Luanda, 1979 - o preço pago em sangue
"No almoço de despedida oferecido pelos escritores de Angola ao confrade brasileiro, no brinde de Luandino Vieira a confidência:
- Paguei com sangue a leitura de teus livros.
Narra acontecimento de 1954: o colonialismo português, opressão política, a censura a jornais e livros, a luta áspera. Indo para casa, passou na livraria para dar uma olhadela. O livreiro fez-lhe sinal que esperasse a partida do freguês. Mostrou-lhe, então, com as precauções devidas, a preciosidade rara e cara: os três volumes de Os Subterrâneos da Liberdade, edição brasileira recém-saída, recém-chegada, recebida e vendida por vias travessas, o negociante arrisca-se, para arriscar-se cobra alto.
Assanhado, Luandino pergunta o preço, consulta os bolsos , conta os caraminguás, nem metade do necessário, onde arranjar o resto?
Não venda, venho buscar, avisa, parte à procura de quem lhe possa emprestar a quantia avultada para o pobre subversivo, não será fácil.
Vai em agonia, eis que depara em seu caminho com um banco de sangue aberto no hospital. Nem um minuto de vacilação: entra, arregaça a manga da camisa , estende o braço , a veia, vende sangue, sangue bastante para completar o pagamento dos volumes dos Subterrâneos, volta em marcha forçada à livraria.
Os cristais da fraternidade na voz de mestre Luandino:
- Paguei com meu sangue a leitura dos teus livros, meu irmão.
Jorge Amado, in " Navegação de Cabotagem, Publicações Europa-América, p.231
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