"Sobe à colina
olha o poente e o mar -
verás a eternidade.
Sorri à flor
capta o insensível do seu odor -
sentirás a eternidade.
Pára, escuta o inescutável do Ser
ausculta a melodia do Cosmos -
captarás a eternidade."
José Nuno Pereira Pinto, "Que Passem Sorrindo - Poesia reunida 1982-2004, Editor: Atelier de Produção Editorial, 2005
olha o poente e o mar -
verás a eternidade.
Sorri à flor
capta o insensível do seu odor -
sentirás a eternidade.
Pára, escuta o inescutável do Ser
ausculta a melodia do Cosmos -
captarás a eternidade."
José Nuno Pereira Pinto, "Que Passem Sorrindo - Poesia reunida 1982-2004, Editor: Atelier de Produção Editorial, 2005
Para quem conhece Luanda ou a esteja a descobrir, nada ficará visto se não for à Fortaleza
de São Miguel. E é quando chega ao cimo da colina, antigo monte de São Paulo e, das ameias, lança o olhar que divisa a verdadeira beleza desta cidade. A
nossos pés, Luanda saúda-nos, em traje de
gala.
O horizonte azul,
quando o dia está luminoso e prateado,
quando o sol preguiça, impõe-se na largueza do Oceano. Então, compreende-se por
que razão quem a achou, ali fez erguer um Forte. A descoberta é imediata . Entra-nos pelos
olhos, sem qualquer resistência. Erigiu-se
uma fortaleza do olhar para vários olhares . Originalmente, o olhar seria
sobre quem chegava, quem partia ou quem vinha sem ser quisto. Nos dias que
correm, o olhar será para quem apenas quer
captar as sombras da eternidade: o olhar
dos que se deixam assombrar.
Visiona-se tudo, quase em simultâneo. Do
lado direito, a estibordo, frente ao mar, surge o Porto de Luanda,
perdulário e generoso ao permitir que as barrocas se aproximem até tocarem a
linha de prédios e construções que convive em gregária confraternização. Mas,
em contínuo namoro, começa ali a majestosa Marginal, Avenida 4 de
Fevereiro, para circundar uma baía que se estende pacificamente pelo mar
até ser debruada, a bombordo, pela Ilha do Cabo.
Rodando para essa direcção , surge, ao fundo,
o desenho misterioso da Ilha do Mussulo , separado da Praia do Bispo pelo
mar. Vestígios de uma precária sanzala assinalam a demolição de muitas
casas. Escandalosamente, colinas de lixo encimam um musseque que resiste
agónico às mandíbulas das escavadoras.
A nova Luanda está ávida de espaço. Alarga-se desbragada e despudoradamente. O tempo ditará como se embeleza arquitectonicamente uma cidade.
À
ré , dorme a velha e a nova Luanda numa
simbiose pecaminosa. O sputnik, o monumento memorial do primeiro Presidente de
Angola, Agostinho Neto, ergue-se no céu fazendo jus ao nome por que é designado em gíria local.
O
Palácio Presidencial fecha-se numa proximidade imponente e defensiva. A igreja dos Jesuítas, onde se encontra sepultado Paulo Dias de Novais, fundador
da cidade de Luanda, acena-lhe quase em bênção
para que os altos poderes se traduzam numa boa e justa governação.
A
Fortaleza de São Miguel de Luanda é uma fortificação edificada no ano
de 1634 . Ao longo dos anos teve várias utilizações de acordo com os interesses de cada época. No século XX , no final da década de trinta, foram realizadas
importantes obras tendo em vista a sua adaptação a Museu da
História. A parte das obras mais relevante e que melhor acolhimento teve,
pelo seu elevado valor artístico, foi o revestimento das paredes interiores da
casamata com painéis de azulejos, do estilo da azulejaria portuguesa
do século XVIII, com a singular beleza dos azuis cobalto.
A degradação do Museu foi ocorrendo até que se optou pela sua renovação tendo sido restaurados por especialistas ,Atelier Escola Antiga, todos os painéis que revestiam as paredes.
As portas de um Museu totalmente renovado foram abertas em 2013, a 4 de Abril, Dia da Paz, em Angola.
Vista da cidade de S. Paulo de Luanda no século XVII. Painel inspirado numa gravura da obra de Dapper, «Discription d'Afrique», Amesterdão, 1688
Painel representando a chegada a África das naus portuguesas, inspirado em aguarela de Roque Gameiro.
Painel representando o baptismo da Rainha Ginga.
Painel representando a reconquista de Luanda aos Holandeses por Salvador Correia de Sá Benevides em 1648.
Painel com uma vista de S. Paulo de Luanda, em 1856.
Painel dividido ao meio com um frontespício (F1) da obra de Cadornega. Lado Esquerdo tem uma vista das quedas de água Duque de Bragança no Lucala, (agora chamadas Quedas de Kalandula) inspirada numa foto do IICT, (arquivo Histórico Ultramarino). Lado direito do painel ,aspecto das Pedras de Ielala no rio Zaire (gravuras na rocha feitas por Diogo Cão no limite da navegabilidade do rio Zaire em Out/Nov de 1485 ), inspirado em gravura antiga.
“Foi a primeira
fortificação a ser erguida em Luanda, no século XVI, durante o governo de Paulo
Dias de Novais, primeiramente construída em taipa e adobe, substituídos em 1638
por barro, taipa e adobes. Nessa época, apresentava a forma de uma estrela com
quatro pontas, com o sistema abaluartado, segundo os métodos italianos mais actualizados da época, sobretudo os do mestre Benedetto da Ravenna. Depois de
oito anos de ocupação holandesa, começou a ser construída em alvenaria em 1669,
fazendo parte das obras obrigatórias dos sucessivos governadores. Finalmente,
no governo de D. Francisco de Sousa Coutinho (1764‐1772), as obras terminaram,
com a construção de uma bateria do cavaleiro, armazéns à prova de bomba e uma
cisterna que ficou conhecida como Cova da Onça, seguindo o estilo barroco
militar, na base da ambiguidade, pluralidade e descentramento. Os muros foram‐se
consolidando em pedra e cal em diferentes épocas, concluindo‐se já no século
XX. Ficava assim completa a Fortaleza de São Miguel, a maior obra de engenharia
militar de Angola.
