sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Óscar Niemeyer


"O arquitecto brasileiro Oscar Niemeyer, que morreu  quarta-feira (5) aos 104 anos, foi um dos profissionais mais premiados e influentes do mundo.
O seu trabalho, sempre cheio de curvas em concreto que tornavam o seu estilo inconfundível, marcou a paisagem urbana do Brasil e de outros países.
Nasceu no Rio Janeiro a 15 de Dezembro de 1907. Desde criança que gostava de desenhar e muito cedo decidiu estudar Arquitectura. Trabalhou com Lucio Costa . O seu primeiro projecto individual a ser construído foi a Obra do Berço, em 1937, no Rio de Janeiro - um edifício nitidamente influenciado por Le Courbusier. Em 1940, Niemeyer conheceu Juscelino Kubitschek, na altura prefeito de Belo Horizonte. A seu pedido, planeou o conjunto arquitectónico de Pampulha (1943). Foi com esse projecto que "o mundo clareou". "Defendo uma arquitectura diferente. Acho que a arquitectura não basta servir bem ao homem. Ela tem de ser bonita e, para ser bonita, tem que ser diferente, tem que criar surpresa, espanto. Tem de ser audaciosa. De modo que adoptei um trabalho que é uma invenção."
Essa obra foi importante também pela relação que estabeleceu com Kubitchek, eleito em 1956 presidente do Brasil com o plano ambicioso de construir uma nova capital numa região despovoada no centro do país. E convidou para essa empreitada Niemeyer. O edifício do Congresso e o Palácio do Planalto são alguns dos projectos que exemplificam bem o estilo de Niemeyer. "Não é ângulo recto que me atrai, nem a linha recta, dura, inflexível, criada pelo homem", explicava. "O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo."
Ele achava que, apesar de todos os problemas que se vieram a revelar mais tarde, Brasília tinha valido a pena: "Brasília deu certo, era isso que JK queria, levar o progresso para o interior." "É uma cidade muito calma, muito tranquila." Mas a sua cidade preferida continuava a ser o Rio de Janeiro: "Eu gosto mesmo é do Rio. Do Rio da praia, dos amigos, de olhar para o mar, de sentir que a natureza é fantástica."
Com um passado ligado ao Partido Comunista, Niemeyer não escondia a sua admiração por Lula. Numa entrevista no ano passado, dizia: "Continuo a defender a mensagem básica que é possível reconhecer nos escritos de Marx - a sua confiança no advento de uma sociedade mais justa e mais fraterna. Aprecio muito a coragem política e a capacidade de resistência ao imperialismo dos EUA de líder como Fidel, em primeiro, e Chávez. Não sou cientista político, portanto, não posso avaliar 'tecnicamente' o grau de eficácia do modelo político adoptado na Venezuela e na China."

Aos 95 anos começou a estudar filosofia. Niemeyer faleceu às 21:55 horas de quarta-feira (23:55 em Lisboa), aos 104 anos

Um pouco por todo o mundo, registaram-se muitas reacções à sua morte tais como:
"Neste momento, não posso deixar de recordar as palavras do próprio Niemeyer que disse 'A vida é um sopro!' A vida do Arquitecto Óscar Niemeyer foi muito mais do que isso e o seu legado será para sempre reconhecido" - Cavaco Silva, Presidente da República de Portugal
"A carreira de Niemeyer foi excepcionalmente longa e ilustre, mas o que fez dele um arquitecto de excepção não foi só o seu vigor e talento. Ele incutiu ao seu trabalho um poderoso sentido de humanismo e envolvimento global" - Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU
"Na altura em que o pessoal da ONU em Nova Iorque é realojado de instalações temporárias para o seu agora renovado complexo, maravilhamo-nos de novo com a sua visão para criar um lar belo e inspirador, a partir da qual prestamos o nosso serviço para toda a humanidade" - Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU
Oscar Niemeyer é "um arquitecto e um criador que domina o século XX e o princípio do século XXI também", para além de ter sido " uma pessoa encantadora", "realizada completamente com uma vida longa" - Álvaro Siza Vieira, arquitecto português
"A preservação desta herança para as gerações futuras e fruição destes espaços singulares (...) são o mínimo que podemos fazer para honrar este legado" - Luigi Valle, administrador do grupo Pestana, detentor da única obra em Portugal com o traço de Niemeyer, o Casino Park Hotel, no Funchal
Niemeyer foi "uma das grandes figuras da arquitectura do século XX, a par de Frank Lloyd Wright, Mies van der Rohe e Le Corbusier" - Francis Rambert, director do Instituto Francês de Arquitectura em Paris

Manuel Alegre compôs um poema para  Óscar Niemeyer , após ele ter revelado  numa entrevista que tinha no seu atelier um poema dpoeta  emoldurado, a "Trova do Vento que passa". Manuel Alegre enviou-lhe o poema inspirado na obra e na pessoa do mítico arquitecto brasileiro. Alegre e Niemeyer não se ficaram por esta troca poética, ainda trocaram recordações e combinaram projectos em que ambos participariam, uma revista que o arquitecto queria editar." Fonte: Imprensa 

POEMA PARA OSCAR NIEMEYER

Gostava de estabelecer entre as palavras e o silêncio
aquelas proporções que Oscar Niemeyer consegue
entre volumes e não volumes
entre cheios e vazios.
Gostava de inventar linguagem dentro da linguagem
como Niemeyer inventa espaço dentro do espaço.
Mas como criar na escrita o nunca escrito?
Gostava meu caro Oscar Niemeyer
de pegar na caneta e fabricar um pouco de infinito
fazer com sílabas e fonemas
o que você faz com traços e com esquemas.
Mas eu não posso meu caro eu não posso ou não sei
construir uma cidade com poemas.
Tão pouco sei se Deus tem mão e se desenha
não sei sequer se existe ou simplesmente
deixou para Oscar Niemeyer
o oitavo dia da criação.
Mas é o que parece quando você faz um croqui
e depois é Brasília
uma catedral um museu uma mulher
ou uma casa em Canoas.
Com Oscar Niemeyer o Brasil é mais Brasil
o mundo se refaz se reinventa se revoluciona
contra a injustiça contra a opressão contra a fealdade.
Cada projecto seu é um acto de harmonia
traço a traço você subverte o espaço
e semeia a beleza na desordem estabelecida.
Consigo é possível a utopia
consigo a arquitectura é outra vida.
Manuel Alegre, 4/08/2003

Sem comentários:

Enviar um comentário