Pediram-lhe
prodígios e benesses,
Como aos
outros Rabis, ou feiticeiros.
Mas o pior
foi que, sob esses,
Mataram seus
milagres verdadeiros.
No pão e
vinho que lhes deu, - provaram
Seu corpo e
sangue, à santa mesa.
E a seguir,
com um ósculo O entregaram,
E O negaram
três vezes por fraqueza.
Mas o pior
foi quando , sem figueira
Nem lágrimas contritas,
O
atraiçoaram de maneira
Que às
traições chamam benditas!
(…)
Na cruz
infame O ergueram moribundo
Entre os
dois justiçados desse dia.
Tremia a
máquina do mundo
Quando,
invocando o Pai, Ele desfalecia…
Tremia a
máquina do mundo, e trevas
Caíram sobre
a terra, e o sol baixara,
Quando Ele
se extinguiu, perante as levas
Da
soldadesca ignara.
Espetaram-lhe
a lança, - estava morto,
Sangue
manou, com água, dessa chaga…
Mas o pior é
que, para nosso conforto,
Já tudo a
Pia de água benta alaga!
No sepulcro
O fecharam, e lhe deram
Guardas, -
para impedir a sua Ressurreição.
Nada os
guardas fizeram,
Que
adormeceram, e Ele abriu a pedra do caixão.
Mas o pior
foi que, ressuscitado,
Depois das
mil sessões dum Teológico Processo,
Fizeram de
Ele um Trino abstracto e complicado,
Ou um
coração-de-Jesus gesso.
Os que ele
mesmo ungira, temerosos
Do pânico
Segredo,
Quando se
lhes mostrou ficaram duvidosos,
Sobre a
chaga quiseram pôr o dedo.
Mas o pior
foi quando, não descrentes,
Sobre dogmas
e incenso O ergueram no seu sólio,
E, nos
degraus sentando-se, imponentes,
Fizeram de
Ele monopólio.
Perdoa-lhes,
Jesus! Não sabem o que fazem.
Rodam em
dédalos sem fulcro…
Ou nunca
mais virás, aos limbos em que jazem,
Quebrar, não
já o teu, mas sim o seu sepulcro.
José Régio,
in Chaga do Lado, Portugália Editora
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