«O sentimento do direito, a satisfação
de ter razão, a alegria de nos estimarmos a nós próprios, são, caro senhor,
molas poderosas para nos suster de pé ou nos fazer avançar. Pelo contrário,
privar disso os homens é transformá-los em cães raivosos. Quantos crimes
cometidos simplesmente porque o seu autor não podia suportar estar em erro!
Conheci em tempos um industrial que tinha uma mulher perfeita, por todos
admirada e que, no entanto, ele enganava. Este homem ficava literalmente
raivoso ao descobrir-se culpado, na impossibilidade de receber ou de passar a
si próprio uma certidão de virtude. Quanto mais a mulher se mostrava perfeita,
mais ele se enraivecia. Finalmente, o seu erro tornou-se-lhe insuportável. Que
pensa que fez então? Deixou de a enganar? Não. Matou-a.»
Albert Camus,
in «A Queda», Editora Livros do Brasil
Por razões várias e sem que nenhuma seja razão para, a violência sobre o outro exerce-se num crescendo assustador. Quando são apresentadas as estatísticas anuais, a consciência da barbárie é imposta através de casos concretos. Os números são uma chaga que persiste e traduz não só o sofrimento da agressão como a morte da vítima.
Este ano, a APAV já anunciou a Campanha contra a violência sobre as mulheres. O dia 25 Novembro é o Dia
Internacional para a Erradicação da Violência Contra a Mulher e será celebrado nessa Campanha.
Violência doméstica matou mais de 30
mulheres este ano
A frase “Até que a morte nos separe”,
remete “para a existência de um crescente número de mulheres vítimas de violência
doméstica que são assassinadas pelos seus maridos ou companheiros conjugais”. APAV
O número de
mulheres assassinadas este ano vítimas de violência doméstica já é superior ao
total do ano passado. O Observatório de Mulheres Assassinadas da UMAR – União
de Mulheres Alternativa e Resposta revela que até 15 de Setembro foram
assassinadas 33 mulheres, mais seis do que durante o ano de 2011. A Comissão
para a Igualdade do Género lança hoje uma campanha contra a violência doméstica
que pretende chamar a atenção para os efeitos negativos nas crianças que
assistem a actos de violência contra as mães.
Dos 64 casos
de violência doméstica, de que a UMAR teve
conhecimento, 33 terminaram com a morte da vítima, mais seis do que as
registadas durante os doze meses de 2011.
“Já estamos no maior número. Vai ser um ano trágico”, salientou Maria José
Magalhães da UMAR em declarações à Antena 1.
Para a presidente da União de Mulheres Alternativa e Resposta a crise económica
que o país atravessa tem revelado um agravamento do fenómeno de violência
doméstica.
“A crise apresenta dois factores de agravamento do fenómeno da violência
doméstica: por um lado, o agravamento da severidade dos actos, das agressões, e
o aumento da frequência. Por outro, a falta de esperança das vítimas nesta
situação. As vítimas não acreditam que possam reconstruir as suas vidas”,
frisou.
“Nós podemos ver que a diminuição das denúncias significa o aumento destes
casos mais graves e letais de tentativas”, acrescentou.
No entanto, Maria José Magalhães frisa que a “crise não aumenta a violência
doméstica. Quem não era agressor não é com a crise que vai ficar. Há muitas
pessoas desempregadas, muitos homens desempregados que não se tornam agressores
por causa da crise. Agora o que é fundamental, até pelas condições económicas
do país, é uma mudança das políticas sociais”.
“Até que a morte nos separe”
A Associação
Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) também se associa à celebração do Dia
Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra as
Mulheres lançando uma nova campanha de sensibilização contra a violência contra
as mulheres.
“As imagens
veiculadas nesta campanha implicam uma reflexão sobre os contrates existentes
nesta problemática, os quais podem toldar a sua visibilidade social”, afirma a
APAV no seu site.
A campanha
inclui “dois retratos de mulheres vítimas de violência doméstica, as quais
apresentam marcas de vitimização no rosto e no pescoço. Estas mulheres estão
vestidas de noiva, segurando um ramo de flores e ostentando o anel de noivado e
a aliança de casamento”.
Segundo a
APAV, a frase “Até que a morte nos separe”, remete “para a existência de um
crescente número de mulheres vítimas de violência doméstica que são
assassinadas pelos seus maridos ou companheiros conjugais”.
A campanha da
Associação Portuguesa de Apoio à Vítima arranca esta semana com anúncios na
imprensa, mupis e o lançamento de um novo site sobre violência doméstica (www.apav.pt/vd) e será
acompanhada, numa segunda fase, com um spot que será exibido nos canais RTP,
SIC e FOX até 28 de Novembro “ Cristina Sambado, RTP, 23
Nov, 2012
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