas do quintal,
é fazer duma rosa o roseiral,
sem perder tempo. Agora. Já. É urgente.
Urgente é respeitar o Amigo, o Irmão,
é perdoar, se alguém pede perdão,
é repartir o trigo do celeiro.
Urgente é respirar com alegria,
ouvir cantar a rola, a cotovia,
e plantar no pinhal mais um pinheiro.
Fernanda de Castro, in "Poesia II" (1969)
quarta-feira, 20 de julho de 2011
Um dia em Sintra
" Viagens & Lazer" propõe um guião de visita para conhecer um pouco de Sintra a "low cost", apenas num dia. Nos tempos hodiernos em que viver com falta de dinheiro se torna useiro, aprender a passear com gastos reduzidos ou escassos é uma oferta bem vinda. Fica a sugestão.
"Bem perto de Lisboa mas com muito que visitar, a vila que é também a capital do romantismo é uma excelente opção para um dia bem passado.
© Fernando Fernandes / Sentido das Letras
O passeio deve começar bem cedo para aproveitar ao máximo tudo o que a vila de Sintra tem para oferecer. E a escolha não é fácil.
Para que o dia seja verdadeiramente low cost, sugerimos que vá de comboio e que depois se desloque a pé pela vila. Terá pela frente algumas caminhadas valentes mas verá que nem se dará conta das distâncias com as paisagens que o rodeiam.
Sugerimos que comece pela exploração da Quinta da Regaleira. Situada em pleno Centro Histórico de Sintra, classificada Património Mundial pela UNESCO, a Quinta da Regaleira é um lugar com espírito próprio. Construída no início do Século XX inclui um conjunto de construções espalhados pela floresta luxuriante que rodeia a casa principal. Diz a história que a Quinta da Regaleira é o resultado da concretização dos sonhos mito-mágicos do seu proprietário, António Augusto Carvalho Monteiro(1848-1920), aliados ao talento do arquitecto-cenógrafo italiano Luigi Manini(1848-1936).
A imaginação destas duas personalidades invulgares concebeu, por um lado, o somatório revivalista das mais variadas correntes artísticas - com particular destaque para o gótico, o manuelinoe a renascença- e, por outro, a glorificação da história nacional influenciada pelas tradições míticas e esotéricas.
Entrar na Quinta da Regaleira é recuar no tempo. É também uma viagem pelos sonhos, pelos mitos, pela imaginação. Deixe-se transportar e ali desfrutará de várias horas dos mais diversos prazeres.
O Palácio dos Milhões, a casa principal, é uma verdadeira mansão filosofal de inspiração alquímica, repleta de pormenores e recantos a que é preciso dar atenção. Cá fora, o parque engloba um cenário verdadeiramente exótico, onde as diferentes espécies de flora refletem o cuidado com que ali foram colocadas.
Não deixe ainda de entrar na Capela da Santíssima Trindade, que nos permite descer à cripta onde se recorda o simbolismo e a presença do além. Há ainda um conjunto de torreões que oferecem paisagens deslumbrantes, recantos estranhos feitos de lenda, vivendas apalaçadas de gosto requintado, e terraços dispostos para apreciação do mundo celeste.
A culminar a visita à Quinta da Regaleira, há que invocar a aventura dos cavaleiros Templários, ou os ideais dos mestres da maçonaria, para descer ao monumental poço iniciático por uma imensa escadaria em espiral.
Quando der conta já deve ser hora do almoço. Se preferir ficar por ali, coma qualquer coisa no café/restaurante que encontra dentro da Quinta da Regaleira. Pode optar por saladas ou tostas ou, se preferir uma refeição mais consistente, também são servidos almoços. Em alternativa, pode sempre preparar um piquenique em casa e desfrutar dos seus petiscos num dos recantos dos jardins da Regaleira.
Com o estômago aconchegado, prepare-se para partir em direcção ao Palácio da Pena. Tendo apenas um dia de passeio, este é outro dos ícones de Sintra que não pode perder.
