Terminologias
intrigantes
por Eugénio Lisboa
“No actual duelo
crispadíssimo entre os sociais democratas e os socialistas, mas também, de uma
maneira geral, nos confrontos entre estes dois partidos, anda-se a dar como
assente que se trata de uma confrontação entre a direita e a esquerda. Isto
deixa-me profundamente intrigado, porque o próprio líder do PSD se assume como
parte dessa direita, embora, ambiguamente, apenas rejeite aliar-se à extrema
direita.
Em primeiro lugar, não
me parece que um partido que se intitula “social democrata” se possa ter como
de direita. Em seguida, um dos fundadores ainda vivo, o Dr. Pinto Balsemão,
ainda há bem pouco tempo sublinhou bem claramente que o PSD era um partido do
centro-esquerda. Pergunto: o Dr. Luis Montenegro revê-se nisto? Sá-Carneiro
considerava o seu partido como sendo de centro-esquerda e, num cartaz
eleitoral, não há muito publicado por Pacheco Pereira, o PSD de Sá-Carneiro ia
até ao ponto de se considerar “socialista”. O Dr. Luís Montenegro revê-se
nisto? A qualificação de “social-democrata” causa-lhe desconforto? Se causa,
por que não propõe mudar-lhe o nome? Ou a ambiguidade é um modo de vida?
Seria muito importante
que, antes das próximas eleições legislativas, os eleitores ficassem a saber,
sem quaisquer dúvidas, se o PSD é o partido de centro-esquerda de Balsemão e
Sá-Carneiro ou o partido aparentemente de direita de Luís Montenegro. A zanga,
o desprezo e o acinte com que alguns gurus do PSD, incluindo o seu líder, se
referem aos socialistas (como se estes tivessem lepra), leva-me a crer, com
sólido fundamento, que o seu universo é de direita e mesmo de uma direita não
particularmente moderada. E, seguramente, nada tranquila.
Seja como for, é
importante que as palavras sejam utilizadas com todo o peso que têm e eu nunca
tive conhecimento de uma social democracia que fosse de direita. A claridade de
escrita não deve ser a boa fé só dos filósofos. Também fica bem aos políticos.
NOTA FINAL: Não sou nem
nunca fui filiado em partido nenhum. Mas se tivesse de escolher entre o de
Sá-Carneiro e o de Montenegro, não hesitaria. Montenegro não dá qualquer
garantia de se poder vir a preocupar com o bem estar dos portugueses.
Torna-se óbvio que está
apenas interessado na felicidade de ALGUNS portugueses.”
Eugénio
Lisboa, 23.05.2023
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