O
Dia Internacional do Idoso é comemorado anualmente a 1 de Outubro.
Este
dia foi instituído em 1991 pela (ONU) Organização das Nações Unidas e tem como
objectivo sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento e da
necessidade de proteger e cuidar a população mais idosa.
População idosa em
Portugal
"Segundo
dados do Eurostat, Portugal será um dos países da União Europeia com maior
percentagem de idosos e menor percentagem de população activa em 2050.
O
Instituto Nacional de Estatística prevê igualmente que no ano de 2050, um terço
da população portuguesa seja idosa e quase um milhão de pessoas tenha mais de
80 anos. Estes cálculos são feitos com base na tendência de envelhecimento da
população, resultante do aumento da esperança de vida e da diminuição dos
níveis de fecundidade."
“O Papa
Francisco dedicou a homilia deste domingo ao Dia do Idoso, considerando que a chamada “cultura do descarte”, o
abandono dos mais velhos, não é nada mais do que uma «eutanásia disfarçada».
Francisco
defendeu os mais idosos, dizendo que aqueles que não têm família devem ser
acolhidos em lares, que não devem ser «prisões» mas antes verdadeiras casas,
«pulmões de humanidade.Não podem existir centros onde os anciãos vivam
esquecidos e escondidos”.
“Devem ser
santuários de humanidade onde quem é velho e débil é cuidado como um irmão mais
velho”, acrescentou.
Para o papa
Francisco, “um povo que não protege os seus avós e não os trata bem é um povo
que não tem futuro. Não tem futuro porque perde a memória e separa-se das suas
raízes”.
“Uma das
coisas mais bonitas numa família é poder acariciar uma criança e deixar-se
acariciar pelo avô ou pela avó”, disse.
“A velhice é
um tempo de graça, na qual o Senhor nos renova a sua chamada e nos diz que
transmitamos a fé, e rezemos e intercedamos por quem tem necessidades”,
expressou.
O papa
destacou que os idosos são quem tem que “transmitir a experiência da vida, a
história da família, da comunidade, de um povo e partilhar sabedoria”.
O Lugar
"Dizer-lhe
que naquele Lugar as pessoas viviam
tristes. Que eram apenas mais umas no meio de muitas mais, presentes e vindouras em constante rotação. Que Genoveva
era o terno anjo da morte . Inacreditável. Um autêntico “nonsense” .
Dizer-lhe
para quê? Não fora ele o mais amado entre os muito amados? O delfim que sempre a
acompanhara até ser atacado pela cegueira do tempo. Dizer-lhe o quê? Que ali se morria em cada dia. Que ali
havia a imagem do aviltamento no rosto
de cada um, marginalizado por
filhos mil.
Dizer-lhe
que nada era tão doloroso como a rejeição, como a insensibilidade da imposição
que converte gente inteira, lúcida e enraizada em sem-abrigo de casa alheia.
Era isso que via naqueles olhos. Ali, não era a casa da vida que cada um
vivera. Ali, era a ausência de casa. Era apenas o tecto dos sem-abrigo, dos espoliados.
Daqueles a quem fora arrancado o maior vínculo à vida – a pertença, o espaço, a
individualidade . As raízes e os laços que os ligam e os situam num espaço próprio - o de cada um.
Ali,
era o espaço de todos e de ninguém. Um espaço vinculativo à condição de
hóspede, mas que não vinculava a pessoa que cada um trazia em si. E isso nem
Marito, nem os filhos destes pais souberam e saberiam entender.(...)
Claro,
que não precisava de nada. Deixara de precisar havia muito tempo. Estava numa
situação de nítida vantagem em relação aos outros hóspedes – há muito que era
uma sem-abrigo.
Descobrira-o quando entregara a sua casa a este
filho. E ali, no Lugar, tinha acabado a diáspora. O abandono já era um
fiel companheiro. Nada mais havia para descobrir, pois até o esquecimento
o vinha já antevendo. Mas isso não a tinha derrotado, nem nunca a derrotaria.(...)
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E
o tempo ia passando e nem sempre as descobertas que se apresentavam eram
aprazíveis. As mais recentes eram terrivelmente tristes, confrangedoras. E o
pior é que apareciam sem que alguém as procurasse.
