Celebra-se a Terra num dia imposto pelo calendário. Nasceu no dia 22 de Abril de 1970, nos USA, sob proposta do Senado. Reconhecido pela ONU, em 2009 , ficou instituído como o Dia Internacional da Terra.
Nos diversos domínios do Saber e da Arte, muitas vozes se têm levantado para louvar ou alertar para este planeta em que vivemos.
Eis a voz do poeta brasileiro Manoel de Andrade,num belo e actual poema, o cântico da grande Dulce Pontes e dois registos videográficos sobre o futuro e o estado do planeta.
DISTOPIA
Nos diversos domínios do Saber e da Arte, muitas vozes se têm levantado para louvar ou alertar para este planeta em que vivemos.
Eis a voz do poeta brasileiro Manoel de Andrade,num belo e actual poema, o cântico da grande Dulce Pontes e dois registos videográficos sobre o futuro e o estado do planeta.
DISTOPIA
Como será o amanhã...!?
um itinerário sem destino?
um calendário de incertezas?
O que restará dessa anêmica biosfera...!?
do fluxo agonizante das nascentes...
das bandeiras hasteadas pela vida!?
Dia a dia e esse palco inquietante...!
esse escasso oxigênio,
essa delgada água,
esse termômetro assustador.
Ano a ano e a ampulheta do caos escorrendo lentamente nossas vidas...!
nessa paisagem devorada,
nesse carbono letal,
nesse mapa pontilhado pela morte.
(…)
Como será teu amanhã!?
um teclado de emoções?
um híbrido palpitar?
Com que apetite digitarás as tuas ânsias
degustando essa cultura cibernética?
digerido pelos circuitos virtuais,
pelo marketing neurológico das partículas,
por esse “chip” instalado no teu cérebro,
processando uma ordem dogmática: conecte, “navegue”, consuma...
Com que senha abrirás teu coração?
haverá um ícone para a solidariedade?
um link para a compaixão?
Qual a fronteira entre tu mesmo e a máquina?
quem são essas moléculas engenhosas?
esses átomos amestrados
a devassar teu íntimo recanto de criatura?
Como será nosso amanhã!?
Uma bússola sem norte?
um insulto à liberdade?
com que farol iluminaremos nosso rumo
acuados pela ousadia da violência
e sitiados pelo próprio livre-arbítrio?
Aqui e acolá as estreitas fronteiras do pânico...
esse semáforo que não abre...
esse alguém que te observa...
esse olhar engatilhado...
uma abordagem indigesta
e o cronômetro do pavor computando teu destino.
No roteiro dantesco da sobrevivência
reabres dia a dia tua agenda...,
é o teu cotidiano decomposto,
essa incerteza diária de chegar...
essas balas que assobiam no perímetro dos teus passos.
Como será nosso amanhã!?
Um mundo sem idioma?
um cântaro de fel?
Falo de um território dominado por estranhas hierarquias,
por facções tatuadas com os signos da maldade,
pelos mercenários do vício
enriquecidos pelos lucros homicidas.
Falo de uma legião de vítimas,
de uma síndrome cruel e invencível,
de criaturas e sonhos em farrapos.
Falo dos “juízes” da vida e da morte,
de sentenças e chacinas,
de um comando sinistro e impassível.
Falo da cidadania encurralada pelas milícias do ódio
e de um mercado inexorável do extermínio.
Como será o amanhã!?
um shopping de entretenimentos?
uma oficina de vaidades?
um imenso bazar de grifes e mesmices?
Quem sabe..., uma alameda “fashion”...
onde desfilam as esbeltas silhuetas da ilusão,
estampadas, dia a dia, nas páginas coloridas do glamour.
Ou, talvez, um teatro de incautos “marionetes”...
encenando a sensualidade e o acinte
na pública ribalta do hedonismo!
Como será o amanhã?
Um santuário virtual do “encanto”?
uma cidadela da luxúria?
Falo da explícita pedagogia do erotismo,
seus ícones, seus balcões,
suas vitrines pontocom.
