“
Muda-se pouco a vida, mas a vida muda
por nós. “ Eduardo
Lourenço
"Morreu este domingo à tarde em Lisboa,
aos 85 anos, Annie Salomon de Faria, casada com Eduardo Lourenço. Tradutora
dos ensaios publicados em francês pelo autor de O Labirinto da Saudade, como Montaigne
ou la Vie Écrite ou L’Europe
Introuvable, entre muitos outros, teve um papel determinante na divulgação
da obra de Eduardo Lourenço em França.
Nascida em Côte du Nord, na Bretanha
francesa, no dia 11 de Agosto de 1928, fez os estudos primários em Rennes,
licenciou-se na Faculdade de Bordéus em Línguas Hispânicas e aí passou o
concurso de agregação em 1955.
No ano anterior casara-se com Eduardo
Lourenço e, acompanhando o percurso profissional do marido, foi professora nos
Liceus de Montpellier e Grenoble. Em 1964 foi convidada para assistente da
Faculdade de Letras de Nice, onde veio a terminar a sua carreira académica como
maître de conférences, tendo-se
jubilado em 1988.
(…)Pouquíssimo dada a intervenções
públicas, Annie Salomon abriu uma excepção para participar na inauguração desta
biblioteca,(Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, na Guarda) em Novembro de 2008. Observando que a sua formação universitária
parecia destiná-la a dedicar-se ao mundo hispânico, explicou então que essa era
“uma previsão demasiado lógica”, que “ignorava o papel do destino que levou um
jovem português a cruzar o [seu] caminho na Universidade de Bordéus”.
Esse Eduardo Lourenço acabado de
aterrar em Bordéus no final dos anos 40 descreveu-o Annie a quem a ouviu na
Guarda, 60 anos mais tarde, como um “filósofo” que “falava mal francês”, mas
que nem por isso deixava de “intervir com veemência nos debates de vários
círculos culturais da cidade”. E que “era fascinante”. A tal ponto que um dia,
contou, atreveu-se a dizer-lhe: “Vous êtes un bavard sympathique.” E concluiu:
“Uma frase fatal, que selou o meu destino: casei-me com Eduardo Lourenço em
1954.”
E à medida que ia descobrindo através
do marido a cultura portuguesa e, mais tarde, a brasileira, tornou-se também a
sua interlocutora natural. “Chegou a ser mesmo um verdadeiro partage, em
momentos privilegiados de cumplicidade e identidade”, recordou Annie,
acrescentando que “sentia isso particularmente quando traduzia os seus livros”.
Terça-feira será realizada uma missa
de corpo presente às 15h30 na Igreja de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa. A
esta altura, ainda não há informação sobre o local onde se irá realizar o
funeral.” Luís Miguel Queirós, Público,1/12/13
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