AFORISMOS
DE H. L. MENCKEN (1880 – 1956)
por
Eugénio Lisboa
"Henry Louis Mencken, literariamente
conhecido como H. L. Mencken, foi provavelmente o mais influente crítico e
ensaísta americano, nos anos vinte do século passado. Dotado de um sumptuoso e
acutilante poder de manejo da língua inglesa e de um invulgar poder de ver as
coisas muito por dentro, Mencken teve sempre a destemida vocação de se não
render facilmente aos ventos que sopravam. Opondo-se, com óbvio risco, à
religião organizada, à democracia representativa e à crença num deus qualquer,
não se pode dizer que Mencken não sabia escolher bem os seus adversários.
Tinha uma característica qualidade,
que muito admiro: detestava glórias fraudulentas e batia-se como um bravo por
impor escritores de real valor, como Theodore Dreiser e Sinclair Lewis. Mas
tinha um ponto fraco: nem sempre viu a necessidade de pôr linhas vermelhas ao
seu sarcasmo brilhante, e os americanos não acharam muita graça ao facto de ele
fazer chacota com o New Deal de Roosevelt, depois de uma depressão assassina.
Foi também muito mal visto que ele, inicialmente, se não desse conta do que
significava a ascensão de Hitler na Alemanha. Mas deve notar-se que muita gente
cometeu este erro. O brilhante George Bernard Shaw não deixou de ter o seu
flirt com Mussolini. Acontece aos melhores.
Da vasta bibliografia de Mencken,
podem destacar-se os seguintes títulos: TRE
PHILOSOPHT OF FREDERICH NIETZSCHE (1907); IN DEFENSE OF WOMEN (1918); PREJUDICES,
seis volumes de crítica (1919 – 1927); THE
AMERICAN LANGUAGE (1919).
Dou a seguir uma pequena mas
significativa amostra do inquietante poder aforístico de Mencken.
Diga-se
o que se disser dos Dez Mandamentos, devemos dar-nos por felizes por serem só
dez.
Não
há assuntos chatos, há só escritores chatos.
Ópera
em inglês faz tanto sentido como beisebol em italiano.
Quando
se ouve um homem falar no seu amor pelo seu país, pode-se estar certo de que
ele espera ser pago por isso.
O
pior governo é o mais moral. Um governo composto por cínicos é frequentemente
mais tolerante e humano. Mas quando os fanáticos tomam o poder, não há limites
para a opressão.
A
consciência é aquela voz interior que nos avisa que alguém pode estar a olhar.
Nenhum
homem merece uma confiança ilimitada – na melhor das hipóteses, a sua traição
aguarda apenas uma tentação suficientemente forte.
É
relativamente fácil suportar a injustiça. É mais difícil suportar a justiça.
Deus
é um comediante a actuar para uma plateia demasiado assustada para poder rir.
Os
homens casados vivem mais tempo do que os solteiros – ou, pelo menos,
queixam-se durante mais tempo-.
Nada
pode sair do artista que não esteja no homem.
Nunca
pus um charuto na boca, antes dos nove anos.
É
difícil acreditar que um homem está a dizer a verdade, quando sabemos que
mentiríamos se estivéssemos no seu lugar.
Imoralidade
é a moralidade daqueles que se estão a divertir mais do que nós.
Nunca
deixe que um inferior lhe faça um favor. Pode custar-lhe caro.
A
fé pode ser definida, em resumo, como uma crença ilógica na ocorrência do
improvável.
Pode
ser um pecado pensar mal dos outros. Mas raramente é um engano.
Só
há uma coisa na qual homens e mulheres estão de acordo: nenhum dos dois confia
nas mulheres.
(Hoje, fico-me por aqui. Se quiserem
mais, é só pedirem: a verve de Mencken é inesgotável…)"
Eugénio
Lisboa, 04.02.2022
Sem comentários:
Enviar um comentário