De suas telas insinuantes,
seu varejo literário,
e sua indigesta ditadura musical.
Falo da sodomia on-line,
de devassadas alcovas eletrônicas
e desse promíscuo ritual de fantasias.
E pergunto, perplexo, pela pátria do amanhã...
e falo das paisagens sedutoras do poder,
desse cheiro putrefato que chega do planalto.
Falo de uma oficial voracidade...
dessa doméstica fauna de homens públicos,
...essa nossa biodiversidade insustentável.
Falo da ascensão vertiginosa da esperteza,
dessa inumerável galeria de “celebridades”,
trajadas com as fisiológicas legendas do poder.
Falo do escândalo nosso de cada dia,
da nação envergonhada por quadrilhas palacianas,
por dossiês sonegados e pelos crimes arquivados.
Falo dessa insultante presunção de inocência,
dessa triste balada da alma humana,
dançando pela culpa absolvida
e gargalhando com escárnio da justiça.
O que sobrará enfim desse perene banquete...!?
para onde caminha essa infantil humanidade...
embriagada pelo licor das ilusões
e indiferente à dor dos desgraçados?
Quem sabe reste um naco qualquer de fraternidade
para ser digerido com um gole de esperança...
um “cardápio” para os filhos da miséria,
uma migalha perene...
para saciar essa fome que janta, na calçada, o nosso lixo remexido.
E eis porque falo de uma alarmante geografia de lágrimas,
de uma favela planetária
de uma legião mundial de parias.
Falo de criaturas açoitadas pela vida
de um mundo que “não dorme e que não come”
que “não lê e não escreve”...
Como saciar tanta sede de justiça?
como conter essa fome parindo seus herdeiros?
Ó Senhores...é tão triste ironizar a esperança
mas diante dessa insólita passarela
nós nos perguntamos: o que se espera dessa sórdida assembléia ???
Um projeto político para a solidariedade humana?
ou emendas com intenções inconfessáveis,
retórica ambiental e ongs humanitárias?
E o que se pode esperar desse desfile de beldades...
novas “tendências” para a fraternidade
um “estilo de vida” para os excluídos,
finos “tecidos” para cobrir o pudor dos maltrapilhos!!!???
Ou, talvez, “padrões” mais “chiques” de caridade,
“estampas” coloridas para a compaixão,
melhores “ângulos” para fotografar a beneficência!!!???
Mas afinal quem ousa desfilar nessa excêntrica avenida!?
quem são essas almas extraviadas,
essas tribos debochadas?
Quem comanda essas falanges
essa alcatéia de homo sapiens,
de corruptos e deslumbrados,
de perversos e pervertidos?
Que poder é esse...
esse paradigma sombrio que invadiu nossa decência?
Que poder é esse?
potencial, subliminar, imprevisível...
É uma corporação, uma egrégora ???
Falo de um império global com seus invisíveis tentáculos,
seu discurso sedutor,
suas catilinárias e suas litanias,
suas metáforas globalizadas,
seus descarados silogismos e seus slogans mentirosos.
Quem são eles?
nossos irmãos bastardos,
nossa herança cármica,
nosso “presente de grego” ?
Digo que é um sinistro “cavalo de Tróia”
há meio século parindo suas satânicas criaturas
invadindo todos os caminhos
disputando os espaços da ilusão
conquistando todas as trincheiras
mascarando a liberdade
ironizando os códigos da verdade
silenciando a voz do coração.
São os negociantes do poder
os mercadores do sexo
as falanges do vício.
São os falsos profetas,
os tribunos celestes da intolerância
franqueados pela simonia
inaugurando um templo em cada esquina.
São os senhores do mundo e do impasse
manchados com as cores da discórdia.
São os fabricantes da bomba,
os que gargalham sobre o sangue dos caídos.
Seus nomes se escrevem em todos os idiomas,
se escrevem sob o signo de uma águia poderosa,
com os mortos e os órfãos das nações vencidas.
Se escrevem com as siglas planetárias da ganância
e com os filhos planetários da miséria
Senhores...para onde caminhamos...?
em que galeria serão expostas nossas ‘artes’...?
o que revelarão amanhã nossos retratos de Dorian Gray”,
pincelados com as cores da cobiça e da luxúria.
