segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O que é “ser arménio”?

Semana da Cultura Arménia
12 a 19 Outubro

Em Outubro, a Fundação vai dar a conhecer mais da cultura e das origens de Calouste Sarkis Gulbenkian, com música, conferências, exposições, literatura e cinema.
"Sabemos que Calouste Gulbenkian era arménio. Mas o que é “ser arménio”? De 12 a 19 de Outubro, a Fundação Calouste Gulbenkian vai dar algumas pistas para a descoberta de um povo ancestral, de uma cultura europeia do Extremo Oriente, e de um país marcado pelo encontro de religiões e pela diáspora, um país cujo património tem sido sucessivamente posto à prova através de vários conflitos.

A Semana da Cultura Arménia é uma iniciativa que envolve sobretudo o Serviço das Comunidades Arménias, mas também outros departamentos da Fundação como o CAM, a Biblioteca de Arte e o Serviço de Música, através da sua temporada. É a música, aliás, que está no centro do programa de actividades ao longo de vários dias, o público vai poder descobrir a música arménia tradicional e contemporânea, e em particular o duduk, o “oboé arménio”, muito popular na região do Cáucaso e que foi reconhecido em 2005 pela UNESCO como Património Oral e Imaterial da Humanidade.
O duduk irá ter uma forte presença no concerto de Shoghaken Ensemble (12 out, 17h), uma das mais importantes formações de música tradicional da Arménia, liderada pelo virtuoso Gevorg Dabaghyan, hoje o mais prestigiado e internacional intérprete deste instrumento de sopro milenar. O concerto de Shoghaken Ensemble integra-se na programação de Músicas do Mundo, mas o seu líder, Gevorg Dabaghyan, também participa num dos dois concertos de Música de Câmara Arménia que os Solistas da Orquestra Gulbenkian (17 out, 21h30) vão apresentar com músicos convidados. Noutro concerto de Música de Câmara Arménia (14 out, 19h) participa a soprano Manuela Moniz, no dia em que serão ouvidas obras de Komitas, Arno Babajanian e de Tigran Mansurian. O concerto será precedido por uma mesa-redonda, “Música Arménia: Passado e Presente” (14 out, 17h30, Aud. 3), em que participam a pianista arménia Marina Dellalyan e Rui Vieira Nery. Completa o programa deste dia a exibição do documentário Ar t Menia, sobre a história e a cultura arménias. Com música de Tigran Mansurian, o filme realizado por Ricardo Espírito Santo será apresentado em estreia no Grande Auditório. 
O regresso de Jordi Savall à Fundação Gulbenkian também acontece por este dias para apresentar, com o seu Hespèrion XXI e um grupo de músicos da Arménia, um repertório de música tradicional reunido sob o título Espírito da Arménia. O contexto musical e histórico deste pprojecto será apresentado pelo músico catalão num encontro de entrada livre (19 Out, 17h30, Aud. 2), moderado por Risto Nieminen, director do Serviço de Música da Fundação, em antecipação do concerto no mesmo dia de Jordi Savall, que fecha este programa.
Arménia, Portugal e o mundo
Sob a direcção de Pedro Neves, a Orquestra Gulbenkian, que integra três músicos arménios – Levon Mouradian (Violoncelo), Samuel Barsegian (Viola) e Varoujan Bartikian (Violoncelo) –, apresenta-se com Nareh Arghamanyan ao piano, em dois concertos (16 Out, 21h / 17 out, 19h), para interpretar obras de Luís Freitas Branco e Aram Khachaturian, o mais conhecido dos compositores arménios do século XX.
“A ênfase deste programa não é no tratamento dos arménios como uma entidade distinta, mas sim na sua relação com o resto do mundo, e em particular com Portugal, onde a Fundação Calouste Gulbenkian tem a sua sede”, explica Razmik Panossian, director do Serviço das Comunidades Arménias desde Fevereiro de 2013 e impulsionador desta iniciativa cultural. Assim, para além de música arménia cantada e tocada por portugueses, haverá também uma palestra pública focada nas redes comerciais arménias e portuguesas, “estabelecidas em séculos diferentes mas com dinâmicas semelhantes”, justifica Razmik Panossian. Artur Santos Silva, Presidente da Fundação Gulbenkian, fará a abertura desta Conferência Internacional.
No âmbito da Semana da Cultura Arménia, mas longe dos olhares do público, realiza-se ainda um importante seminário estratégico que reunirá em Lisboa os líderes globais da comunidade arménia. “A diáspora arménia, que é mais numerosa do que a população de nacionais na Arménia, não dispõe de um espaço onde os líderes se encontrem para discutir questões e preocupações comuns, o futuro do povo arménio”, explica o director que reconhece na Fundação Gulbenkian a única organização no mundo com capacidade para juntar todas essas pessoas. “Somos neutros, estamos acima da política, e representamos um nome de prestígio”, diz Razmik Panossian. Serão cerca de 40 personalidades arménias de todo o mundo, constituindo por isso um grupo muito representativo. “Queremos que seja uma discussão realmente aberta. Uma espécie de Davos [Fórum Económico Mundial] para a Comunidade Arménia, mas sem cobertura mediática”.