Para lá chegar basta seguir as placas que encontra ao longo do caminho. A última parte do percurso é bastante a subir, pelo que deve levar consigo água e uns bons sapatos de caminhada. Se já estiver cansado, o melhor é ir até à estação do comboio de Sintra e apanhar o autocarro nº 434 que o deixará mesmo à porta do palácio.
Construído a cerca de 500 metros de altitude, o Palácio da Pena é um dos mais completos e notáveis exemplares de arquitectura portuguesa do Romantismo. Remonta a 1839, quando o rei consorte D. Fernando IIde Saxe Coburgo-Gotha (1816-1885), adquiriu as ruínas do Mosteiro Jerónimo de Nossa Senhora da Pena e iniciou a sua adaptação a palacete. Para dirigir as obras, chamou o Barão de Eschwege, que se inspirou nos palácios da Baviera para construir este edifício.
Muito fantasiosa, a arquitectura da Pena utiliza os "motivos" mouriscos, góticos e manuelinos, mas também o espírito Wagneriano dos castelos Schinkel do centro da Europa. Fica a cerca de 4,5 Km do centro histórico.
Lá dentro pode visitar as salas referentes a diversas épocas, onde poderá apreciar o mobiliário e decoração contemporâneo das mesmas. Entre estes espaços destacamos o Quarto da Rainha D. Amélia, onde verá a cama de bilros, onde esta soberana passou a última noite antes de partir a caminho do exílio.
Este é mais um local onde irá perder-se no espaço e no tempo. Perca algumas horas na visita e termine com uma bebida refrescante na esplanada do bar, situado numa das torres do palácio, e desfrute da vista.
Terminado o dia, volte ao centro da vila e leve para casa alguns travesseiros, um dos bolos típicos de Sintra. Se tiver tempo, não deixe ainda de dar um pulo ao Museu do Brinquedo, onde está garantida mais uma viagem ao tempo da sua infância. A não perder também.
Quando regressar a casa levará certamente na bagagem a vontade de voltar e de visitar tudo o que ficou por ver." In " Viagens&Lazer", Sentido das Letras, 18 de Julho, 2011
terça-feira, 19 de julho de 2011
Uma vida ao serviço da Poesia
A propósito de uma exposição sobre Pierre Seghers designada por "Pierre Seghers - Poésie, la vie entière" apresentada pelo Museu de Montparnasse, em Paris até 7 de Outubro de 2011, têm sido publicados alguns artigos sobre este poeta, editor e resistente francês que serviu a poesia durante uma vida, num percuso de singular actividade. Pierre Seghers nasceu em Paris a 5 de Janeiro de 1906. Faleceu em Novembro de 1987, aos 81 anos. Seghers definiu e assumiu a sua dedicação ao livro quando encontrou pela primeira vez o editor, músico e arquitecto Louis Jou. Assim, fascinado pela capacidade intelectual e riqueza da actividade de Jou, funda em 1938, a sua primeira Editora e, no ano seguinte, uma revista de poetas-soldados com o título de " Poétes casqués", publicação mais conhecida como "PC39". Em 1940, respondendo ao desafio de Louis Aragon e com o apoio de Paul Elouard, funda uma nova revista, "Poésie 40".
Em 1944, lança a colecção de livros "Poètes d'aujourd'hui" que, no total dos 256 volumes publicados, se dedica a destacar e a valorizar os aspectos centrais da criação poética , especialmente francesa . Em 1969, Seghers cede a sua parte a Robert Laffont e consagra-se totalmente à sua oba. A importância deste poeta e editor não se enforma unicamente na obra que produziu, mas na atenção que prestou à criação lírica.
Pierre Seghers é, neste Verão, homenageado e recordado em França. Pela grandeza que reveste toda a sua obra em prol da POESIA , transcreve-se o artigo que "L'Express", na edição de 14 de Julho, lhe dedicou.
Pierre Seghers, une vie au service de la poésie
“Éditeur, poète et résistant, la vie de Pierre Seghers s'étend comme un éventail. À travers des manuscrits, photographies, lettres et ouvrages inédits, l'exposition "Pierre Seghers - Poésie, la vie entière" présentée par le Musée du Montparnasse retrace ce parcours d'exception.
