domingo, 20 de fevereiro de 2022

Ao Domingo Há Música

As  ruinas da cidade de Guernika  após o bombardeamento , em  Abril de 1937

Cantares de exílio

Uma noite de lua cheia
Atravessamos o cume
devagar, sem dizer nada...
Se a lua estava cheia
assim estava  a nossa dor. 
 (...)

Na Catalunha deixei
O dia da minha partida
Meia vida dormida;
A outra metade veio comigo
Para eu não ficar sem vida.
 
Hoje nas terras da França
E amanhã, ainda mais longe talvez;
Não vou morrer de saudade
Mas da saudade viverei.
(…)

Uma esperança desfeita,
Um remorso imenso,
E uma pátria tão pequena
Que eu posso sonhar inteira.
Pere Quart

Neste domingo, apresenta-se uma canção belíssima , numa voz extraordinária que  dá forma ao poema de Joan Oliver i Sallarès, que,  enquanto poeta,  tem como pseudónimo  Pere Quart. Dramaturgo,  tradutor e jornalista catalão, Joan Oliver i Sallarès foi considerado um dos poetas mais marcantes da literatura catalã do século XX. Durante a guerra civil espanhola esteve do lado republicano. Foi nomeado presidente da Associació d'Escriptors Catalans e chefe de publicações do Ministério da Cultura da Geralitat. Cofundador e chefe de publicações da Institució de les Lletres Catalanes  foi o  autor da letra do hino do exército popular catalão. 
Em 1939, teve que se exilar; primeiro em França, para depois embarcar com outros intelectuais catalães no navio Florida, com destino a Buenos Aires, estabelecendo-se  em Santiago do Chile, onde viveu  alguns anos.
Este poema narra o momento do exílio para França. No final da Guerra Civil Espanhola, muitos dos republicanos foram obrigados ao exílio. A cruel e a dura experiência de cruzar a fronteira da Catalunha é a realidade do poema.
A magnífica interpretação de Silvia Pérez Cruz  presta a maior homenagem  aos exilados , àqueles que partem porque os extremismos dos seus países os obrigam. 

Sílvia Pérez Cruz,  em  "Corrandes d'exili", com  Rocío Molina ( bailarina) e Joan Antoni Pich (violoncelo) . A Música é de Lluís Llach e a letra de Pere Quart. A gravação  é de Ozango, no Festival Les Suds ,  Arles  em 13 de Julho de 2017.  

   
Joan Oliver i Sallarès (Pere Quart) nasceu a 29 de Novembro de 1899, em Sabadell e morreu a 18 de Junho de 1986,  em Barcelona .
    Corrandes d'exili

   Una nit de lluna plena

    tramuntàrem la carena,

    lentament, sense dir res ...

    Si la lluna feia el ple

    també el féu la nostra pena.

 

    L'estimada m'acompanya

    de pell bruna i aire greu

    (com una Mare de Déu

    que han trobat a la muntanya.)

 

    Perquè ens perdoni la guerra,

    que l'ensagna, que l'esguerra,

    abans de passar la ratlla,

    m'ajec i beso la terra

    i l'acarono amb l'espatlla.

 

    A Catalunya deixí

    el dia de ma partida

    mitja vida condormida:

    l'altra meitat vingué amb mi

    per no deixar-me sens vida.

 

    Avui en terres de França

    i demà més lluny potser,

    no em moriré d'anyorança

    ans d'enyorança viuré.

 

    En ma terra del Vallès

    tres turons fan una serra,

    quatre pins un bosc espès,

    cinc quarteres massa terra.

    "Com el Vallès no hi ha res".

 

    Que els pins cenyeixin la cala,

    l'ermita dalt del pujol;

    i a la platja un tenderol

    que batega com una ala.


    Una esperança desfeta,
    una recança infinita.
    I una pàtria tan petita
    que la somio completa.

   Em  espanhol:


Una noche de luna llena
cruzábamos la cresta,
lentamente, sin decir nada....
Si la luna hacía el pleno
también lo hacía nuestra pena.
 
Mi amada me acompaña
de piel morena y gesto grave
(como una virgen morena
que han encontrado en la montaña),
 
Para que nos perdone la guerra
que la ensangrienta, que la quebranta.
Antes de cruzar la línea,
me tumbo y beso la tierra
y arrimo con mimo el hombro.
 
En Catalunya dejé
el día de mi partida
media vida adormecida;
la otra mitad vino comnigo
por no dejarme sin vida.
 
Hoy en tierras de Francia
y mañana tal vez más lejos,
no me moriré de añoranza,
antes de añoranza viviré.
 
En mi tierra del Vallés
tres cerros forman una sierra,
cuatro pinos un bosque espeso,
cinco cuarteras mucha tierra.
"No hay nada como el Vallés"
 
Que los pinos ciñan la cala,
la ermita arriba en la colina,
y en la playa un toldo
que late como un ala.
 
Una esperanza deshecha
un pesar infinito.
Y una patria tan pequeña
que la sueño completa.

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