"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.
Olavo Bilac , Poesias ( Via Láctea), 1888
Ao visionar o trecho musical para este domingo , o soneto de Olavo Bilac surgiu-me insistente e assertivo, numa exigência indeclinável. Era ele a palavra , a melhor legenda para as imagens que compunham o vídeo. E não é que tinha razão. Este "Tendre Amour ", a resplandecer beleza, só poderia ser tocado e cantado por quem entende as estrelas. Basta ver o brilho nos olhos e os sorrisos nos lábios dos seus intérpretes. E, em verdade , dizem as estrelas, pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas.
Tendre Amour, de Jean-Philippe Rameau, em Les Fleurs de Les Indes Galantes, por Les Arts Florissants, sob a direcção do Maestro William Christie, na Grande Salle Pierre Boulez de la Philharmonie de Paris, em Dezembro de 2019.
Tendre amour, que pour nous, cette chaîne dure à jamais.
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