CONTAR DE ABRIL
por
Baptista-Bastos
" Contarás de Abril o assombro, o desassossego, as súbitas visões de beleza longamente sonhadas, o assanhamento da hora vesperal; o renascer, meu e teu. Contarás de Abril instantes serenos, salivados de paz, o perfil de casas, as ruas docemente nossas que rimam connosco, as ternuras vagabundas, a utilidade dos gestos, o murmúrio discreto e comovido. Contarás de Abril instantes serenos, salivados de paz, o perfil de casas, as ruas docemente nossas que rimam connosco , as ternuras vagabundas, a utilidade dos gestos, o murmúrio discreto e comovido. Contarás de Abril os gritos, as imprecações, as cóleras, o idioma ressurecto na fraternidade de frases efusivas, no estertor. Contarás de Abril aquele haver viagem, aquele cheiro antigo de chuva de infância, a peca sombra, o chouto curto, o bêbado de rua que te assustou, temulento, a frugal manhã. Contarás de Abril o lado esquerdo da madrugada; cíclicos, os sismos: o chão em fissuras laceradas; de vagarosa, a capa da terra a recobrir o oco, as galerias naturais do ódio, onde rebramia o mar, sobre o qual haviam colocado o pinho e pedra e reconstruído a cidade, longa história de uma frustração. Contarás de Abril, os passos. Contarás de Abril , os sons , ínsitos na paisagem nocturna, nas betesgas. Contarás de Abril que me viste trajado de briche e holandilha, seteira ao ombro, num baixel de antigamente, soletrando palavras felizes, sem direcção nem sentido, como tudo o que é feliz. Contarás de Abril, aos meus filhos, filhos teus, que os meus olhos míopes, ardidos, urbanos, ficaram cheios de um ofício de dizer coisas singelas, humildes e absurdas: como amor, liberdade.
" Contarás de Abril o assombro, o desassossego, as súbitas visões de beleza longamente sonhadas, o assanhamento da hora vesperal; o renascer, meu e teu. Contarás de Abril instantes serenos, salivados de paz, o perfil de casas, as ruas docemente nossas que rimam connosco, as ternuras vagabundas, a utilidade dos gestos, o murmúrio discreto e comovido. Contarás de Abril instantes serenos, salivados de paz, o perfil de casas, as ruas docemente nossas que rimam connosco , as ternuras vagabundas, a utilidade dos gestos, o murmúrio discreto e comovido. Contarás de Abril os gritos, as imprecações, as cóleras, o idioma ressurecto na fraternidade de frases efusivas, no estertor. Contarás de Abril aquele haver viagem, aquele cheiro antigo de chuva de infância, a peca sombra, o chouto curto, o bêbado de rua que te assustou, temulento, a frugal manhã. Contarás de Abril o lado esquerdo da madrugada; cíclicos, os sismos: o chão em fissuras laceradas; de vagarosa, a capa da terra a recobrir o oco, as galerias naturais do ódio, onde rebramia o mar, sobre o qual haviam colocado o pinho e pedra e reconstruído a cidade, longa história de uma frustração. Contarás de Abril, os passos. Contarás de Abril , os sons , ínsitos na paisagem nocturna, nas betesgas. Contarás de Abril que me viste trajado de briche e holandilha, seteira ao ombro, num baixel de antigamente, soletrando palavras felizes, sem direcção nem sentido, como tudo o que é feliz. Contarás de Abril, aos meus filhos, filhos teus, que os meus olhos míopes, ardidos, urbanos, ficaram cheios de um ofício de dizer coisas singelas, humildes e absurdas: como amor, liberdade.
(...) Contarás de Abril o renascer da essencial
frescura.
Contarás de Abril.
Contarás , meu amor."
Baptista-Bastos , " Contar de Abril", in " Textos de Escritores Comunistas", Edições Avante
Contarás de Abril.
Contarás , meu amor."
Baptista-Bastos , " Contar de Abril", in " Textos de Escritores Comunistas", Edições Avante
Muito se escreveu, muito se cantou sobre o 25 de Abri de 1974. De tudo isso, se celebrou o seu cinquentenário, neste ano de 2024.
Vestiram-se , com novas roupagens, muitas das velhas canções revolucionárias . Recordou-se o dia inaugural. Teceram-se considerações e o povo saiu de novo à rua.
Eis algumas das tantas lembranças que encheram de sons e palavras os dias de quem viveu esse renascer da essencial frescura.
Chico Buarque, em Tanto Mar.
O 25 de Abril através de 100 fotografias, legendadas pelas vozes de Paulo de Carvalho , Zeca Afonso e outros, nas melodias mais emblemáticas da Revolução dos Cravos de 1974.
O 25 de Abril de 1974, em cartoon.
Cartoon de Cid ,publicado no Jornal República,em 27-4-1974 |
Cartoon de Abel Manta, 1º de Maio de 1974 |
Cartoon de Martins, publicado no Jornal A Bola, em 4-5-1974 |
Cartoon de Ferraz , publicado em Os Ridículos,18-5-1974 |
Cartoon de Martins, publicado no jornal A Bola, em 8-6-1974 |
Cartoon de Abel Manta, publicado no Jornal, em 11.7.1975 |
Cartoon de Baltazar , publicado em O Século Ilustrado, 20-7-1974 |
Cartoon de Abel Manta, Metamorfose, publicado no DN, em 20 de Agosto de 1974 |
Cartoon de José Vilhena, publicado em Os Ridículos, 1-10-1974 |
Cartoon de Martins , publicado no Jornal A Bola, em 7-12-1974 |
Cartoon de José Vilhena, publicado na Gaiola Aberta, em 15-12-1974 |
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