Educação Sentimental
Na janela mais alta de Lisboa
és a ave chamada Todavia:
a que posta no céu não se desvia,
mas que perto do rio já não voa...
Hei-de ensinar-te, devagar ( perdoa!),
a pressa com que Amor se pronuncia
e a conjugares a noite com o dia
quando o corpo do corpo se condoa...
Fecha os olhos, e voa! Mas não queiras
ao inferno do céu traçar fronteiras
nem ao céu do inferno pôr limites:
voar só vale a pena enquanto for
uma forma de amar além do amor,
furor que todavia não habites...
David Mourão-Ferreira, in "Infinito pessoal [1959-1962] - Obra Poética", Assírio & Alvim , p 145
O Vento na Ilha
O vento é um cavalo:
ouve como ele corre
pelo mar, pelo céu.
Quer levar-me: escuta
como percorre o mundo
para levar-me para longe.
Esconde-me em teus braços
por esta noite apenas,
enquanto a chuva abre
contra o mar e contra a terra
a sua boca inumerável.
Escuta como o vento
me chama galopando
para levar-me para longe.
Com tua fronte na minha
e na minha a tua boca,
atados os nossos corpos
ao amor que nos abrasa,
deixa que o vento passe
sem que possa levar-me.
Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e procure
galopando na sombra,
enquanto eu, submerso
sob os teus grandes olhos,
por esta noite apenas
descansarei, meu amor.
Pablo Neruda , in Os Versos do Capitão, Campo de Letras Editora, Abril , 2001, trad. Albano Martins,
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