Sítio Exacto
Sei que não
acaba
o teu prazer,
nem o meu.
Alguém
ama connosco
e nos leva
ao sítio exacto
das estações.
Nem o sono
depois nos pertence,
quinhão de outros
herdado após amarem.
o teu prazer,
nem o meu.
Alguém
ama connosco
e nos leva
ao sítio exacto
das estações.
Nem o sono
depois nos pertence,
quinhão de outros
herdado após amarem.
António Osório, “O Lugar do Amor'”, in “A Luz Fraterna”, Ed.
Assírio &Alvim
Na luz a prumo
Se as mãos
pudessem (as tuas,
as minhas)
rasgar o nevoeiro,
entrar na luz
a prumo.
Se a voz
viesse. Não uma qualquer:
a tua, e na
manhã voasse.
E de júbilo cantasse.
Com as tuas
mãos, e as minhas,
pudesse
entrar no azul, qualquer
azul: o do
mar,
o do céu, o
da rasteirinha canção
de água
corrente. E com elas subisse.
(A ave, as
mãos, a voz.)
E fossem
chama. Quase.
Eugénio de
Andrade,in “ Os sulcos da sede”, Quasi Edições
... E UMA CANÇÃO
DESESPERADA
...não
totalmente,
mas no
inveterado fingimento
que o
adjectivo tem.
E de inverno
em inverno,
à reticência
azul do teu sorriso
todos
os dias
desço
Queria da
vida:
um pêlo de
gigante
que te
fizesse enorme e te falasse
junto a voz
falada
Os meus dedos
tocando
o teu
sorriso,
que, de
inverno em inverno,
é nave
espacial
emergindo do
gelo
para o sol
E eu ficar
por ali: tão encostada
ao verso,
carregada de
luz
e de outras
coisas:
trabalhos a
fazer, ritmos lentos
Sem grandes
construções,
sem grandes
falas,
mas de um
pêlo solene de dragão,
e dentro da
palavra que é imposta
por esta
noite morna,
que me ajuda
a compor-te,
que me ajuda
de facto
a desesperar:
uma canção de
amor.
Descer o teu
sorriso e aterrar
em planeta
diferente,
onde outras
flores com outro nome
nascem,
e as estações
são vinte, ou mais
-
sensivelmente.
Ana Luísa
Amaral, in “Imagias”, Lisboa, Gótica, 2002
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