PENSAMENTO DO DIA
(COM COMENTÁRIOS)por Eugénio Lisboa
Eugénio
Lisboa, 05.02.2022
MEREDITH É UM BROWNING EM PROSA – E BROWNING TAMBÉM
Oscar Wilde
“Como de costume, Wilde,
ao ser pérfido, disse a verdade. A prosa fala. A poesia canta. A prosa caminha,
sem encontrar pela frente ou ignorando-o, caso o encontre, qualquer obstáculo.
A poesia oferece ao vento contrário – que acolhe – a sua asa: por isso, voa. Uma
caminha, a outra paira. Só quando a prosa inventa, para si, obstáculos
fecundos, como em Flaubert ou em qualquer grande prosador, é que a prosa se
torna poesia. Só se voa, quando se encontra ou se constrói um obstáculo que
propicia o voo. Sem obstáculo, não há criação poética: não há criação. Criar é
sempre descobrir uma solução para uma dificuldade. A poesia em prosa, se não
luta para existir, é prosa em prosa, no pior sentido de prosa. Nem sequer tem a
dignidade de ser boa prosa, a qual é poesia disfarçada. A poesia que visa
conquistar o território da prosa, trava uma fútil batalha, porque acaba por
perder em duas frentes: nem é boa poesia nem é boa prosa. É como aquelas
mulheres, que se querem parecer com homens e afugentam, neles, todo o desejo.
Não se acumula: escolhe-se.”
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