Mais do que o Senhor Cinco Porcento
A vida de Calouste Sarkis Gulbenkian, um dos mais notáveis arménios do século XX, embora discreto na mesma medida, também estará naturalmente em evidência nestas celebrações. Para além da exposição Mais do que o Senhor Cinco Por Cento: Os Primeiros Anos de Calouste Gulbenkian, que poderá ser visitada de 2 de Outubro a 3 de Novembro, realiza-se uma mesa-redonda a propósito desta mostra, com a participação de Artur Santos Silva, Presidente da Fundação, de Martin Essayan, bisneto de Calouste Gulbenkian e administrador executivo, do historiador Jonathan Conlin e ainda Ana Paula Gordo, directora da Biblioteca de Arte.
O facto de Calouste Gulbenkian trabalhar em múltiplas línguas poderá ser um dos temas lançados nesta mesa. Para além do inglês, francês, arménio, e turco, os arquivos pessoais de Calouste Gulbenkian mostram que o hábil negociador mantinha correspondentes que escreviam em língua turca otomana (turco antigo) com o alfabeto arménio. “É uma língua que não existe e muito poucas pessoas podem ler estas cartas. Eu consigo lê-las mas não consigo compreendê-las”, explica Razmik Panossian. Será certamente um dos muitos pontos de interesse que poderá desenvolver Jonathan Conlin, responsável pela biografia de Calouste Sarkis Gulbenkian, um grande projeto com publicação agendada para 2019, nos 150 anos do nascimento do fundador.
Ainda no âmbito da Semana da Cultura Arménia, realiza-se uma conferência no CAM sobre o artista americano de origem arménia Arshile Gorky, a propósito da exposição que coloca a sua obra em diálogo com a colecção do Centro de Arte Moderna, patente ao público até maio de 2015. Para falar do lugar de destaque que Gorky alcançou na história do modernismo norte-americano e da arte ocidental do século XX, a historiadora de arte Kim Theriault estará na Sala Polivalente do CAM para uma palestra.
Refira-se também que o programa desta Semana contará com a apresentação da obra Bem Hajam! – Apontamentos de Viagem à Arménia, de Vassili Grossman, numa tradução portuguesa recentemente editada pela D. Quioxote, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Com prefácio de Razmik Panossian, o livro regista as impressões e observações recolhidas durante dois meses pelo escritor, em 1961, quando esteve no país de origem de Calouste Gulbenkian. Entre descrições de locais deslumbrantes, como o monte Ararat, e relatos de conversas com homens perseguidos e comunistas convictos, Vassili Grossman pinta nesta obra um retrato de uma terra distante, sob o domínio da União Soviética, sem medo de abordar temas como o nacionalismo, os genocídios e as difíceis condições de vida de muitos arménios."

PROGRAMA
Domingo, 12 Outubro
17h - Grande Auditório
Shoghaken Ensemble
Terça, 14 Outubro
17h30 - Auditório 3
Música Arménia: Passado e Presente
Mesa-redonda / Entrada Livre
19h - Grande Auditório
Solistas da Orquestra Gulbenkian e Convidados
Entrada Livre
21h - Grande Auditório
AR t MENIA (estreia)
Filme / Entrada Livre
Quarta, 15 Outubro
14h30 – Auditório 3
Mais do que o Senhor Cinco Por Cento: Os primeiros anos de Calouste Gulbenkian
Mesa-redonda / Entrada Livre
17h30 - Auditório 3
Bem Hajam! ‒ Apontamentos de Viagem à Arménia, de Vassili Grossman
Apresentação do livro / Entrada Livre
19h - Auditório 3
Redes de Circulação e de Troca: As Comunidades Arménias, Portuguesas, Judaicas e Muçulmanas entre o Mediterrâneo e os Mares da China Meridional
Conferência Internacional
Entrada livre
Quinta, 16 Outubro
17h – CAM, Sala Polivalente
Em busca do abstracto: Imagens e Imaginação em Arshile Gorky
Conferência por Kim Theriault (EUA)
Entrada livre
21h - Grande Auditório
Orquestra Gulbenkian, Pedro Neves (maestro), Nareh Arghamanyan (piano)
Sexta, 17 Outubro
19h - Grande Auditório
Orquestra Gulbenkian, Pedro Neves (maestro), Nareh Arghamanyan (piano)
21h30 - Grande Auditório
Solistas da Orquestra Gulbenkian e Convidados
Entrada Livre
Domingo, 19 Outubro
17h30 - Auditório 2
Encontro com Jordi Savall – Música Arménia
Conferência / Entrada Livre
19h - Grande Auditório
Jordi Savall, Hespèrion XXI, Músicos da Arménia
Exposições:
Mais do que o Senhor Cinco Por Cento: Os Primeiros Anos de Calouste Gulbenkian
2 out a 3 Nov. 2014 - Átrio da Biblioteca de Arte
Curadoria: Jonathan Conlin
Arshile Gorky e a Coleção
Até 31 de Maio de 2015 - CAM
Curadoria: Isabel Carlos, Ana Vasconcelos, Leonor Nazaré e Patrícia Rosas 

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