Ao longo de 500 anos, o edifício foi-se transmutando continuamente. Reconstrução após reconstrução, não parou de mudar até aos inícios do século XX. O nome definitivo – Fortaleza de São Miguel – foi-lhe atribuído em 1650 por Salvador Correia, o responsável pela expulsão dos holandeses de território angolano.Com uma função eminentemente militar, o edifício passou a acolher, a partir de 1876, o chamado Depósito de Degradados. Por ali passaram milhares de desterrados portugueses – bandidos, criminosos, indesejados , entre os quais o famoso Zé do Telhado. O papel na história da então colónia foi determinante. Segundo os especialistas, a Fortaleza de São Miguel foi a única, em toda a África, a fundir canhões para a sua própria defesa.
Do ponto de vista urbano, a fortaleza foi sempre um marco
ordenador do espaço da cidade. Nos primeiros tempos, foi o limite do aglomerado
que se desenvolvia para sudoeste, em direcção à Praia do Bispo. Mais tarde,
cerca de 1648, quando a Barra da Corimba ficou assoreada, a cidade passou a
desenvolver‐se para o lado norte, do outro lado do morro, mantendo desta forma
o seu papel ordenador. Foi classificada como Monumento Nacional pela portaria
provincial n.° 2837, publicada no Boletim Oficial n.° 48, de 02.12.1938. Actualmente,
é Museu das Forças Armadas.
O Museu Nacional
de História Militar de Angola, sucede ao “Museu Central das Forças Armadas” que
ali estava instalado desde 1978, em condições precárias e com muitos dos seus
elementos museológicos degradados. O Museu foi restaurado e tem excelentes
condições. O acervo está totalmente recuperado e a Fortaleza foi sujeita a
trabalhos que a deixaram muito imponente e esbelta. No cimo do “morro da
fortaleza”, antes conhecido por monte de São Paulo – santo que também já deu
nome a esta construção militar, assim como “Forte Aardenburgh” durante a
ocupação holandesa da cidade (1641 a 1648) – unindo a cidade à “ilha”
distingue-se hoje uma bandeira de Angola de enormes dimensões e a renovada
fortificação.
Esta “Bandeira-Monumento” com 18 metros de comprimento e 12 de largura, inaugurado na mesma data que o Museu, a 4 de Abril –Dia da Paz e Reconciliação Nacional – e também pelo Presidente da República, é dedicada “…aos heróis da Pátria e a todos os que contribuíram para a independência nacional, a paz e o progresso de Angola.”
Esta “Bandeira-Monumento” com 18 metros de comprimento e 12 de largura, inaugurado na mesma data que o Museu, a 4 de Abril –Dia da Paz e Reconciliação Nacional – e também pelo Presidente da República, é dedicada “…aos heróis da Pátria e a todos os que contribuíram para a independência nacional, a paz e o progresso de Angola.”
O Dia da Paz que é
feriado em Angola, foi estabelecido em 2002, representando o fim do conflito
armado e a reconciliação nacional, na sequência da morte de Jonas Savimbi em
Fevereiro desse ano.
Na área exterior
fronteira à fortaleza, na praça onde em 10 de Novembro de 1975 uma força
militar portuguesa dos três ramos das Forças Armadas, prestou as honras
militares no último arrear da Bandeira Portuguesa na então Província
Ultramarina de Angola, estão hoje expostas, viaturas militares de várias
origens utilizadas nos conflitos entre as forças dos três partidos políticos
angolanos que dispunham de forças militares (MPLA, FNLA e UNITA) e ainda a
República da África do Sul, peças de artilharia (muitas portuguesas) e 2 aviões
“T-6” da Força Aérea Portuguesa. Tudo muito bem recuperado e mantido.
O avião , modelo T-6, número de cauda 1668, foi originalmente
construído no Canadá (designava-se Harvard MK III), serviu na Fleet Air Arm da
britânica Royal Navy, chegou a Portugal em 1956 integrado num lote de 15 destas
aeronaves. O 1685 foi fornecido a Portugal por França em 1961, integrado num
lote de 46 “North-American T-6G”. Ambos terão servido nos Aeródromos Base n.º3
(Negage) n.º 4 (Henrique de Carvalho/Saurimo), tudo isto de acordo com Adelino
Cardoso no livro “Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX”.
As estátuas de muitas figuras históricas portuguesas que foram retiradas da cidade estão aqui em exposição e devidamente assinaladas.
Este renovado pólo
de turismo cultural de Angola, situado na Rua 17 de Setembro, Bairro dos
Coqueiros, Distrito de Ingombota, Município de Luanda, é sem dúvida um local a
visitar, direccionado que está não só para estrangeiros interessados na
História de Angola como para os nacionais que ali vêm exaltados os seus heróis
nacionais, cumprindo assim – e a Bandeira Monumento é disso mais um exemplo –
uma função educativa no sentido da criação e aprofundamento do sentimento de
pertença à nação angolana.” Fontes: Wikipedia, Operacional e outros.
Bom trabalho feito na recuperação da Fortaleza.
ResponderEliminarÉ um local de lembrança da História da Nação.
Parabéns aos que trabalharam nesta recuperação. Tudo bem feito.