sexta-feira, 16 de novembro de 2012

90º Aniversário de Saramago



“À aldeia chamam-lhe Azinhaga, está naquele lugar por assim dizer desde os alvores da nacionalidade ( já tinha foral no século décimo terceiro) mas dessa estupenda veterania nada ficou, salvo o rio que lhe passa mesmo ao lado(…).
Foi nestes lugares que vim ao mundo, foi daqui, quando ainda não tinha dois anos, que meus pais, migrantes empurrados pela necessidade, me levaram para Lisboa, para outros modos de sentir, pensar e viver, como se nascer onde eu nasci tivesse sido consequência de um equívoco do acaso , de uma casual distracção do destino, que ainda estivesse nas suas mãos emendar. Não foi assim.
(…) Durante toda a infância , e também os primeiros anos da adolescência , essa pobre e rústica aldeia (…) foi o berço onde se completou a minha gestação, a bolsa onde o pequeno marsupial se recolheu para fazer da sua pessoa , em bem e talvez em mal, o que se só  por ela própria , calada, secreta, solitária, poderia ter sido feito.”
José Saramago, in “ As Pequenas Memórias”, Ed. Caminho, 2006

A Fundação José Saramago vai celebrar hoje os 90 anos do nascimento do escritor promovendo o primeiro "Dia do Desassossego", que a entidade pretende transformar numa festa cívica e da cultura.
A programação para celebrar o 90 aniversário, desenhada pela Fundação, instalada na Casa dos Bicos, em Lisboa, pretende "desassossegar" os leitores, incentivando-os a saírem à rua com a obra "O Ano da Morte de Ricardo Reis".
Nascido em 1922, na Azinhaga, José Saramago - distinguido com o Nobel da Literatura em 1998 - viria a falecer em Lanzarote, em 2010, com 87 anos.
Para a celebração dos 90 anos de Saramago - que coincide com o 30 aniversário da edição do "Memorial do Convento" - a Fundação José Saramago organizou uma série de eventos, que começam a partir das 12:00 de hoje.
O grupo de teatro Éter vai recriar nessa altura algumas passagens do romance "Memorial do Convento", em frente à Casa dos Bicos, e Jorge Baptista da Silva cantará árias de Domenico Scarlatti, o compositor da corte de D. João V, a que a obra de Saramago se refere, num espectáculo dirigido por Vera Barbosa.
A Fundação José Saramago, que tem hoje e sábado entradas gratuitas, apela aos leitores que devem recordar e inspirar-se nas palavras do Prémio Nobel: "Escrevo para desassossegar os meus leitores".
Com esse espírito, os apreciadores da obra de Saramago, e também de Fernando Pessoa, autor de "O Livro do Desassossego", são convidados a sair à rua com as obras para ler e partilhar.
As janelas e varandas da sede da Fundação José Saramago vão estar decoradas pelo pintor José Santa Bárbara, com figuras do romance, como Blimunda, Baltazar ou frei Bartolomeu de Gusmão e, no interior, estará uma exposição de retratos do escritor, da autoria de nove ilustradores portugueses e espanhóis.
Ainda no âmbito da programação dedicada à data, excepcionalmente, o Teatro Nacional de São Carlos vai abrir as portas no ensaio geral, às 18:00 de hoje, do concerto da Orquestra Sinfónica Portuguesa e do coro do teatro, que reúne no programa o "Requiem", de Fauré, e "Sinfonia Fantástica", de Berlioz.
O sítio online Bookoffice, da Booktailors, um grupo de consultores editoriais que atribuem prémios no sector, associa-se às comemorações dos 90 anos do nascimento de Saramago publicando um conjunto de conteúdos para "homenagear o legado do único autor português galardoado com o prémio Nobel de Literatura".
Lusa

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