Alguns
poemas
de Reinaldo Ferreira
I
Volver às rimas suaves,
Aos metros embaladores,
Cantar o canto das aves,
A aurora, a brisa e as flores…
Vibrar na deposta lira
Dos trovadores sepulcrais
Delidas queixas d’Elvira
Zelos de bardo, fatais
Para que nessa ficção,
De outras apenas diferente,
Ao fogo do coração
Arda a razão descontente.
de Reinaldo Ferreira
Volver às rimas suaves,
Aos metros embaladores,
Cantar o canto das aves,
A aurora, a brisa e as flores…
Dos trovadores sepulcrais
Delidas queixas d’Elvira
Zelos de bardo, fatais
De outras apenas diferente,
Ao fogo do coração
Arda a razão descontente.
II
Regresso de parte alguma
Rico mais do que partira,
Pois trago coisa nenhuma
Sem desespero e sem ira.
Agora vivo contente
No meu exílio sereno;
Tomei tamanho de gente
E não me dói ser pequeno.
Pedra parada na calma
Tranquilidade dos charcos,
Deixem dormir minha alma,
Como apodrecem os barcos…
Rico mais do que partira,
Pois trago coisa nenhuma
Sem desespero e sem ira.
No meu exílio sereno;
Tomei tamanho de gente
E não me dói ser pequeno.
Tranquilidade dos charcos,
Deixem dormir minha alma,
Como apodrecem os barcos…
III
Eu, Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia
Que partout, everywhere, em toda a parte,
A vida égale, idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.
Mas dancemos, dancemos
Já que temos
A dança começada
E o Nada
Deve acabar-se também,
Como todas as coisas.
Tu pensas
Nas vantagens imensas
Dum par
Que paga sem falar;
Eu, nauseado e grogue,
Eu penso, vê lá bem,
Em Arles e na orelha de Van Gogh…
E assim entre o que eu penso e o que tu sentes
A ponte que nos une – é estar ausentes.
Que partout, everywhere, em toda a parte,
A vida égale, idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.
Mas dancemos, dancemos
Já que temos
A dança começada
E o Nada
Deve acabar-se também,
Como todas as coisas.
Tu pensas
Nas vantagens imensas
Dum par
Que paga sem falar;
Eu, nauseado e grogue,
Eu penso, vê lá bem,
Em Arles e na orelha de Van Gogh…
E assim entre o que eu penso e o que tu sentes
A ponte que nos une – é estar ausentes.
RECEITA PARA FAZER UM HERÓI
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.
Noutro dia, acrescentaremos alguns
poemas de Reinaldo Ferreira, a assinalar o centenário do seu nascimento.
Eugénio
Lisboa, 26.10.2022Nota de LP - Eugénio Lisboa, além de ter sido amigo deste poeta, foi um dos organizadores do livro de Poemas que teve publicação póstuma. É um profundo e qualificado estudioso da obra de Reinaldo Ferreira.
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