"O cante jondo («canto fundo») da cultura andaluza exprime através de uma ambiência sonora cristalizada ao longo de séculos o que de mais profundo encerra o espírito popular Cúmplice das penas e das alegrias do seu povo, o cantaor esconjura com «voz de sangre», através das sentidas letras e dos longos e dolorosos melismas, como num ritual, as angústias que lhe assaltam a alma, crendo que quem o escuta comungará, por empatia, da sua dor e que esta será, assim, mitigada. A importância do cante na cultura flamenca, todavia, não se esgota no carácter confessório da interpretação. A natureza ao mesmo tempo pagã, primeva e intuitiva do cante cativou a atenção de poetas e músicos. Um desses poetas, Federico García Lorca, figura de estatura ímpar no panorama literário espanhol do século XX, soube operar uma ruptura com a visão meramente folclorista do flamenco partilhada por alguns dos seus conterrâneos – nomeadamente Melchor de Palau, Salvador Ruedas e Manuel Machado, que em 1912 publicara um livro de coplas intitulado, justamente, Cante Jondo. A relação de Lorca com o «andaluzismo» não se cinge a um manusear curioso dos elementos castiços e potencialmente poéticos da cultura andaluza. Pelo contrário, a sinceridade da escrita lorquiana, a sedução incontida, obsessiva até, pelos temas e imagens da Andaluzia mítica e onírica trai a sua total identificação com o espírito a que aludimos. A somar a isso, ligam‑no estreitos laços ao mundo do café cantante onde aprenderá a partilhar, ao lado de cantaores, bailores e tocaores, dos verdadeiros valores religiosos e estéticos contidos na arte flamenca." Dicionário de Termos Literários
NIÑA PASTORI & INDIA MARTÍNEZ , em "Cuando nadie me ve"
Pastora Soler , em Que no daría yo , extraído do álbum “Directo a la calma”
Miguel Poveda , em "Triana, puente y aparte" . Extraido do DVD "Miguel Poveda Real", uma produção de Universal Music Spain y Discmedi, dirigida e realizada por Sarao Films.
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