Verdi nasceu no dia 10 de Outubro de 1813, em Roncole Verdi, Italia. A sua obra está viva e ouve-se no mundo inteiro. Ganhou a intemporalidade a que só os génios têm acesso.
Final da Cena da ópera Nabucco de Giuseppe Verdi, a morte de Abigaille . Metropolitan Opera 2001. Maria Guleghina (Abigaille), Samuel Ramey (Zaccaria), Juan Pons (Nabucco) e o Maestro James Levine .
No dia do bicentenário vai ouvir-se mundo fora: "Viva Verdi!"
"A Itália celebra esta quinta-feira um dos seus maiores ícones, o resto do mundo festeja o compositor mais representado nas salas de ópera
Arturo Toscanini dirigiu um imenso conjunto de músicos recrutados nas orquestras de toda a Itália e 300 mil pessoas, ou seja, mais de metade dos habitantes de Milão à época, saíram à rua para lhe prestar a última homenagem. A 27 de Janeiro de 1901, aos 87 anos, morrera Giuseppe Verdi. Verdi, o mais célebre compositor italiano, ícone do Romantismo lado a lado com o seu grande rival Wagner. Precisamente duzentos anos depois do seu nascimento na pequena vila de La Roncola, nas proximidades de Busseto, a cidade da província de Parma para onde se mudou na infância, não se desvaneceu a celebridade que motivou tamanha homenagem aquando da sua morte.
Verdi é o compositor mais apresentado nas salas de ópera mundo fora e é certamente um dos que mais melodias inscreveu na memória popular colectiva – melómanos ou não, todos sabem trautear as passagens mais representativas de árias de Aida, Rigoletto ou La Traviata, três das suas óperas mais famosas. Tão presente se manteve ao longo dos anos que Roger Parker, professor no King’s College, em Londres, perguntava em artigo publicado no site Musicology Now se a melhor forma de o celebrar não seria “tentar esquecê-lo durante um tempo”. Esquecê-lo, explicava, para que fosse possível “recriar a sensação de novo que os seus trabalhos suscitaram em tempos”. Exercício obviamente impossível. Para os italianos, no geral, e para os habitantes de Busseto, em particular, um exercício a roçar a heresia.
Como esquecer quem já está inscrito no código genético de um povo? “É graças a ele que o nosso país é conhecido no mundo inteiro”, declarava terça-feira à AFP um habitante de Busseto, a cidade que, através do patrocínio de um dos seus habitantes, Antonio Barezzi (benfeitor melómano que financiou os estudos do jovem Verdi em Milão), permitiu ao compositor ser mais do que um professor de música anónimo.
O monumental Verdi das óperas de exaltação, grande intensidade dramática e apelo popular (escrevia há dias Manuel Rodríguez Rivero, no El País, que a sua música procurava “consolar o homem, mais que transformá-lo”, como a de Wagner), continuou depois da glória e da celebridade a ter na pequena localidade no norte de Itália a residência mais estimada. “É por isso que para nós, habitantes de Busseto, [Verdi] é mais que um génio da música”, afirmava outro habitante ouvido pela AFP. “É antes de mais um de nós, está vivo, sempre vivo.”
Essa sensação de pertença alarga-se, obviamente a toda a Itália. Verdi, o filho de uma família modesta que representaria todo um povo (a sua música foi a banda sonora do “Risorgimento”, o movimento que conduziu à unificação da Itália, concluída em 1870), é um dos grandes ícones do país. O bicentenário do seu nascimento é, portanto, data a assinalar devidamente. Mesmo se, em tempos de crise financeira e austeridade generalizada, as celebrações não têm a pompa que se esperaria.
Em Busseto, os festejos atravessarão todo o dia e atingirão o momento alto às 20h30 locais com a apresentação de Falstaff no Teatro Verdi, encenado (e interpretado) pelo septuagenário Renato Bruson, um dos históricos intérpretes do compositor, e Marina Bianchi. Parma, cidade que organiza todos os anos em Outubro um festival Verdi, programa para o dia do bicentenário um concerto com excertos de Aida, MacBeth, Otello e La Forza Del Destino. Terá Francesco Ivan Ciampa a dirigir a Filarmónica Arturo Toscanini, o Coro del Teatro Regio e seis solistas. Em Milão, por sua vez, o Scala terá portas abertas entre as 10h e as 18h, tal como o seu museu teatral, onde está patente a exposição 1913-2013 – Um tesouro centenário. No Auditorium di Milano, no Largo Mahler, casa da Orquestra La Verdi, inicia-se às 20h30 um concerto que passará por todas as fases criativas de Verdi, desde a primeira ópera, Oberto, estreada originalmente em 1839, até Otello, a penúltima (1887), passando pela inevitável Aida (1871).
Mas se, já em vida, a importância de Verdi e a influência da sua música extravasou largamente as fronteiras italianas, é hoje consensual o seu estatuto enquanto figura mundial. Esta quinta-feira, data do seu bicentenário, será, portanto, celebrada globalmente. Em Barcelona, por exemplo, o Gran Teatre del Liceu, continuará a temporada dedicada à obra de Verdi iniciada a 6 de Outubro (prolonga-se até dia 21). Atravessando o Atlântico, descobre-se em Holguín, Cuba, o maestro italiano Walter Themel a dirigir um concerto dedicado ao compositor no Teatro Eddy Suñol. E um pouco mais a oeste, já nos Estados Unidos, em Chicago, terá lugar um acontecimento verdadeiramente global das celebrações do bicentenário. No Millenium Park, Riccardo Mutti dirige a Chicago Symphony Orchestra no Requiem (1874), num concerto que será transmitido em directo, a partir das 19h30 locais (2h30 portuguesas), através do site da orquestra.
"Viva Verdi!", gritavam os revolucionários italianos lutando pela unificação do país. O nome do compositor era então usado como acrónimo de "Viva Vittorio Emanuele Re D'Italia" ["Viva Victor Emanuel Rei de Itália"]. Hoje pode ser usado sem duplo sentido. "Viva Verdi!", simplesmente.". Mário Lopes, Público, 10/10/2013
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