Louis Jou, un père spirituel
Peut-on renaître ? Pierre Seghers vous répondrait sans doute oui. Né à Paris en 1906 dans une famille d'artisans originaire du Nord, il éprouve un véritable éveil spirituel lorsque son destin croise celui du graveur et imprimeur Louis Jou, en 1929, aux Baux-de-Provence. Une rencontre extraordinaire, à tout jamais ancrée dans la mémoire de Seghers, qui appellera Louis Jou, sa vie durant, "mon patron". Le maître transmet à son disciple la passion des livres et de l'édition. Premières expériences inoubliables : rencontre avec André Suarès et découverte des poètes de la Perse. À l'époque, Seghers est gérant d'hôtels, casinos et bars. Mais sa destinée le rattrape. Il se jette alors à corps perdu dans la poésie et écrit son premier recueil intitulé Bonne Espérance. Louis Jou confie le précieux manuscrit à l'éditeur Bernard Grasset. Silence de mort, souvent synonyme de refus. Seghers ne baisse pas les bras pour autant. En 1938, il crée sa propre maison d'édition à Villeneuve-lès-Avignon : les "Éditions de la Tour". Son histoire commence.
Écrire, c'est résister
Septembre 1939 : le soldat de deuxième classe Pierre Seghers est appelé au front. Direction la caserne Vallongue à Nîmes. Selon Seghers, poésie et guerre vont de pair : l'écriture est une arme de résistance, un cri de liberté. Il crée ainsi la revue P.C. (Poètes Casqués) qui publie les textes des combattants pour la liberté. Seghers contourne au mieux la censure imposée par l'Occupation et entre en résistance au côté de compagnons de premier rang, Louis Aragon, Paul Éluard ou encore Robert Desnos. Dans sa nouvelle revue Poésie, il rassemble toutes ces voix. Il publie une anthologie de la poésie Espagnole établie par Pierre Dermangeat sous le titre Poésie 41, et les poèmes de Pierre Emmanuel sous le titre Combat avec tes défenseurs. C'est ainsi que débute son aventure qu'éditeur.
"L'homme couvert de noms"
L'édition, c'est la vocation de Pierre Seghers. La Maison Seghers voit le jour en 1944. Elle sera vendue à Robert Laffont à la fin des années 60. Seghers a fait entrer dans son catalogue de nombreux auteurs connus et inconnus, Français et étrangers, parmi lesquels André Frénaud, James Joyce, Jean Cocteau et bien d'autres. La publication d'un livre consacré à Paul Éluard, Le Poète d'aujourd'hui représente le tournant décisif dans l'histoire de la maison. Quoi d'autre ? Seghers est avant-gardiste. Il invente le petit format, un poche avant le livre de Poche. Il veut faire de la poésie un art accessible à tous. Mieux encore, le passeur de culture n'hésite pas à affirmer que la chanson est la soeur de la poésie. Les chanteurs sont donc des auteurs à part entière, une opinion qui, à l'époque, fait grincer des dents. Il publie Ferré, Brassens, Barbara et Aznavour en leur consacrant une collection inédite "Poésie et chanson". Seghers a réussi à rassembler deux familles qui n'en font plus qu'une. Paradoxalement, l'homme lui-même reste solitaire et secret.
Seghers et sa part d'ombre
Derrière ce sourire ardent, se cache un homme à l'air grave, profondément blessé. Seghers porte un poids, celui de la guerre et celui d'un père mort, suicidé. "Il n'en parlait jamais", nous confie Virginie Seghers, née de l'union entre Pierre et le grand amour de sa vie Colette Peugniez. Il n'était pas "quelqu'un de la parole intime", explique Albert Dichy, commissaire de l'exposition. Un paradoxe lorsqu'on pense aux chansons d'amour dédiées à Colette et au méticuleux travail d'introspection que Seghers entreprend dans Dis moi ma vie. Mais peut-être pas. Car après tout, chez Seghers, la langue est un vecteur d'évasion : là où tout est dit mais ne reste qu'allusion.” Par Chisato Goya (LEXPRESS.fr), publié le 14/07/2011 à 15:00
Pierre Seghers - Poésie, la vie entière. Musée du Montparnasse, Paris (15ème) . Jusqu'au 7 octobre 2011
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Poesia do Brasil
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.
