A minha intenção
se a tivesse
Era interromper de vez em quando as vossas falas
E fazer-vos voltar a cabeça silenciosos
Na única direcção em que os versos existem
Alberto de Lacerda, in “Poemas Portugueses, Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI”, Porto Editora
To
Night
Esta noite vou embebedar os meus
navios
Rasgar os meus poemas
e as minhas raras (raríssimas)
Cartas de amor
Esta noite vou ser horrível
Pior do que o costume
Vou desabobadar os céus da minha
esperança
Viga por viga, estrela por estrela
Esta noite vou embebedar os meus
navios
Vou deixar de falar a imensa gente
Vou encontrar um sábio chinês
Que me recitará poemas muito simples
Insuportáveis de tão belos
Esta noite vou destruir mapas antigos
Abrir certas janelas e quebrar
A possibilidade de alguém mais entrar
na minha vida
Esta noite vou pedir perdão aos meus
amigos
E escrever uma última carta sem a mínima
sombra de sentimentalismo
Esta noite vou embebedar os meus
navios
Alberto de Lacerda, in “ Antologia da
Poesia Portuguesa Contemporânea, Um Panorama”,organização de Alberto da Costa e
Silva e Alexei Bueno, Lacerda Editores
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