El Coloso, 1808 - 1812, Óleo sobre tela,116 cm × 105 cm
Museu do Prado, Madrid
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9.02.2016
O dia começou com o anúncio
de um choque de comboios, na Alemanha. Entretanto, já tinham passado imagens
dos refugiados que chegam à ilha de Lesbos. Não há um dealbar de um dia que não seja trágico. Uma
tragicidade medonha porque diz respeito ao Homem. Anunciar mortes parece ser a primeira função dos órgãos de
comunicação social. E a força das imagens é tão forte que nos faz asfixiar. Uma
dor que pesa e sufoca. Mas, para alguns, toda esta frequência vai redundar em banalização do sofrimento. O horror passa
a conviver com o homem, em quase normal e natural parceria. E quando isso
acontecer , está instalada uma sociedade anestesiada, imune e indiferente ao que vai para lá do bairro,
da Praça , da Rua, da própria casa. No entanto, a tragédia é real. Acontece.
Trata-se de gente que tem nome. Que existe.
“Um grande pensador do nosso
tempo disse uma vez que todo o homem pode conhecer, dentro de sua casa, tudo
aquilo que vale a pena conhecer. A beleza, o amor, o sentido da dor e da morte,
a inocência e a culpa – cada pessoa, cada objecto, cada quarto contém o que o
mundo lá fora possui. “
Quando o afirmou não pensou
, certamente, em alguns noticiários e programas televisivos. Naqueles que, além de naturais anúncios, exploram os acontecimentos, repetida e panoramicamente, em imagens servidas
,
em doses brutais. O mal, a
desgraça, a dor, os cataclismos que atingem o homem são a matéria , a essência.
Um número infindável de vítimas compõe qualquer mediático ramalhete fúnebre.
O repúdio que implode, perante tanta repetição,
acaba por ser defensivo. A dor não pode preencher as grelhas de programações
diárias e invadir a casa de cada um. Coarcta
o natural desejo de informação, de saber do mundo, do país , das gentes.
Se o Zika é a praga do
momento e a mais recente ameaça mundial, não há noticiário que não exiba um
mosquito, em lente macroscópica, que nem o insecto do célebre livro A Metamorfose de Kafka se agiganta tanto. E ver um insecto
pernicioso invadir a casa, o sonho de refúgio protector, de território privado quase se esboroa. O remédio é, ou será, desligar
aquele aparelho assustador que tanto sofrimento provoca.
Os crimes passionais,
aqueles, que na voz do povo, não passam de crimes de faca e alguidar, são estrelas
maiores . Constantes e abundantes, acontecem nos lugares mais recônditos, perpetrados
com estranha e original arte. A descrição é minuciosa e com apurados zooms dos vestígios e das armas do crime.
A vítima ou o agressor só aparecem quando a sorte é grande. Então, as
reportagens adquirem um fôlego atlético. São para durar, enquanto não houver
crime, desgraça, malvadez maior para vencer.
E se a matéria da desgraça é
preciosa, a matéria da governação confunde. São imagens deprimentes que debitam
palavras a altos governantes de um recente empossado governo. Um orçamento que
viajou entre Bruxelas e Lisboa e que nos
degraus do acordo interpartidário se vai estatelando. E , de repente,
todos nós, mediana classe de uma sociedade
empobrecida, descobrimos que somos ricos e privilegiados.
Ó
gente da minha terra
Agora
é que eu percebi
Esta
tristeza que trago
Foi
de vós que recebi.
MJVS, 9.02.2016
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