Falo da alma humana adoecida por chagas milenares
e pergunto como surgirá nossa face no espelho do amanhã...
maquiada com as sombras do orgulho e do egoísmo
e tatuada com tantos desatinos.
Falo dessa estesia emasculada,
dessa irreverente cadência de vaidades.
Falo dessa máscara hilariante da “felicidade”,
de criaturas tombadas do abismo da ilusão.
E diante de “triunfo de tantas nulidades”
Todos afinal nos perguntamos: como descrever o enredo do futuro???
Será um show permanente de aparências
ou uma trincheira de gangues e facções?
Será uma ilha oficial da fantasia
ou o gueto planetário da miséria?
Será ainda um vale semeado de ambição
ou já um planeta inteiramente saqueado?
(Ah! esse mundo sitiado...
essa convivência pari passu com a maldade...
esse estresse à flor da pele...
esse desencanto, essa impotência...
esse presente sem sentido do amanhã...)
O que restará do estado de direito
das Bastilhas e dos muros derrubados
das bandeiras hasteadas sobre o sangue dos tiranos
o que restará do Sermão da Montanha e das chagas do Calvário
da revolução de outubro e do sonho de Ernesto
quem manterá acesa a memória luminosa dos heróis
quem defenderá a trincheira da decência
quem ousará dizer não
o que acontecerá com os últimos rebeldes
Senhores..eu vos peço perdão...
por este lirismo sombrio,
pelos meus versos perplexos,
por esse indigesto cantar.
Senhor, nós te pedimos perdão...
por tantas balas perdidas,
por tantas pérolas aos porcos
e pelos dossiês da vergonha.
Perdão Senhor
pela pedofilia online
e pela inocência ultrajada.
Perdão pelas cartilhas da vaidade
e as dietas assassinas.
Nós te pedimos perdão
por esses ninhos queimando,
por essa relva secando,
por essa floresta no chão.
Perdão, Senhor, por esses cardumes boiando
pelos rios asfixiados
por essas águas morrendo
Perdão pelas chaminés borbulhantes,
por essas folhas exaustas,
pela agonia do ozônio,
por essa Gaia ferida.
(...)
Curitiba, 12 de Dezembro de 2006
Manoel de Andrade, in Cantares, Escrituras Editora, São Paulo, 2007, Brasil
A Terra e o Futuro :
"Mudanças climáticas põem em risco o futuro do planeta e também o de nossos filhos e netos. Essas mudanças no clima nos últimos 200 anos afectaram a saúde da Terra. O efeito das mudanças climáticas é o aquecimento global.
Investigações apontam que a actual crise climática dá à impressão de estar ocorrendo lentamente, mas a verdade é que está acontecendo muito depressa e se está convertendo numa verdadeira emergência planetária. Segundo o Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), a temperatura média do planeta subirá 4 graus até o fim do século, se mantiver o crescimento dos níveis de poluição da atmosfera.
A Terra tem febre.
Calor, secas, incêndios, tempestades, vulcões, inundações e correntes frias com neve atingem simultaneamente diferentes áreas de um mesmo continente. O clima mudou completamente tanto que nem dá mais para perceber as quatro estações do ano.
Os cientistas atestam que a mão humana está por detrás das actuais alterações climáticas. A era industrial agravou a doença da Terra, pois a concentração de dióxido de carbono na atmosfera está aumentando cada vez mais. Este gás é um dos principais responsáveis pela criação do efeito estufa que está provocando essas alterações climáticas na Terra.
Com isso, várias catástrofes atmosféricas vêm acontecendo constantemente e vitimando terrivelmente a humanidade nos últimos tempos. Houve tsunami, inundações, furacões, terremotos, ciclones... Desmatamentos assassinos, agressões às espécies, ameaçando-as de extinção, poluição da água e do ar, tudo isso esteriliza a fecundidade da terra.
A terra está doente e agoniza e nós não estamos sabendo cuidar dela!"
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