Amazónia
"Antes da pátria, eras úmida promessa...
semente primordial
árvore mãe
planta continental
arvoredo, floresta, selva palpitante.
Hoje canto tua estatura
vertical
o mogno gigantesco, seu
colossal diâmetro
canto essa caudalosa
geografia
essa multidão de vidas que
sustentas
canto o itinerário sazonal
da seiva
e essa infinita linfa...
parto de infinitas
criaturas.
Canto teu verde planetário
e no teu imenso respirar,
canto o nosso pão de
oxigênio...
Canto a ti... Amazônia
bosque inquietante da
esperança...
e eis porque denuncio esse machado cruel
sobre teu peito...
essa fruta milenar, dia a
dia devorada.(...)"
Curitiba,Abril 2006, Manoel de Andrade, in "Cantares", Ed. Escrituras, S.Paulo
Desflorestação
da Amazónia cai para novo mínimo histórico
“O ritmo de desflorestação da Amazónia caiu
76% desde 2005. Área destruída no último ano equivale à do pior ano de
incêndios florestais em Portugal.
A
desflorestação da Amazónia baixou para o seu menor nível desde 1988, quando
começou a ser feita uma monitorização regular por satélites. A superfície
destruída entre Agosto de 2011 e Julho de 2012 foi de 4656 quilómetros
quadrados, o que equivale aproximadamente à área ardida em Portugal em 2003, o
pior ano de incêndios florestais no país.
Houve uma
redução de 27% em relação ao ano anterior, em que o abate de árvores tinha
também chegado a um recorde mínimo, 6418 quilómetros quadrados.
Os dados
oficiais foram divulgados terça-feira pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), a agência brasileira que acompanha a evolução da
desflorestação da Amazónia a partir de imagens de satélites. O INPE possui dois
sistemas de monitorização: o DETER, que dá uma imagem mais imediata ao longo do
ano, de modo a detectar sinais de alerta, e o PRODES, que faz um retrato mais
detalhado no final de cada época. Os números agora divulgados são os do PRODES.
Os resultados
surgem num momento em que a comunidade internacional discute novos passos a dar
na luta contra o aquecimento global, na conferência climática anual das Nações
Unidas, em Doha, Qatar. “Ouso dizer que esta é a única boa notícia ambiental
que o planeta teve neste ano do ponto de vista de mudanças do clima”, disse a
ministra brasileira do Ambiente, Izabella Teixeira, ao apresentar os resultados
em Brasília.
Há três anos,
o Brasil assumiu o compromisso voluntário de reduzir em 36% o aumento das suas
emissões de CO2 até 2020, em comparação o que seria expectável. Uma grande
fatia deste esforço seria, nos planos do Governo, atingida com uma descida de
80% do nível de desflorestação, em relação a 2005. Neste momento, já houve uma
redução de 76%.
“Podemos
mostrar em Doha que estamos a fazer a nossa parte para reduzir emissões”,
continuou Izabella Teixeira. “O mundo deve encontrar urgentemente uma solução
para a questão das alterações climáticas”, acrescentou.
Cultura da soja
Nem tudo são,
porém, boas notícias. Apesar da diminuição da área desflorestada em geral,
houve um aumento em três dos nove estados brasileiros da chamada Amazónia
legal: Acre (10% ), Amazonas (29%) e Tocantins (33%). Já nos estados onde a
floresta está a desaparecer em maior superfície, houve grandes descidas. No
Mato Grosso e no Pará, que representam metade da área desflorestada em 2011/12
e dois terços desde 1988, o ritmo abrandou 31% e 44% respectivamente. É
sobretudo nestes estados, e também em Rondónia, que a cultura da soja mais tem
avançado sobre a floresta nas últimas duas décadas.
O ritmo de
destruição da Amazónia tem vindo a cair desde 2004, quando desapareceram quase
28 mil quilómetros quadrados da mancha florestal.
Dados mais
recentes, já do terceiro trimestre de 2012, lançaram a preocupação de que
esteja a haver uma nova subida. Entre Agosto e Outubro de 2012, as árvores
desapareceram de 1152 quilómetros quadrados, um aumento de 125% em relação ao
mesmo período de 2011, segundo a organização não-governamental Imazon, que tem o
seu próprio sistema de monitorização.” Por
Ricardo
Garcia, in “ Público, 28/11/2012
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