Guardar
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
António Cícero, in "Guardar", Record 1997
Retrato
Outrora
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
António Cícero, in "Guardar", Record 1997
Retrato
Outrora
outro era o mar
o grande mar da infância...
tinhas aquela água imensa para salgar tua inocência
o horizonte incendiado pelo fogo das auroras
e as manhãs de espumas, conchas, redes e gaivotas.
Tinhas os crepúsculos de verão para extasiar tuas retinas
e no caminho rútilo dos pirilampos
tinhas a dança luminosa de um farol
e a lua flutuando no plácido espelho das águas.
Na voz submersa de um tempo inumerável
o mar te ensinou a mágica leitura do infinito.
No seu murmúrio ouviste o eco de todas as origens,
na linguagem das ondas e das tormentas,
na força das correntes e nas grandes calmarias,
o mar te ensinou a sonoridade e o silêncio,
o encanto e a indomável magnitude dos movimentos.
Os pescadores te contaram de sua insondável beleza,
de passarelas de algas e corais
onde desfilam cores, formas e mistérios.
Te contaram histórias de tempestades e naufrágios,
de embarcações que se perderam,
de sobreviventes, órfãos e viúvas.
O mar te seduziu com o beijo incessante das espumas,
te acenou com o lampejo intermitente dos relâmpagos,
com o branco das velas que voltavam.
Encheu teu samburá de caramujos e mariscos,
teus lábios de sal, teus pés de areia
e tatuou em tua vida esta única saudade.
O mar te inundou com sua água imensa e horizontal
e, com suas imensuráveis distâncias,
deixou em teus passos um caminho aberto para todos os portos.
Teu coração enfim,
repleto como um dique,
era um relicário de rotas e promessas
e desde então em tua alma navegam todos os possíveis...
Desabrochavas a flor da adolescência
quando uma onda solitária escorreu teus passos
e a vida te levou para o planalto.
Não conhecias o exílio e a penumbra das cidades
onde piratas velozes manejam o vício e a lança.
Não conhecias os tentáculos da noite
nem as paisagens sitiadas pela sedução.
Sobrevives nestes mares e ilhas inquietantes,
te consolas com a foz dos ribeirões,
recrias aqui a tua praia, o teu manguezal
e um horizonte impossível.
Retornas ao teu mar, de quando em quando,
mas ele não é mais o teu mar de outrora.
Recordas um tempo de saudosas navegações,
de pescadores partindo pelas madrugadas
e do regresso das canoas trazidas pelo vento.
Um tempo em que as estações se sucediam em equilíbrio
e num céu de ozônio o sol te oferecia a carícia de uma luz imaculada.
Num tempo em que o petróleo ainda não boiava sobre as águas
e os rios não despejavam nos litorais sua agonia.
As redes chegavam pesadas e repletas
porque os radares ainda não cercavam os cardumes no teu mar.
Não conhecias o protesto das baleias suicidas,
nem os estertores dos pingüins betumizados.
Os arpões não tinham ainda sua infalível precisão,
os rios não choravam os seus mortos,
nem choravam os recifes os seus corais despedaçados.
No fundo e na superfície
teu pranto assiste agora a um funeral de vítimas.
Num tempo que se curva sob o peso dos pressentimentos,
teus punhos se fecham contra uma legião de predadores.
Eis o teu cálice...
tua indignação, teu suplício...
teu grito... como tantos
tua lágrima... como tantas.
Impotente, num mundo que se afoga, sobrevives...
Sobrevives...
na memória e no esquecimento...
Sobrevives...
quando te hospedas na infância...
Sobrevives...
porque um estuário de esperança te sobrepõe à realidade...
Sobrevives...
porque um território de sonho te preserva do naufrágio.
Curitiba,Outubro de 2003
Manoel de Andrade, in " Cantares" Ed. Escrituras, S.Paulo, Brasil , Fev. 2007