sábado, 12 de março de 2016

Sobre a Alegria e a Felicidade

 

Alegria também pode provocar doenças cardíacas, indica estudo suíço
"Um estudo suíço concluiu que dores no peito e falta de ar podem ser causadas não apenas pelo stress emocional despertado por momentos de raiva, tensão e pesar, mas também pela alegria.
De acordo com investigadores do Hospital Universitário de Zurique, pelo menos um entre cada 20 casos da cardiomiopatia de Takotsubo, uma alteração no ventrículo esquerdo do coração ligada ao stress, é causado por alegria em excesso. As conclusões foram divulgadas na publicação científica European Heart Journal.
A condição costuma ser temporária - os pacientes geralmente recuperam.
O estudo do hospital analisou 1.750 pacientes. Os médicos descobriram que alguns deles apresentaram problemas cardíacos causados por uma série de ocasiões felizes, entre elas:

Uma festa de aniversário
O casamento de um filho
Um reencontro de amigos após 50 anos
Tornar-se avó
A vitória de uma equipa desportiva
Ganhar num casino

Segundo os pesquisadores, a maioria dos casos era de mulheres que passaram pela menopausa.
Jelena Ghadri, uma das cientistas, disse que o estudo revelou a existência de mais mecanismos por trás da cardiomiopatia de Takotsubo, desafiando o estereótipo de quem sofre da doença - geralmente definido como paciente da «síndrome do coração partido».
«A doença também pode ser causada por emoções positivas. Os médicos precisam de estar a par de que pacientes que chegam às urgências de um hospital também podem estar a sofrer da síndrome de Takotsubo mesmo depois de um evento feliz.»
Ghadri afirma que os resultados sugerem que tristeza e alegria partilham o mesmo «caminho emocional» que leva à doença."DD,6/03/13

Felicidade e Alegria
“Não creio que se possa definir o homem como um animal cuja característica ou cujo último fim seja o de viver feliz, embora considere que nele seja essencial o viver alegre. O que é próprio do homem na sua forma mais alta é superar o conceito de felicidade, tornar-se como que indiferente a ser ou não ser feliz e ver até o que pode vir do obstáculo exactamente como melhor meio para que possa desferir voo. Creio que a mais perfeita das combinações seria a do homem que, visto por todos, inclusive por si próprio, como infeliz, conseguisse fazer de sua infelicidade um motivo daquela alegria que se não quebra, daquela alegria serena que o leva a interessar-se por tudo quanto existe, a amar todos os homens apesar do que possa combater, e é mais difícil amar no combate que na paz, e sobretudo conservar perante o que vem de Deus a atitude de obediência ou melhor, de disponibilidade, de quem finalmente entendeu as estruturas da vida.
 Os felizes passam na vida como viajantes de trem que levassem toda a viagem dormindo; só gozam o trajecto os que se mantêm bem despertos para entender as duas coisas fundamentais do mundo: a implacabilidade, a cegueira, a inflexibilidade das leis mecânicas, que são bem as representantes do Fado, e cuja grandeza verdadeira só se pode sentir bem no desastre; é quando a catástrofe chega que a fatalidade se mede em tudo o que tem de divino, e foi pena que não fosse esta a lição essencial que tivéssemos tirado da tragédia grega; como pena foi que só tivéssemos olhado o fatalismo dos árabes pelo seu lado superficial.
 Por outra parte, é igualmente na desgraça que se mede a outra grande força do mundo, a da liberdade do espírito, que permite julgar o valor moral no desastre e permite superar, pelo seu aproveitamento, o toque do fatal; não creio que Prometeu estivesse alguma vez verdadeiramente encadeado: talvez o estivesse antes ou depois da prisão; mas era realmente um espírito de liberdade e um portador de liberdade o que, agrilhoado a montanha, se sentiu mais livre ainda; porque podia consentir ou não no desastre, superá-lo ou não, ser alegre ou não. E este ser alegre não significa de modo algum a alegria daquele tipo americano de «Quebre uma perna e ria»; acho que eram muito mais alegres as pragas dos velhos soldados de Napoleão. No fundo é o seguinte: é necessário, ajudando a realizar o homem no que tem de melhor, que a mesma energia que se revelou pela física no mundo da extensão, se revele pelo espírito no mundo do pensamento e domine a primeira vaga de energia, como onda rolando sobre onda mais alto vai. E mais ainda: que pelo momento de infelicidade, o que não poderá nunca suceder no caso da felicidade, entenda o homem como as duas espécies ou os dois aspectos de energia se reúnem em Deus. Só por costume social deveremos desejar a alguém que seja feliz; às vezes por aquela piedade da fraqueza que leva a tomar crianças ao colo; só se deve desejar a alguém que se cumpra: e o cumprir-se inclui a desgraça e a sua superação.
Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos', Âncora Editora

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