Il n'existe qu'une façon de lire et elle consiste à flaner dans les bibliothèques ou les librairies, à prendre les livres qui vous attirent et ne lire que ceux-là, à les abandonner quand ils vous ennuient, à sauter les passages qui traînent et à ne jamais rien lire parce qu'on s'y sent obligé, ou parce que c'est la mode.
Doris Lessing, Carnet d'or
Prefiro ser lido muitas vezes por um só do que uma só vez por muitos.
Paul Váléry, Cahiers
Os livros são a obra-prima que todos nós temos como sendo nossa. Comprámo-la onde queremos para a termos onde desejarmos. Não interessa se quem a produziu tenha os direitos de autor. A consciência de obra-prima passa pelo conhecimento da nossa incapacidade para a produzir. Sabemos que só alguém com talento a soube criar para nós. Pertence-nos desde o momento que a descobrimos, que a adquirimos. É nossa. E como obra-prima é objecto da nossa atenção , do nosso deleite, da nossa constante e infinda devoção. Com ela abrimos horizontes, por ela descobrimos que somos universais: o mundo entra-nos pela porta sem que tenhamos de sair de qualquer lugar. E quando o amor se descobre no artista que a produziu , os laços agregam-se em ritos. Lemos e relemos todas as suas obras. Um lugar é-lhe atribuído junto àqueles que já lá moram: o retábulo dos eleitos.
Catalogamos os nossos livros por autores. Alguém disse que levamos uma vida inteira a ler para descobrir os livros ou os autores que releremos na velhice. E daí que o acto de leitura tem um ritual que se vai construindo . Descobrimos o primeiro livro para ler o segundo , comprar o terceiro e nunca mais deixar de os querer. Vamos lendo por prazer , por necessidade, por estudo , por consulta até que passamos a ler apenas o que nos enleva, o que nos toca. A liberdade de rejeitar torna-se nossa. Lemos o que lemos porque a soma de tanta leitura nos dá o direito de leitor, daquele que escolhe os escritores da sua vida.
Os livros são a obra-prima que todos nós temos como sendo nossa. Comprámo-la onde queremos para a termos onde desejarmos. Não interessa se quem a produziu tenha os direitos de autor. A consciência de obra-prima passa pelo conhecimento da nossa incapacidade para a produzir. Sabemos que só alguém com talento a soube criar para nós. Pertence-nos desde o momento que a descobrimos, que a adquirimos. É nossa. E como obra-prima é objecto da nossa atenção , do nosso deleite, da nossa constante e infinda devoção. Com ela abrimos horizontes, por ela descobrimos que somos universais: o mundo entra-nos pela porta sem que tenhamos de sair de qualquer lugar. E quando o amor se descobre no artista que a produziu , os laços agregam-se em ritos. Lemos e relemos todas as suas obras. Um lugar é-lhe atribuído junto àqueles que já lá moram: o retábulo dos eleitos.
Catalogamos os nossos livros por autores. Alguém disse que levamos uma vida inteira a ler para descobrir os livros ou os autores que releremos na velhice. E daí que o acto de leitura tem um ritual que se vai construindo . Descobrimos o primeiro livro para ler o segundo , comprar o terceiro e nunca mais deixar de os querer. Vamos lendo por prazer , por necessidade, por estudo , por consulta até que passamos a ler apenas o que nos enleva, o que nos toca. A liberdade de rejeitar torna-se nossa. Lemos o que lemos porque a soma de tanta leitura nos dá o direito de leitor, daquele que escolhe os escritores da sua vida.
23 de Abril, Dia Internacional do Livro. Ano de 2016 ,dia dos 400 anos da morte de Shakespeare e o dia seguinte àquele que regista também a morte do grande Miguel Cervantes. Dois nomes que se eternizarão no retábulo da memória literária dos tempos.
Todos os lemos. Descobrimo-los, talvez, em idades diferentes, por razões diferenciadas ou apenas pelo prazer da leitura. O gosto pelos livros é o motor que acelera a descoberta.
