Aquecimento global domina cimeira do
clima das Nações Unidas
"É com o
alerta dos cientistas de que a crise ambiental está a entrar num caminho sem
retorno que começa esta Segunda-feira, em Doha, no Qatar, a mais importante
reunião anual mundial sobre o clima, a Conferência das Partes da Convenção das
Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.
A agência das
Nações Unidas para o Ambiente alertou os 194 países presentes nesta cimeira que
a falta de um acordo global até agora permitiu que a concentração de gases com
efeito de estufa na atmosfera aumentasse 20 por cento desde 2000.
Um estudo do Banco Mundial avisou que, se nada for feito, a temperatura poderá
subir 4 graus até ao final do século, com prejuízos incalculáveis para o
planeta." Arlinda Brandão, RTP, 26 Nov, 2012, 08:26
Calor extremo no Mundo
"O percentual da superfície terrestre atingido por temperaturas muito elevadas no Verão aumentou nas últimas décadas, subindo de 1% nos anos anteriores a 1980 a até 13% nos anos recentes, segundo um novo trabalho científico.
A mudança é tão drástica, diz o estudo, que os cientistas podem dizer quase que com certeza que os eventos como a onda de calor no Texas no ano passado, a da Rússia em 2010 e a da Europa em 2003 não teriam acontecido sem o aquecimento global causado pelas emissões de gases-estufa causadas pelo homem.
| Tony Gutierrez/Associated Press | |
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Policial do Texas anda em leito de lago seco em San Angelo, em Agosto de 2011, durante seca recorde |
| Mikhail Voskresensky /Reuters | |
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Homem no chão enquanto chamas consomem casa em Vyksa, na Rússia, na onda de calor extremo em 2010 |
Essas alegações, que vão além do consenso científico sobre o papel das mudanças climáticas como causa de eventos metereológicos extremos, foram feitas por James Hansen, estudioso do clima da Nasa, e dois coautores num estudo publicado na revista "PNAS" ("Proceedings of the National Academy of Sciences").
"O mais importante é olhar as estatísticas e ver que a mudança é grande demais para ser natural", afirmou Hansen em entrevista.
Os resultados provocaram uma divisão imediata entre seus colegas cientistas.
Alguns especialistas dizem que ele descobriu um jeito inteligente de entender a magnitude dos eventos climáticos extremos que as pessoas têm notado ao redor do mundo. Outros sugerem que Hansen apresentou argumentos estatísticos fracos para dar suporte a suas alegações e que o estudo tem poucas informações novas.
A divisão é característica das reacções fortes que Hansen tem causado no debate sobre as mudanças climáticas.
Como líder do Instituto Goddard de Estudos Espaciais em Manhattan, ele é um dos principais cientistas de clima da Nasa e guarda seus registos da temperatura terrestre ao longo dos anos. Mas ele também tornou-se um activista que marcha em protestos para pedir novas políticas de governo quanto à energia e ao clima.
O lado activista de Hansen, que já causou a sua prisão em quatro protestos, tornou-o um herói da esquerda americana. Mas também causou desconfiança entre os seus colegas cientistas, que temem que as suas actividades políticas estejam colocando em dúvida seus achados sobre a ciência climática.
Os chamados cépticos do clima acusam Hansen de manipular os registos de temperatura para fazer o aquecimento global parecer mais severo, mas não há provas de que ele tenha feito isso.
Há tempo que os cientistas crêem que o aquecimento da Terra no último século, especialmente após 1980, tenha sido causado pela queima de combustíveis fósseis. Mas ainda não há certeza sobre se é possível atribuir a essa acção humana a ocorrência de eventos extremos como ondas de calor ou tempestades.
No novo estudo, Hansen compara o clima de 1951 a 1980, antes do "grosso" do aquecimento global, com os anos de 1981 a 2011.
Ele e a sua equipa calcularam quanto da superfície terrestre em cada período foi submetida em Junho Julho e Agosto (verão no hemisfério norte) a climas extremos. Entre 1951 e 1980, só 0,2% da Terra foi atingido por calor extremo no verão. Mas de 2006 a 2011, o calor extremo cobriu de 4% a 13% do mundo.
"Isso confirma as suspeitas das pessoas de que coisas estão acontecendo com o clima. Só vai piorar", disse Hansen.
As descobertas levaram a sua equipa a dizer que as ondas de calor e a seca dos últimos anos são consequência directa da mudança climática. Os autores não deram provas cabais desse processo, mas sim um argumento circunstancial de que só aquecimento pode ser a causa desses eventos extremos.
Andrew Weaver, cientistas do clima na Universidade de Victoria, no Canadá, comparou o aquecimento recente a surtos de sarampo pipocando em lugares diferentes. Como com a epidemia, disse ele, faz sentido suspeitar de uma causa comum.
Outros cientistas não concordam. Claudia Tebaldi, da organização Climate Central, diz que os achados do trabalho não são novos e que a atribuição de ondas de calor específicas ao aquecimento global não tem base sólida.
Martin Hoerling, pesquisador no National Oceanic and Atmospheric Administration dos EUA, diz que compartilha a preocupação de Hansen mas que ele está exagerando a conexão entre o aquecimento global e eventos específicos.
Hoerling publicou um estudo sugerindo que a onda de calor russa de 2010 foi consequência de variações naturais do clima. Num novo artigo, ele diz que a seca no Texas em 2011 também teve causas naturais.
O pesquisador diz que o trabalho de Hansen confunde seca, causada por falta de chuva, com ondas de calor. "Este não é um trabalho científico sério. É uma percepção, como diz o título do artigo. Percepção não é ciência." Artigo do "New York Times", publicado na "Folha de S.Paulo", Agosto de 2012