A Resposta Heróica
dos Lusitanos a Décio Junio Brutos
"Quando o Procônsul romano Décio Júnio Bruto campeava na
Lusitânia, sujeitando-a quase toda, e levando suas armas vencedoras até ao rio
Minho, uma só cidade, que se chamava Cinania, se teve firme e constante,
resistindo ao vencedor orgulhoso. Bruto, ou porque não lhe convinha demorar-se
na expugnação da cidade, ou porque receou não a poder render, mandou propor aos
habitantes, que se eles quisessem remir-se a dinheiro, os deixaria em paz. Os
nobres e generosos Lusitanos responderam: que seus maiores lhes haviam deixado
ferro, com que defendessem a sua liberdade, e não ouro, com que a comprassem a
um general avarento. Esta resposta é tão magnânima, que Valério Máximo,
referindo o caso, acrescenta, que mais quereriam os romanos havê-la dado que
ouvido.
Durante a guerra de
Viriato na Lusitânia, sucedeu que Caio Minicio, tribuno da legião
décima-gemina-romana, ficasse mortalmente ferido em uma batalha; e como fosse
deixado por morto no campo, e desamparado e abandonado do seu capitão e
camaradas, um cavaleiro lusitano, por nome Ebucio, o salvou, e o mandou curar e
tratar. O tribuno somente viveu alguns dias; mas antes de morrer de suas
feridas, mandou lavrar uma lápida, e nela deixou aos vindouros um testemunho
perene de reconhecimento e gratidão a piedosa humanidade, com que fora tratado
pelo generoso inimigo, declarando que morria triste e magoado por não poder
retribuir tamanho benefício da maneira que convinha a um Romano. A lápida ainda
se conserva no tempo de Resende; e dela diz, com razão, Diogo Mendes de
Vasconcelos, que é de todos os monumentos que temos daquela antiga idade, o
mais digno de perpetuar-se na memória dos Lusitanos, por conter um ilustre
exemplo de piedade, raro em inimigos, e tão admirável, que a gente lusitana se
devera gloriar dele, não menos que das próprias vitórias do seu insigne
capitão."
Alexandre Herculano, in Antologia de textos inéditos de Alexandre Herculano 83, INCM.
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