Por Anselmo Borges
“Pascal observou agudamente nos Pensamentos:
"Jesus estará em agonia até ao fim do mundo; é preciso não dormir durante
este tempo." Todos sabemos do "calvário" do mundo, e as
personagens são as mesmas.
1. Jesus sabia que, a continuar nas suas
palavras, atitudes e comportamentos, o que o esperava era a morte, condenado
pelos poderes religiosos e políticos. Assim, realizou uma ceia, a Última Ceia:
"Isto é o meu corpo", "este é o cálice do meu sangue".
Aquele pão e aquele vinho são a sua pessoa entregue, para dar testemunho da
Verdade e do Amor.
2. Judas era discípulo, mas sentiu-se enganado,
porque Jesus não tomava o poder. Assim, entregou-o, tendo recebido trinta
moedas de prata. Depois, perdido, enforcou-se. De que valera aquilo? Mas o
dinheiro, em conluio com o poder político, continua a ser o móbil da entrega de
milhões de inocentes à ignomínia e à morte.
3. Fora Caifás, o sumo sacerdote, que dera este
conselho: "Interessa que morra um só homem pelo povo." Tinha medo do
poder dos romanos. Quantos inocentes não foram e são vítimas da razão de Estado
ao longo dos tempos!
4. No Getsémani, Jesus entrou em pavor e
angústia, pôs-se a rezar instantemente e suou sangue. Deus aparentemente não o
ouviu, até os discípulos mais íntimos adormeceram. Todos, de um modo ou outro,
fomos, seremos, confrontados com horas do horror da solidão mortal.
5. Jesus é condenado em primeiro lugar pela
religião oficial, cujos sacerdotes viram os seus poderes e privilégios
ameaçados. Do pior que há: viver à custa da religião e condenar à humilhação, à
submissão e indignidade, à violência, à morte, utilizando o santo nome de Deus.
6. Pedro era um homem espontâneo, amigo e
generoso. Tinha prometido que acompanharia Jesus para todo o lado. Seguiu-o de
longe até à casa do sumo sacerdote. Aí, uma criada atirou-lhe: "Esse
também estava com ele." Pedro acobardou-se e negou o Mestre. Depois,
recordou-se da palavra de Jesus: "Antes de o galo cantar, negar-me-ás três
vezes." "E, vindo para fora, chorou amargamente." Ainda hoje
aparece por vezes um galo nas torres das igrejas lembrando o facto. Pedro foi o
primeiro papa. A Igreja está assente na fé de Pedro, uma fé vacilante e sempre
ameaçada. "Senhor, aumentai a minha fé."
7. O conselho dos anciãos do povo, sumos
sacerdotes e escribas levaram Jesus ao seu tribunal. Não tendo poder para o
executar, entregaram-no a Pilatos, o governador romano, representando o
império. Pilatos ter-se-á apercebido da inocência de Jesus. Mas, ao ver que os
judeus se não calavam e que podiam acusá-lo ao imperador, lavou as mãos e
mandou crucificá-lo. Pilatos é talvez o nome mais repetido ao longo dos
séculos, porque está no Credo. Lavou as mãos, proclamando inocência. Mas elas
estão manchadas pelo sangue de um poder cobarde. Ainda hoje se diz de alguém
que se encontra num lugar indevido: "Está ali como Pilatos no Credo."
8. A multidão gritava: "Crucifica-o,
crucifica-o." No Domingo de Ramos, tinha aclamado Jesus: "Hossana,
hossana ao filho de David!" Não se pode confiar nas multidões: são
volúveis, interesseiras, manipuláveis. No fim, preferiram Barrabás.
9. Ao saber que Jesus era galileu, Pilatos
remeteu-o a Herodes, que se encontrava naqueles dias em Jerusalém e que tratou
Jesus com desprezo. Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois antes viviam em
mútua inimizade. Interesses comuns, políticos, económicos e outros, podem levar
ao corte de relações ou à amizade. Mas será amizade mesmo?
10. Simão de Cirene foi obrigado a carregar com
a cruz. Na via dolorosa da vida, também há cireneus, gente que apoia, por vezes
até forçada. Mas apoia.
11. Os soldados riram-se, fizeram chacota e
imensa troça de Jesus. Afinal, a sua própria vida não era feliz.
12. As mulheres, talvez porque são mais
cuidadoras da vida e amem mais, foram as únicas que não fugiram e estiveram sem
medo junto à cruz.
13. Mesmo no final e na suprema dor, os seres
humanos comportam-se de modo diferente. Também foram crucificados dois
malfeitores: um continuou a blasfemar, o outro reflectiu e pediu a Jesus que se
lembrasse dele no seu Reino. O centurião deu glória a Deus: "Realmente
este Jesus era justo."
14. No total abandono, Jesus perdoou a quem o
matava, e rezou, a gritar, perguntando, aquela oração que atravessa os séculos:
"Meu Deus, meu Deus, porque é que me abandonaste?" Deus não disse
nada, mas Jesus continuou a confiar: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu
espírito."
15.
Depois, os discípulos fizeram a experiência avassaladora de fé de que este
Jesus crucificado está vivo em Deus, e acreditaram, porque Deus é Amor. Nasceu
assim a esperança para todas as vítimas da história. Mas é em Sábado que
vivemos: entre o horror da Sexta-Feira e a esperança do Domingo da Páscoa." Anselmo Borges, em Crónica publicada no DN de 16.03.2016
O texto do Padre Anselmo Borges é interessante e percorre de perto o a vida de Jesus nos momentos cruciais da sua existência. No entanto, neste dia, eu prefiro o relato da Paixão e Morte de Jesus Cristo de S. João, porque é a partir deste texto que eu, solitário e silencioso, posso,-e devo, -fazer a minha ressonância.
ResponderEliminarUma Santa Páscoa para todos.
Luís Monteiro
Fé, amor e esperança - que mais poderemos rogar ao Senhor de Todos nós?
ResponderEliminarFé, amor e esperança - que mais poderemos rogar ao Senhor de Todos nós?
ResponderEliminarVivemos entre o horror das guerras, mas num caminho com esperança, vivemos com a ganancia do poder, a isso digo são os que andam em trevas. Enquanto os corações não não deixarem ganancia de lado, e viver fazendo a diferença, vamos viver entre entre horrores e esperança.
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