Neste últimos dias , tenho tido como companheiros três livros que releio. Gosto de desenvolver várias leituras, em simultâneo. Uma delas materializa-se no livro de um autor eleito, Eugénio Lisboa, o mais brilhante crítico literário destes séculos. Transcrevo um excerto que revela quão importante é ler para descobrir o que nos seduz e o que nos desencanta.
Todos os lemos. Descobrimo-los, talvez, em idades diferentes, por razões diferenciadas ou apenas pelo prazer da leitura. O gosto pelos livros é o motor que acelera a descoberta.
Neste últimos dias , tenho tido como companheiros três livros que releio. Gosto de desenvolver várias leituras, em simultâneo. Uma delas materializa-se no livro de um autor eleito, Eugénio Lisboa, o mais brilhante crítico literário destes séculos. Transcrevo um excerto que revela quão importante é ler para descobrir o que nos seduz e o que nos desencanta.
"4.4.97, S.
Pedro – Ontem, o dia todo em Aveiro. De manhã, conversa com uma aluna, que vai
fazer, com outro professor, uma tese de mestrado sobre a decantada identidade
portuguesa. Tinha-lhe falado, en passant, nos contos de Domingos Monteiro. E em
outros livros dele. Ligado ao Pascoaes e um pouco à gente da filosofia
portuguesa, talvez aí encontrasse material a trabalhar. Não que eu sintonize
com a chamada “filosofia portuguesa”, que nem sei bem o que seja. Mas a ordem
de preocupações deles talvez ajude – nem que à rebours – a identificar um ou
outro ingrediente.
(...)
Dei uma aula
sobre Jorge de Sena. Olhava para as alunas, um pouco perplexo, e perguntava-me:
“Que significa tudo isto, para elas? De
que estou a falar-lhes? Haverá, entre mim e elas, algum denominador comum?”
Tentei saber como reagiram ao que lhes lera. Viajo sem mapas e sem sinais. Há,
entre elas e mim, um fosso de 40 anos, dos quais, 17 vividos em Inglaterra e os
outros em Moçambique, Paris, Estocolmo e África do Sul. Falaremos a mesma
língua? Saio das aulas sempre um pouco perplexo.
À tarde, o
simpático Luis Serrano, geólogo e óptimo poeta, vem buscar-me para me mostrar a
Fundação Cultural, instalada num magnífico edifício, no centro de Aveiro.
Depois fomos tomar um refresco e cavaquear. Soube-nos bem. Isto de estar num
Café ou numa esplanada a conversar com amigos também vai acabando. As pessoas não têm tempo. Andam todas a gerir
quatro empregos, a estafar-se, a chegar ao momento da verdade, com a surpresa
brutal de que tudo acabou depressa e não se chegou a saber what was it all
about.
Falámos de
Joyce. Ele encetou, a medo, uma hipótese, vaga, de reserva… Disse-lhe, brutal e
provocante: “É um chato.” Riu, aliviado. É sempre a reacção que obtenho, de
interlocutores, quando assim lanceto a bolha. O Joyce será realmente apreciado?
Quantas pessoas têm a coragem e a limpidez de dizerem o que de facto pensam das chamadas
obras-primas imortais? Valéry a Gide: “Conheces algum livro mais enfadonho do
que a Ilíada?” Gide, sobressaltado,
mas conciliador: “Conheço: La Chanson de
Roland”. [Ou Montherlant, comentando o livro Les Pages Immortelles de Goethe: “Se isto são as páginas imortais
de Goethe, o que não serão as páginas que não são imortais…” O importante não é
estarmos de acordo com estes “atrevimentos” – o importante é haver quem seja
capaz deles, - Escrito em Fevereiro de 2015]."
Eugénio Lisboa, in " Acta Est Fabula. Memórias- V- Regresso a Portugal:1995-2015),Editora Omnia Opera, pp.128,129
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