Naquele
dia, falecera a companheira de quarto, Susana Teles Galvão, que sofria de
coração. A morte apanhara-a pela manhã, enquanto dormitava.
Desde
que chegara ao Lugar, já tinham falecido quatro hóspedes e outros tantos os haviam substituído.
Agora
tinha chegado bem perto, no quarto partilhado. Mal tivera oportunidade de
conhecer Susana Galvão, mas ela estivera sempre ali, respirando irregularmente,
mas viva.
E
era assim o processo vida/morte na nudez total. Um processo rude que ali se
expunha “ nu e cru” (...)
Carlos
Lacerda fora Embaixador por esse mundo fora. Viajara muito e tivera
oportunidade de conhecer as estruturas sociais de diversos países. Ficara
fascinado com uma organização que vira na Suécia. Uma sociedade de amigos
projectara uma residência comum para
poderem partilhar logo que abandonassem a vida activa , ou seja logo que
se reformassem. E à medida que o
tempo passava o número de amigos
residentes ia aumentando. A residência estava implantada também numa grande propriedade e
usufruía de todos os serviços de apoio
necessários que a guindavam a um nível
elevado de qualidade. Visitara - a
várias vezes, pois alguns amigos
viviam lá. Ficara surpreendido com o ambiente feliz e calmo que encontrou. E
foi assim que começou a cogitar a ideia de fazer da sua propriedade uma
residência partilhada, já que habitualmente também a partilhava com os amigos.
Quando
aconteceu aquela tragédia com a Emília teve a certeza de que era esse o caminho
a seguir. Então, faria a doação salvaguardando os amigos que já viviam no Lugar
para que não fosse alterado o seu “ modus vivendi “ . Foram, posteriormente, feitas várias obras de
adaptação, sem contudo se perder a traça da mansão.
O
que não tinha sido previsto, nem sequer imaginado , era a tristeza apática que se abatia sobre estes
hóspedes que ele não conhecia. Não era possível encher a mansão só de amigos
como acontecera na Suécia. E a ideia de uma família partilhada fora apenas
utopia.
No
entanto, jamais ocorrera a Carlos Lacerda que seria possível internar pessoas
sem que elas o desejassem ou até sem que elas interviessem nessa decisão.
Arrancá-las da sua própria casa e largá-las naquela instituição era uma
violentação abominável. E fazê-lo em nome de melhor qualidade de vida era uma
mentira hedionda. Ninguém tem qualidade de vida quando é anulado, derrotado,
despojado das suas referências. E aqueles hóspedes calados, adormecidos,
fantasmas de si próprios eram as vítimas trágicas daqueles que os consideraram
incapacitados e que, com infindáveis razões, tentavam justificar a falta de
tempo para os apoiar. Assim, tal como uma mercadoria excedentária convinha armazená-los. Era só e tão só assim.
E
isso nunca Carlos Lacerda previra. E isso ia martirizando-o. E por mais que
tentasse contrariar esta situação, era impossível dar alento a quem já não o
queria. E o mais grave era que a maioria destes hóspedes acabava por descobrir
que além de abandonada passava a ser
esquecida para sempre. A pouco e pouco as visitas acabavam e só na hora da
morte e porque eram avisados , voltavam
a lembrar-se da mercadoria armazenada.
Fora
uma terrível descoberta. E conviver com essa tristeza que enchia o olhar dos
outros hóspedes era uma dor imensa para o casal. Assim, sempre que entrava um
novo hóspede tentavam evitar que se demitisse de viver.
A diferença era marcada pela opção de cada um
quanto ao internamento. Aqueles que tinham decidido livremente instalar-se no
Lugar; aqueles que tinham sido consultados sobre a possibilidade de aí
residirem; e, ainda, aqueles que tinham há muito perdido as raízes, deambulando
de casa em casa: esses, aceitavam a entrada no Lugar. Esses, eram os que
sorriam. Esses, eram os homens e as mulheres
que resistem ao tempo, apenas envelhecem com ele. Esses dispunham-se ainda a
ser a tal família partilhada.» Maria José Vieira de Sousa, in " O Lugar, memórias de um romance". Junho de 2008
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