Um magnífico e interrogativo soneto que Eugénio Lisboa acaba de fazer sair da sua sempre extraordinária e laboriosa oficina poética.
Se não há vida para além da morte,
se o nada é o que nos espera,
e o existir não teve nenhum norte,
viver ou não viver tanto fizera.
Mas o não ser é algo que se entenda?
Mas o que será afinal o nada?
Haverá o que do nada dependa?
Será o nada a alma empalada?
Só nos resta, na vida, perguntar,
mesmo sabendo que não há resposta:
feita a pergunta, paira no ar
a suspeita de que nos é imposta
uma vida a buscar, na escuridão,
motivo para a nossa servidão.
26.08.2021
Eugénio Lisboa, (Poesia inédita)
O teu tesouro
ResponderEliminarAlém, muito além desta paisagem,
numa realidade apenas pressentida
compreenderás ao fim dessa viagem
de onde vens e pra onde vais, na vida.
No torvelinho incessante dos destinos
cada um com seu papel nessa ribalta
semeando a ventura ou os desatinos
colherás o que te sobra ou que te falta.
Viandante dos caminhos milenares
aprendeste na decepção e nos pesares
que “nem tudo o que reluz é ouro”.
Guarda-te pois das ciladas da ilusão
porque “aonde estiver teu coração,
ali estará também o teu tesouro”.
A viagem
Há um mundo maior e distante desta esfera
onde o farol da vida se acende deslumbrante
um recanto onde a morte não impera
e onde as horas se medem pelo instante.
São degraus de uma escada interminável
ninhos de luz muito além do entendimento
onde seres de uma beleza incomparável
recriam sem cessar o firmamento.
Se sonhas chegar um dia a essa paragem
investe o próprio coração nessa viagem
e, com a caridade, tece e borda o teu vestido...
pois não entrareis jamais nessa cidade
sem o traje do amor e da humildade
e sem o passaporte do dever cumprido.
Manoel de Andrade
Muito nos honra a presença de dois grandes poetas . Um excelente acréscimo ao soneto interrogativo de Eugénio Lisboa . Dois sonetos belíssimos.
ResponderEliminarMuito obrigada .